terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Capricho do vento

Ó menina do umbigo de fora,
Do vestido curto e generoso,
O Vento tuas pernas aflora,
Sou cego, ele que é maldoso.

Curitiba cabeça e bunda

No ponto de ônibus de Curitiba é assim
Se chove tudo molha, sofrimento sem fim
Se encolhe a bunda, molha a cabeça,
Se esquenta a cabeça, esfria a bunda.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Poema profano

Sim, era para ser um poema ensolarado
Em brilho, em cor, em vida
Um poema que frequenta a igreja no Domingo
Sério como alma redimida, contrita e arrependida
Mas não, negou-se meu poema à santidade
E na primeira gota do aguaceiro, no primeiro trovão
Lembrou de ti a carne nua, da ausência de panos nas minhas vergonhas
De todos nossos pecados cometidos sob esquecidas chuvas
E nos escuros dos altares profanos.

Acerto de contas

A Morte fecha seu balanço
Nas tragédias de final de ano.

Arriscoso

Ano vai, ano vem...
E você descobrindo de boca aberta
Que viver neste tenebroso mundo
Está cada vez mais arriscoso.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Adultério

Uma das poucas coisas boas em se manter solteiro é livrar-se da tentação do adultério. Pecado quase que obrigatório neste tempo de superficialidades, em que o amor para consumo se vende nas esquinas.

Natal dos puros e dos hipócritas

Aos hipócritas: o Natal já acabou, voltem ao normal.
Aos puros de coração: o Natal é todo dia.

Natal dos finados

À medida em que se vive, 
O Natal aos poucos
Vai se tornando um Dia de Finados. 
Somos feitos de saudade.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal em alegre canto

Feliz Natal
Aos que ainda não negam n'alma o alegre espanto
Com as coisas simples
Como a semente que deixa a árvore em despedida
E cai sobre o campo e se abandona confiante ao vento
Feliz Natal
Aos que carregam n'alma o amor em alegre canto
E espalham na ventania as sementes da Esperança.

O amor dos calendários

Dizer amar nosso semelhante no Natal é fácil,
Eis o que nos pede este brevíssimo tempo de coração-mole.
Mas, amar não é isso: amar o amado nos exige continuidade perpétua.
Amor de dia marcado no calendário não é amor de verdade,
É usar por minutos o que nos é mais caro na alma e jogá-lo fora.

Natal dos pobres

É Natal, que belo dia
Vem a nós, menino Deus
Para ser o nosso guia
E dai a mão aos filhos teus

Ó Deus de misericórdia,
Ó Senhor, nos escutai
Esta vida é discórdia,
Queremos a Vossa paz.

Deus das alturas celestes,
Ó Deus, que se faz nas preces
Dos que carregam a cruz,
Dai de Vós a Vossa luz.

Sagrada seja essa Paz
E esta ceia tão vazia,
Mas, ela honesta se faz
Com a graça de Maria.

Jesus Cristo vai nascer,
A estrela já o anuncia,
A esperança vai crescer
E a noite se fará dia.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sustancia y palabra

Soy sustancia y palabra,
La unión de químicos elementos,
La vida pensada por los dioses
Que se alimentan de viento.

Mis células nunca duermen
Ni duermen mis pensamientos;
Hay horror en el robo de los electrones,
Hay temores en aquello que hago y pienso.

Mi palabra es impulso fotónico
Moldeado en ancestral gramática
De los que pasaron por la vida
Juntando primitivos gruñidos a los hechos.

Mi amor, mi odio, mi silencio,
Mi querer, mis distanciamientos
Pueden ser determinados por la eléctrica
Pulsión del corazón y su funcionamiento.

Cuando río, soy la risa de mesones discretos.
Quando hablo, soy el decir de los compuestos.
Cuando pienso, soy el pensar de los fotones.
Cuando vivo, soy de los átomos el triste gesto.



(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Quadrinha do vento

Eu sou livre como o vento
Vou pelo mundo a ventar,
Livre é o pensamento
Que o mundo vai libertar.

Aos 15 anos

Em verdade, em verdade vos digo
Aos 15 anos, os hormônios nos fazem crer
Que o amor está entre as coxas e o umbigo!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Vaso de tolo

O tolo ganhou um vaso vazio de porcelana
Enfeitado, rico, com relevos em ouro
E esperou, esperou e esperou,
Em sua longa vida vazia, do vaso uma flor.
Morreu sem entender que a inutilidade ornada,
Desprovida de conteúdo, só pode gerar o nada.

Coração a vácuo

Tinha o coração embalado
Em cintilante papel a vácuo
E vivia o mais escuro dos vazios.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Boa saudade

Boa saudade é aquela perfumada com flor de jasmim
Que do longe vem abraçada a um tempo sem fim
E que te pega assim, do nada, com inexplicável sorriso no rosto.

A ninfa química

Pobres namorados e ficantes,
Aquela estudante de Química era exagerada
Porque, bela e ninfa de corpo bem feito,
Só se contentava com um mol de beijos.

"Marvadinha"

'Marvada', 'marvadinha'
E perversa é toda paixão...
Mas, ora essa,
Que valia teria esta vida
Se fôssemos sem coração?

Louca ideia

Aquela ideia que julgaste loucura
Cometeu suicídio
Devido a tua falta de coragem.

Sois livres?

Bárbaro tempo este do pensamento barato e copiado aos outros. Não sois livres ao pensar o que os outros vos ditam. Sois escravos do pensamento alheio. A verdadeira liberdade de um homem está em justamente pensar por si, mesmo que em equívoco.

Fora da casinha

De vez em quando permita-se uma loucura. Poucos entendem a alegoria da história do gênio da lampada e por isso, vivem no absurdo do cotidiano sem pelo menos almejarem algo de novo para suas vidas. Os prodígios do gênio se fazem fora da lâmpada, ou seja, as genialidades só são possíveis fora dela, ou mais modernamente, fora da casinha. Dentro dela, nada mais do que o tédio.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Anjos da bunda-suja


Em época de Natal, lavo os olhos com água benta
Para ver o desfile desses hipócritas da caridade pública
Com suas curtas asas de anjos, santos da bunda-suja.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Apocalipse do lixo

Não, meus estimados amigos
Em verdade vos digo
O mundo não vai acabar 
No cataclismo do apocalipse
A humanidade vai desaparecer 
Apenas sufocada pelo seu próprio
Monturo de lixo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Morrer, intransitivo verbo

Das genialidades do homem
Está a palavra
Algumas fraquinhas 
De complemento, de junção
Sem vida própria
Mas que, se juntadas a outras
Causam guerras, divórcios
Reboliços, revoluções
Algumas terríveis, de falso movimento
E essas no verso são preocupantes
Pois indicam o fim
Inclusive de se dizer ou entender
Outras palavras
Morrer, por exemplo
Este intransitivo verbo
Que deveria ser
A última palavra
De todos os dicionários.