terça-feira, 24 de março de 2009

Sem pecados

Maria Francisca
Tem no nome marcas da caridade.
E na Casa da Luz Negra
Maria Francisca
Troca, com orgulho,
A luxúria pela piedade.
E para os homens avaros
Dá, sem ira, gratuito amor.
Bela, Maria Francisca é invejada
Pelas gulosas e gordas companheiras de ofício.
Maria Francisca ri da vaidade alheia
E, em silêncio, depois de mais um ato de caridade,
Pede a Francisco e Maria
A paz de impudica santidade.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Devoto

Sou devoto das coisas simples.
Na complexidade própria,
Na complexidade do entardecer,
Fico simplesmente parado,
Observando, vendo... Escutando
As explicações dos matos e flores,
Que crescem sem fazer barulho,
Sem mostrar que crescem.
Escuto minhas explicações
Sobre as dúvidas que crescem:
Por que a chuva molha a terra,
Por que deste molhar leve,
Por que dos adeuses,
Por que dos encontros,
Por que do conhecer...?
E em resposta simples,
Sem fazer barulho,
Devotamente rezo.

terça-feira, 10 de março de 2009

Eternidades

Senhora dos pensamentos meus,
É hora de recomeçar os versos,
Alisar esse tempo de bárbaros
E dele tirar a fina pele.
Sonho contigo, minha senhora,
Pois de ti emana toda poesia
Que se faz luz na noite dos homens.
Descobri a eternidade, minha senhora,
Queria confessar isso agora,
Ela mora nas entrelinhas dos versos
E, escondida, só se mostra aos poetas.
A poesia é eterna,
O poeta é eterno,
E tu, minha senhora,
És a substância
Dessas eternidades.

Felicidade

Sei que a felicidade é fugidia
E o tempo é a sua desgraça.
Não adianta trancá-la numa garrafa,
Como um gênio a nos dar fortuna,
Ela vem e simplesmente passa.
Resta-nos reconhecê-la,
Vivê-la em plenitude
E tê-la depois em recordação;
A lembrança do tempo bom
Faz belo o que foi ilusão.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Coração

Veio-me com o coração cansado.
No peito, um largo rasgo
Dizia-me de antigos sofrimentos.
Veio trazendo-me antigo amor
E o riso de antigas tristezas.
Veio-me acordar de letárgico sono
Imposto por mim mesmo.
Veio-me linda como em criança
Na doçura do primeiro beijo.

terça-feira, 3 de março de 2009

Crescente

A Lua quer crescer
E forma um “cê” enorme
Num céu inexplicável, escuro e limpo
A Lua é a alegoria da vida
Do crescente ao minguante, do "cê" ao "dê"
Sempre Lua
Sempre, sempre...
Venha ver a Lua
Venha ver a gente
Nossos braços
Formam “cês” e "dês" enormes
Que tocam ombros
"Cês e dês" de abraços
Que aninham amizades
Que guardam amores
"Cês e dês" complementares
Que, num minguante,
Estarão cruzados sobre nossos peitos
Definitivos
Em adeus e despedida.