sábado, 29 de setembro de 2012

As cores do verso

Há noite de magia que não se esquece
Cheia de truques de magos invisíveis
Como essa que te colocou nua
Sobre minha alma e pele

Nua, nua, em pêlo
Pronta para ser aquecida
Porque o amor a tudo aquece

E os aromas, o teu perfume
O cheiro da tinta do teu trabalho
Faziam mágica combinação
Com as canções de Piaf.

Como é difícil aos poetas
Pintarem com finito canto
Cenas tão incendiadas
E lotadinhas do bem querer
Do gostar muito e tanto

Cariño, toma aqui todas as cores do meu verso
E me ensina a colorir a felicidade de estar contigo.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Como acalmar tempestades

Oiço em noite insone
O cair dos pingos d'água

C
   h
      o
        v
           e

Os trovões sacodem a cidade
E vejo tuas mãos no piano
Procurando notas de calmaria
Que acalmem a tempestade

Os graves e os agudos
Se misturam com a batucada
Dos plics-plics d'água

E lá fora a chuva lava os escuros
Para a manhã amanhecer em luz
Serena como uma calma sonata.



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cantada

Estou te cantando
A canção de uma vida inteira
Dessas que não se esquece a melodia
E se cantarola a letra

Estou te cantando
Como se canta nos dias de festa
A felicidade da colheita
Como se canta a poesia das flores
No início da Primavera
Como se canta a mulher desejada
Dentre as belas a que se faz mais bela.

A última queda

Tro
     pe
çou
e caiu
no vazio
de si mesmo

Q
u
e
d
a
Sem encontrar chão
         
Anjo
                c
                a
                í  
                d
                o
           E sem amparo

Viver é andar passinho por passinho
Para o escuro do último abismo
Em jornada que não aceita recuo

Enquanto em desespero caímos
Compomos em tristeza nosso próprio réquiem
Tétrica canção que encomenda defuntos
Porque morrer é a última queda da vida.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Escrevo em rosas brancas

Penso nas rosas brancas que tu gostas tanto
Suas pétalas são folhas de papel a espera de tinta
Onde escreverei de hoje para diante
Doidas mandingas para tirar-me o quebranto
Atirado-me ao espírito por velhas bruxas
Desde a esquecida e dura infância

Hei de colocar nelas algo de teu sorriso
Algo de amor que muito preciso
Porque do escurecido também se faz a alvura
Para isso é bastante um bom alvejante
Desses que limpam a alma por inteiro
E nos fazem leves e nos tornam ternos meninos

Sonhar já não posso sem te sentir no sonhado
Acompanhada das rosas brancas despetaladas
E que ganham todas as cores no cavalete
Para depois enfeitarem teu colo
E no adiante enfeitarem tuas bem feitas pernas
A beleza ornada com o que há de mais belo.


Amor no mercado futuro

Ah! essa mercadoria chamada futuro
Vendida em sinistros mercados
Como se vendem bananas na feira
Transforma o presente em pesadelo

Não, meu amigo, o futuro
Não é uma apólice de seguro
Mesmo porque seguros nunca estamos

Não é um belo plano de previdência
Garantias contra a insolvência
Ou muita grana na poupança

O futuro, meu amigo, é algo condicional
Depende de outro capital, mais humano
Somente o amor rende dividendos

Acumula muito amor e sê perdulário
Esbanja-o, gasta tudo como nunca gastaste
Pois só assim tua fortuna aumenta
E no mercado futuro não te fará falta.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O copo de Baco

Dá-me, Baco
Um copo profundo
Para beber a miséria do mundo
Uma jarra imensa
Para guardar os indiferentes
Que contentes e pasmados
Caminham expondo os dentes
Felizes com essa louca Sorte
Medida em sete palmos
Enfeitados de flores mortas

Quero beber os que já se foram
Os que esperam vez
Os que se julgam eternos
E acumulam
Vaidades e sofrimento alheio
E se esquecem
Que o Silêncio das Eras
É o nome do verme
Que dorme com eles.

Cambaleante

Os deuses estão ocupados
E esqueceram-se deste planeta azul
Que cambaleia pelos espaços
Doente, muito doente
De uma doença chamada homem.

