quarta-feira, 29 de junho de 2016

O mundo sem arte

Tirai desta vida a Arte
E notai que só a pobreza do espírito resta.
Sem Arte, que mundo bruto
E sem cores nos envolveria,
Quão mais penoso seria o viver.

Em ti a vida

Em ti a vida
E isto basta
Avante. Só luta quem vive!

O amor em dúvida

Trair o amor que se tem, é colocar este amor em dúvida
Depois disso, ele nunca mais será inteiro
Será engano, será tirano, inverdade, cinzas de fogo passageiro...

Música nas palavras

Há uma música escondida nas palavras,
A qual chamamos Poesia,
Cheia de sonoridades e que nos coloca em sintonia
Com o sublime que vem do Espírito.
Arruinados são os dias dos condenados sem Poesia,
Que só conhecem a noite áspera e seus ruídos de medo
Pois, a si proíbem a macia melodia de cada amanhecer.

Na bagagem

Quando se viaja
A primeira coisa que colocamos na bagagem
É a saudade.

Não faça desfeita

Sou peão corre-mundo
Pois estar nele e não conhecê-lo
É desfeita das baitas!

O possível do impossível

Sabedoria é avançar nos anos
Sabendo que o choro é inútil
Pois se aprende a cortar caminhos
E a deixar de lado o que nos faz peso
Amando o possível do impossível
Enquanto se sorri para a morte
Nosso inexorável destino.

Os sinos

Os sinos dobram
Blém, blém, blém...
É por ti, meu bem
É por mim, meu bem
É por todos também!

Blém, blém

Os sinos dobram
Blém, blém, blém...
É por ti, meu bem
É por mim, meu bem
É por todos também!

Papo de anjo

Sim, oiço e falo com os anjos
E juro, não há doidice nisso.
Loucura, minha amiga,
É não ouvi-los!

Flores mortas

Tristes são as flores que morrem lentamente
Na geada, surradas pelo gelo do inverno
Mas para o jardineiro atencioso, as flores vivem
Pois ele sabe delas cuidar, em suas mãos
Há o calor do amor e elas vivem, sempre viverão!

Vampiro

Que inferno deve ser a tentativa de sono
Dos desonestos, dos ingratos
Daqueles que vivem do engano
E como vampiros, em seus caixões
Sonham com o sangue alheio.

Ouro e esperança

Nesta vida ouro não juntei
Carinho, pouco
Esperanças tantas, tantas!

A jude a sua sorte

Nunca levo a sério calendários
Agendas ou relógios
Instrumentos do depois
Feitos para se postergar
A viagem há tanto planejada
Férias... O carinho prometido...
Aquela declaração de amor
Sempre deixada para outro dia
Enfim, o bom que dá gosto à vida

Essa coisa são muito caras
Para deixarmos à Sorte
Esperando que o vento certo sopre

Meu tempo é o agora
O passado guarda seus mortos
E futuro à Fortuna pertence


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Verdades do urubu

A quem enganas?
Se gritas pela janela:
- Mais um dia de vida!
E o alegre urubu responde:
- Menos um! Menos um!
Por isso, vive em intensidade
Sem contar aquilo que irá,
Certamente, a todos faltar.

Poesia explicada

Hoje, na livraria, topei com o livro "Teoria da poesia concreta". Pobre poesia essa, que precisa de uma teoria para se explicar.

Pequenas e grandes mentiras

Pequenas mentiras
Envenenam o amor aos pouquinhos
Uma grande mentira
Mata-o imediatamente, em dose única.

Junho, mês quente

Ao contrário do que se prevê nos calendários
O mês de junho promete ser quente e bom
Porque nele temos fogueiras de São João
Dia de Santo Antônio, salvação das encruadas
E promessas de carícias, presentes da namorada.

A cola

Não há boa cola para porcelana ou vidro
Que lhes devolva a beleza depois de quebrados
Não há boa palavra de cura ou alívio
Para o coração ferido e falsamente cicatrizado.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Passos da bailarina


Teu rosto de porcelana
Branco, branco,
Em contínuo e belo susto.
Cabelos presos...
Andar de bailarina...
Andas pela casa
E eu nem te escuto.
Depois, em sussurros,
Falas baixinho
Do amor contido
Porém, jamais tido.
Escuto os sussurros
E imagino-te
Estancada num plié
Ou genuflexa
Em súplica de adeus
Mas, tu és teimosa
E em tendu
Alcança-me o peito
Em pêndulo
Como são
Os corações dos poetas.
Imediatamente
Afasta-me com um jeté
Rond de jambe en l'air
No rondó, rodopio
E volto a mim
És doutro mundo
E eu, desse mundo meu
Tão poesia
Teu rosto de porcelana
Branco, branco,
Em contínuo e belo susto.
Cabelos presos...
Andar de bailarina...
Andas pela casa
E eu nem te escuto.

O fogo de Lurdes


Lurdes, dei dois espirros E fiquei mui indisposto. Julguei ser gripe das bravas, Com quentura por todo corpo, Abracei-me a ti para esfriar E por pouco não peguei fogo!

Três lições para jovens jornalistas


1 - Duvide 2 - Duvide novamente 3 - Duvide sempre.

E se tudo não fosse verdade


E se tudo isso não fosse verdade E se vivêssemos numa dimensão simulada Manipulada de futuro distante Por homens-deuses-crianças entediados? Neste game dos infernos Seríamos os desgraçados títeres Num jogo horrendo, insano e débil Em que se ignoram as regras E quantos pontos nossas vidas valem.

