sexta-feira, 27 de abril de 2012

Meus versos usam tuas asas

Nem em sonho, Anjo e cariño meu,
Não me faltes

A vida deste poeta já é miserável
E sem tua presença
Esvoaçante sobre o peso dos meus dias
Nada ganhará leve densidade
Na fina linha do papel

Meus versos usam tuas asas
Voam contigo
Fica aqui, não faltes não
Preciso de ti
Para ser poesia
E esquecer a brutalidade
De nosso  rijo tempo
Tão apartado do sentir.

Em ti sinto meu destino
Como sente o calmo vento
A ave que adiante parte
Em tranquila confiança
Sem temer as tempestades.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Amaste e odeias


Um dos grandes mistérios da alma humana
É essa capacidade de odiar o que já foi amado
Principalmente o amor que nos foi errado

O bom amor é semelhante ao amor ruim
Ignora defeitos
Desdenha erros
E o mal que a nós fazemos

Diferem um do outro apenas pela duração
O bom será eterno
O ruim apenas brevidade

E quando odiamos o ruim desejado
É porque não somos mais tão cegos
Somos apenas o que somos
O ego inconformado e em rancor
Contra o que não foi verdadeira
E infinitamente querido,
Incondicionalmente amado
Em plena reciprocidade.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Naquela tarde de sol, vi


Vi, moço, vi sim
E com estes olhos
Que o caruncho há de comer:

Insana, a doidinha deixou o sanatório,
Estava curada, disse o médico

E por assim ser, plena de sanidade,
Ansiosa, ela abraçou a árvore da calçada
E logo, deu um beijo no pipoqueiro
(Na boca, de língua - escândalo!)

Depois, dobrou a esquina
E parou sob as rodas do ônibus
- Uma pancada! Nossa Mãe! -

Comovido, alguém trouxe uma vela
Outro cobriu o corpo com jornal
E tudo isso
Numa louca tarde de sol
Com ipês floridos
E gente sem ter o que comentar, fofocar
Da vida bestial, bestinha, estúpida mesmo...

Sim, vi tudinho, naquela tarde
Em que tudo parecia
No mais perfeito juízo.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Cuidados com o coração


Tens aqui meu coração
Que te entrego com sinceridade.
Mas, te peço cuidados
Com os antigos estigmas
De antigas coroas de espinhos
Nele postas em calvário.
Há nele um bater fraquinho
Porque é cansado
Com tanto engano,
Com tanto açoitamento.
Ele, velhinho, de batalhas tantas,
Vive de esperanças
Que têm o teu nome.
Mas, te rogo,
Se algum dia
Quiseres outro nome,
Saudade, talvez,
Não, não digas nada a ele,
Diz adeus apenas,
Porque meu coração
Será a compreensão que chora.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Nem o vento sabe


A fortuna é como a chuva de Verão,
Dias vem e te molha, te encharca todo.
E depois vai, silêncio após o escândalo.
Mais tarde é segredo, quando virá novamente
Nem mesmo o vento sabe.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Tua esperança tem preguiça

Portaste, um dia, em teus olhos
Todas as manhãs em brilho,
Esperanças e vontades.
Hoje, essas manhãs estão esquecidas
E as esperanças bocejam em preguiça.
Teus olhos, meus Deus, teus olhos...
Teus olhos são as vontades do opaco.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Certidão de Vida

Não. Não há arrependimento
Nessa vida para quem vive
Com a calma chama no peito
Do calor de antigos abraços.

É o queimar das distantes despedidas
Avivado com a quente água dos olhos
Que nos renova a Certidão de Nascimento.

É a triste e renitente lágrima,
O combustível das saudades,
Que nos dá a Certidão de Vida.

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Ilustração: Os retirantes, Cândido Portinari

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Vadiagem


Vadiei ontem o dia todo
Em você,
Pelo seu corpo inteiro.

Foi um dia de carícias incertas.
Em você
Tantas delícias descobertas.

E aquelas horas marcadas por ais,
Em você
Vestidas de suor e quero-mais.

Hoje, no trabalho, sem remédio,
Sem você
Só posso sentir o perfume do tédio.