Reserva de mercado

Ah, vida minha
Essa mania tua de desejar perfeições
Não há perfeição nas coisas dos homens
Há apenas arranjos convenientes

O perfeito, o irretocável
E delirante para os olhos
É a magia, é o mistério
Que Deus reservou para si somente.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Como eu cheguei ao longe

Sou de antigo tempo
Que de tão velho
Acho que não mais existe

Havia lá um terreiro
Laranjas e carambolas
Que amadureciam no pé

Um pé de manga sempre carregado
Um cachorro bravo
E um beijo menino nunca dado

Caminhos e carreiros que ao infinito levavam
Da casa dos vizinhos
Até o mundão de goela arreganhada

O sabiá de papo laranja sempre ressabiado
Um tico-tico, beija-flor
E doce de mamão feito no tacho

Um terreiro, sim o terreiro
Que em dias de chuva
Se enchia de barro

Havia sim, meu olhar pela janela
Que ao longe viajava
Sem saber que neste longe eu já estava.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Bilhete de adeus

Não mais
Ver com olhos outros
O eu em eu

Não mais
Crer que este que tu vês
Sou eu

Não mais
Crer que sou teu desejo
Desprezando o desejo meu

Não mais
Viver sob teu querer
Sem os sonhos meus

Não mais
Dizer-me teu
Como quem morreu.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A criança e as borboletas

De vez em quando, em dias de calmaria
É bom dar novo passeio por velhos caminhos
Revisitar antigas sendas, pequenas passagens
Ver o que não foi visto, sentir antigos ares

Haverá por lá, por certo
Uma serra rodeada de nuvens
E uma colina envolta em nevoenta saudade
Projetos sempre adiados
Uma palavra não dita
Um amor não declarado
Uma paixão maldita

E lá longe, já inalcançável
Uma criança perseguindo borboletas
Com o teu rosto ainda inocente
Com tuas pernas cansadas.

domingo, 16 de setembro de 2012

Do pensar

O pensamento nos primeiros passos
É igualzinho a uma criança
De gatinhas cai, engatinha e hesita

Depois dispara em rebelde corrida
Em rebeldia adolescente
Rouba coisa daqui, enfeites acolá

Para mais tarde ser preso
Condenado em libelo sumário
Por único juiz sem jurados

E na sua cela andará de lado a lado
Será respeitável ancião que tudo sabe
Em seus passos lentos e ponderados.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A revolução dos indigentes mentais

Hoje, os homens que odeiam pensar
E que forjaram para si um capacete
Feito do aço do pensamento único
Hipócrita, sem-vergonha e besta
Dizem que há preconceito
Ao se chamar as coisas como elas são
Assim como não é nada educado
O sujeito se referir a costumes históricos
Não admitidos pela atual estado  insólito
Evolutivo desta civilização imbecilizada

Sentados em suas cátedras de beócios
Esses mestres da indigência mental
Ditam cartilhas, códigos e normas
Para esse povo que cai em qualquer lorota
Dizem que é politicamente avançado
Pensar assim e bem assado
Dentro da massa da ignorância

Hoje, estão lá em seus gabinetes
Em suas salas de ar refrigerado
Pagas com o dinheiro suado
Desse povo que querem ajumentado
Barrigudos de tanto comer e beber
Enquanto o populacho passa fome
A física e a do saber

Hoje preparam a fogueira para Lobato
Amanhã para o escritor novato
E depois de amanhã para quem ousar pensar
Espirrar, ou ameaçar pecado
Contra seus dogmas medievais.




Homens de um livro só

Não tema os analfabetos,
Iletrados a mais das vezes por questões sociais.