O cemitério das artes


As artes não precisam de governos Nem submissão a ministério As artes precisam de artistas Artistas que não se vendem Diferentes daqueles que têm no mercado Das artes o cemitério.

O Sena e o Belém


O Sena transborda em Paris O Belém enche-se em Curitiba O Sena é vivo; o Belém é morto.

Bons-dias, Pedra


Se no caminho encontro uma pedra, digo: - Bons-dias, Pedra! E por outra vereda sigo. Meu medo é um dia ela me responder E na insuportável solidão das pedras, suplicar-me:: - Abraça-me, fica comigo!

Até onde atino


Certo, certo mesmo, amigo E digo até onde atino Com clareza e claridão É que deste mundo Ninguém sai vivo não Por isso, vamos trocar prosa Falar do conhecido Especular o coração Sobre essa coisa chamada amor Que é o único bem Que nos dá satisfação.

Sofro de poesia II


Sofro de poesia, cariño, Já te disse, sofro E estou cada vez pior Sonho em versos E, eles, perversos Rimam teu nome E me atazanam Até quando me escondo Em mim mesmo.

Gente que é gente

Tem gente que de tão gente Temos que agradecer a existência Erguer as mãos para o céu e gritar - Que bom ter te encontrado nesta vida!

O bom caminheiro

O bom caminheiro sabe
Que a jornada pode ser longa
E o que prestou ontem, talvez não preste mais
Assim, desfazer-se das tralhas sem serventia
Do pesado que prende a alma
É imperativo para o prosseguir
A gastar sapatos, a gastar paisagens.

Vidinha

Esta tua vidinha com tudo medido e no lugar
Com hora certa para comer e peidar
Fez fugir teu anjo-guardião, que passou por mim e gritou:
"Que tédio, esse cagão!"

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Dor no caminho

Tire tua dor do teu caminho
Que eu quero ver o teu sorriso...

Coisas arriscosas

Algumas coisas que são arriscosas neste mundo:
Dormir com a bunda de fora. Mijar contra o vento,
Namorar mulher casada com corno bravo e tanso,
Ser o próprio corno que, de bravo, se torna manso.

Abraço

Abraço, abracinho, abração
Abraço de amigo, apertado, de urso
Meu abraço vem do coração.

Tropical

Nasci sob o Trópico de Capricórnio
Linha imaginária que dividiu meu coração
Ora quente, ora frio, em dualidades
Os trópicos não admitem falsidades
Muito menos mergulhos nas mesmices.

A pipa

Voo, voo, voo...
Vou no Poema montado
Voa, voa, voa
Pipa de encantos
Voa em céu azulado.

Ostentação

Triste este nosso ignaro tempo, em que os estúpidos se acham no direito de ostentar a própria ignorância.

Sonho ateu

Um sono eterno e sem sonhos
É a pobreza do sonho ateu
Que tormento isso deve ser
Para quem não tem no peito a esperança.

Em tempo de alices

Em tempo de alices e maravilhas
É bom que se diga que, necessariamente
Antecede-se a uma vida mágica
O sonho também absurdamente mágico.
O sonho é o projeto, a vida é a sua obra.
Portanto, afasta de ti os sonhos medíocres.

Soberbo escravo

O soberbo homem que desdenha o divino dentro de si
Crê deidades outros homens e deles torna-se escravo
Esquece-se que pelo menos os divindades celestiais
Nos dão, por caridade, a faculdade de pensar
E o pensar é a nossa única e verdadeira liberdade.

O Macaco e o Sapo

O macaquinho andava muito triste pela floresta. Não estava contente consigo. Pragmático, odiava o próprio longo rabo. Ao alcançar uma alta árvore, encontrou, no topo, o macaco ancião e disse a ele que os macacos tinham algo em si de imprestável: a cauda que, para o macaquinho, não servia para nada. E apontando para o sapo que descansava perto da lagoa, disse: "Veja que magnífico é o sapo, igual a nós também pula e não tem que andar por aí, carregando coisa inútil alguma". O ancião pensou um pouco e ponderou:"Por que perdes tempo em querer mudar aquilo que é útil em ti? O sapo não se equilibra sobre as árvores para comer nem o macaco se lança no lago para sobreviver". Aos que prestaram atenção, saibam que o defeito só existe nos olhos dos invejosos e a inveja nem sempre é racional. O invejoso despreza a si e a si desama ao almejar muitas vezes o impossível. 

Paço da Liberdade

Em meus perdidos passos, preso em mim
Encanto-me com as quentes cores das flores
No frio curitibano, no Paço da Liberdade.

Caderno novo

Penso que a cada dia ganho caderno novo
Da paisagem tiro coloridos pincéis
Mesmo chorando, desenho sorrisos tantos
E desdenho da vida os desencantos
Porque no meu caderno não cabem mágoas.

O bom caminhar

Existe jeito e maneira para um bom caminhar
Nesta vida, leve apenas o necessário
Coisas ruins, não porte ou carregue
Mas o amor verdadeiro, este é suave 
Leve-o consigo, no coração, ele é sempre leve.

Tristeza que me abandonaste

Desvanecida Tristeza que me abandonaste, assim à toa
Sou poeta perdido sem te misturar ao feliz do que se deseja 
Sem tua presença, descrevo mundo falso e ideal
E desde que o mundo é mundo tu és nele, Tristeza
E como hei de escrever sobre a tarde que cai e morre?
E como hei de escrever sobre a lágrima que corre no rosto
Da mãe que vê seu filho doente e sem remédio?
Volta Tristeza, tu és do meu poema o sal, revolta e verdade.

A PANTERA

Ah, a ingratidão, esta pantera
Que vive no peito dos ingratos
E ataca os caridosos incautos!