terça-feira, 26 de agosto de 2008

O canto das gentes

Poeta, toda vida merece um canto
De amor, de terror ou de ódio...
Às vezes, de felicidade
Ou até de contentamento.

De amor quase sempre falo
Mesmo ao amor que nada consente.

De terror grito pelos fracos
Que morrem de fome
De desamor
De tristeza
E de esquecimento.

Grito depois num canto de ódio
Aos que ferem nossas almas
E aos que fazem desses males
Os deuses de nossos tormentos.

E repito este canto todos os dias
Mantra de todo vivente
Pois quem não ama nem odeia
Pois quem não canta nem sente
É morto em vida, não é gente.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cantiga para amores assombrados



Todo adeus é de dar pena.
É um esquecer-se triste,
É um esquecer-se sem paz,
Sem contentamento.


A saudade é a alma do adeus;
Da solidão, companheira e tormento.
É ela que nos assombra
E nos põe o medo do esquecimento.

Sou feito de adeuses, arrependimentos
E assombrado por muitas saudades vivas.

Por isso, antes de dormir,
Rezo por quem conheci
No terço da saudade havida.


Depois sonho em tranqüilidade
Ao refazer a vida antiga,
Plena de quem me faz falta,
Cheia de quem me fez sentir
Num adeus triste nova tristeza, saudade.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Canção da sina encantada


Canto todo canto para tê-la,
Encanto, a meu lado.
Busco tanto tê-la minha,
Sabê-la toda na língua
Com gosto de gostosa sina.
Quero sim, você me ensina,
Amar como ama a estrada
O caminheiro.
Quero sim, você me ensina,
Amar o oceano
Como ama o marinheiro.
Canto todo canto para tê-la
Nesta canção de amor, amada.
Canto tanto para sabê-la
Dentro do peito, no coração guardada.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Noites de tempestade


E veio a tempestade...
Os trovões,
Os sons todos
Do céu furioso.
Madrugada de terra molhada.
Madrugada de almas aterrorizadas.
Madrugada em que o céu grita.
Madrugada pelo silêncio abandonada.

E veio a calma...
E as breves sonoridades d'água
São o silêncio que pinga entre os pingos d'água.
É quando volta-me a alma...
Meu coração bate triste, suave e
Minha oração se faz silêncio entre suas batidas:
É o mudo aguardar de outras madrugadas,
Sons, trovões e o terror de todas as mágoas.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Requiem para coisa finda


O inverno de 2008 é defunto
E pede flores para enfeitar
Seu túmulo cinza.
Logo, o ano será morto
E nos lembrará
O destino frio
Tão comum,
Tão escuro,
Tão defunto
Quanto este inverno findo.

Lá fora...
Deus meu, o que vai lá fora?
Venta...
Suspiros dos anos meus
Perdidos em invernos
Soltos naquilo que não mais sou eu.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A solidão de Deus

Sois Deus e só.
Ser divino é optar pela solidão.
E de vez em quando este abandono proposital carece de companhia.
Não uma só. Uma alma parece não acabar com Vossa solidão divina.
Almas precisam ser encomendadas no atacado:
Mais de duas mil na guerra da Geórgia,
Centenas de milhares em África,
Purificadas em martírios e sofrimento.
Senhor, quando aprendereis a viver só?

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um poema só

Ontem fugiu-me mais um poema.
Poemas têm este costume: fogem.
São amantes de uma noite só.
Aparecem, insinuam-se e somem.
Noutros dias, voltam,
Mas fingem não notar seus poetas
Com medo que lhes reconheçamos os defeitos.
Bobos, ignoram que somos fracos em sabê-los
E que os defeitos estão nos olhos de quem olha!
Mas um dia eles hão de voltar...
Como volta para casa a amante querida
Que de tão querida não se acreditava assim.
Hão de voltar...
Como o mar torna à praia,
Como a luz torna ao dia,
Como o sonho torna ao sono.
Estarei pronto, por certo,
Para, no peito, fundo, recebê-los,
Pois sou feito dos beijos destas amantes
Que me abandonaram na noite.
Sou feito de poemas sem tê-los.