Tenha receio dos homens de um livro só,
Daqueles que não conseguem viver
Num mundo de liberdades e pluralidade de ideias
E pregam a censura daquilo
Que vai além da ignorância que cultivam. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ouve o caracol

Pela manhã, e só pela manhã
Fresca como o orvalho das flores
Captura a alma do que sentes

Depois, faz a tua refeição diária
Preparada com leves essências
Raios frescos de sol, extratos de nuvens

Depois, ouve e observa o caracol
E pensa que o pouco que ele rasteja
É o caminhar de uma vida inteira

Depois, escuta o teu coração
E medita que o seu bater constante
É a magia que cadencia teu espírito

Depois, com a serenidade desses elementos
Com a alma das coisas dentro de ti
Vive cada hora imensa e intensamente

Depois, lembra-te sempre
A única eternidade que conhecemos
Acontece nesta manhã e é o agora.

 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sonhos e magia

Das geometrias dos sonhos
Seus oníricos teoremas infinitesimais
Não sei muita coisa
Aliás, sei bem pouco
Porque estou sempre aprendendo
E com enormes dificuldades

É que a escola dos sonhos
Tem maus professores
Relapsos mestres
Que ensinam pela metade
Porque das névoas sem densidade
Eles também pouco sabem

Abjuro científicas crenças
Nego-as três mil vezes
E busco a sorte cunhada nas estrelas
Que falam em línguas mortas
E mostram-me os caminhos
Dos antigos magos
Submissos a alquímicas fórmulas
Ao descreverem essa realidade
Nada real, posto que é mágica.


sábado, 8 de setembro de 2012

Meu coração renasce

Cariño
Que fazer dos anos perdidos
Desprovidos de tua aura
Em que somente sentia a tua presença?

Talvez, transforme esses anos em esquecimento
Algo ruim para se olvidar
Porque meu coração renasce neste momento
E os anos que me importam
São só os que me restam, os que virão
E certamente sem as antigas penas
Bem junto a ti.

Cariño
Há um limite no sofrer
Passamos dele
Agora, que tal começarmos a viver?

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quisera só falar de amor

Quisera só falar de amor
De interior sentimento
Que não se faz parto
E que não se retira de dentro do peito
Em dor aguda
Como se fosse um dente são
Arrancado sem preparativos
E sem a piedade da anestesia

Quisera cantar a flor
E jamais a sua decadência
Que vai da bela e fresca cor
Para a putrefata murchesa
Sobre o próprio galho
Até servir de pasto aos insetos

Quisera ser poeta das coisas leves
E carregar um fardo de penas
E falsamente dizer aos que meu canto ouvem
As falsidades de um feliz poema

Quisera, cariño meu,
Que só você existisse neste mundo
E que todo o resto fosse somente isso
Resto
Coisa que de tão ruim
Não merecesse um único verso

Quisera... Mas, sou poeta
E meu coração me inquieta
E rumino esses males
Como quem chafurda os próprios excrementos
Para deles aprender como se faz
A natural transformação do que não presta
Em coisas tão sublimes como as rosas
Que se alimentam dos cadáveres da terra.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Paleta do dia

Não escolhi a cor da tinta
Para pintar este meu dia
Talvez, um amarelo ensolarado
Mesmo que chova
Ou azul de cerâmica portuguesa
Forte, anil mesmo
Ou a paleta de todas as cores
Juntas e misturadas
Numa aquarela digna de doidos
Não importa
Meu dia, para ser um belo dia,
Tem que ter cor
Para dar fundo ao vermelho
De teu rosto
Quando no riso
Teu rosto cora
Tem que ter uma cor assim, inesperada
Que cante uma melodia
Afinada com a luz de teus olhos.

 

sábado, 1 de setembro de 2012

Quando os anjos te procurarem

Oi!
É Claro que ainda estou Vivo
Se não mandei notícias antes
Contando tudo Tim-Tim por Tim-Tim
É porque havia uma sobrecarga
Nos meus circuitos neuronais
E outra maior ainda
Nas companhias telefônicas
Que adoram me colocar mudo
Adivinhando do Silêncio
O pensamento do mundo

Mas fique triste não
Porque desenvolvo nova máquina
Aparelho de falar
E que leva mensagens
Por meio de mágicos anjos

Presta atenção
Porque eles falam baixinho
Sem amplificações elétricas
Para o teu coração

Eles vão te encontrar em sonho
E devem te comunicar
O quanto estou sozinho
E que a minha saudade
De ti, cariño,
É Mega, é Giga, é baita.