quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A poesia de Rosa

Dona Rosa chora saudade
Da filha que ganhou mundo
Está prenha? Não sabe
Está viva? Não sabe
O marido morreu de desgosto e cachaça
O mais velho está preso
Roubou, matou, fez o diabo
Dona Rosa chora,
Faz faxina em casa alheia
Limpa, lava, cozinha
Mas não consegue limpar a saudade
Rosa chora, não é mais dona
Não é mais nada
Além do choro que endurece
Rosa pensa em deixar o mundo
Mas quem há de limpar o mundo?
Rosa pensa sumir
Mas quem há de chorar sua saudade?
Rosa pensa em não pensar
Rosa pensa
Rosa pensa
E Rosa não sabe.
Rosa lava a roupa
Amanhã lavará outra vez
Rosa limpa a casa
Amanhã limpará outra vez
Rosa chora
Rosa chora
Amanhã, Rosa será outra vez
Pobre vida, pobre Rosa
Rosa só tem poesia no nome.
.

Aerojoanamoça

Joana, por onde andas
Com tua armadura
Feita de latas de sardinhas?

Joana, Joaninha, diz para quem te ama
Que fim deu aquela lança
Feita de vento e enfeitada de laços?

Joana, minha amada
Espero-te em França
Sentado na pista
Calada do aeroporto

Joana, Joaninha, faz frio
Aterra agora
Na careca do Charles de Gaulle

Não quero ouvir um não
Antes do próximo voo
Vamos dar um passeio
De pés descalços
Pelas brasas da fogueira
Da inquisição
De nossos corpos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vontades das gentes


Tem verso metido que já nasce com vontades de ser música
Tem paixão mirradinha que já nasce com vontades de eternidades
Tem gente miudinha que já nasce com vontades de ser gente
Tem gente que nasce da arrogância e tem desvontades de beleza
Tem gente que de tão gente nasce para fazer versos pras gentes
E mostrar que estas desvontades são coisas de mentes indigentes.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ao amor ausente

Chamo-te (vazio)
- Ausência em dia que te desejo carinho -
Chamo-te pela casa
Espero que tu abandones demorado banho
Chamo-te à mesa
Sem me importar com teu lugar à cabeceira
Chamo-te por toda parte
Doidamente esperando impossível resposta
Chamo-te sob lençóis
Chamo-te sob minha pele
E, em resposta, somente o silêncio em carne viva.

Augusta no photoshop


Augusta Regina dos Reys terminou curso para modelo
Mas ela não quer passarela - trabalhar seria seu último apelo!
Augusta Regina dos Reys quer casar com um trouxa rico
Que lhe dê gordo cartão de crédito e outros paparicos.
Hoje tem festa no Golf Club, Augusta Regina dos Reys vai
Mas antes, em exame no espelho, confere o que com ela sai:

Está linda como fotografia de flor editada no Photoshop
Nariz empinado sinalizando stop
As mãos macias como as de ladrão de dinheiro público
Peitos siliconados na mentira de 300 centímetros cúbicos
Enfeitadíssima como penteadeira de puta
E burra como uma burra mesmo!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Linguagem universal

De fio a pavio
Do you understand me?

Uma mordida na língua...
- Ai Carol, teu peito vai furar o lençol! -
Can you understand me?

Nas americanas o peito abunda!
E nada de nádegas!

"I don't know!"

Está certo, não insisto
Minha língua é um dialeto
A deslizar pela tua cintura
Mas, santíssima alvura...
Pensando bem, meu bem,
Como é esquisito
Só conversar pelos instintos!

Cantoria das miudezas


Peço a Deus sabedoria
Co’a graça da Virgem Maria
Que os anjos me acompanhem
Nesta minha cantoria...

...Eia, eia, boi, boi, ei, eia...

Avoa tristeza afora
Da lida que se anuncia
E faz o coração caipora
Compassar co'as miudezas
Desta vidinha simplória

Enquanto arreio o cavalo
É favor me escutar
Isso a muita gente falo
A vida leva o vento
Só é preciso ventar

Passam os anos, voa tempo
No aperto da espora
Do sonho a galopar
A vida leva o vento
Só é preciso ventar

...Eia boi, ei, eia, boiada...
Caboclo se assossega
A morte vem de mão dada
Co’a a vida que nos leva
...Eia boi, ei, eia, boiada...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Bucólica

Meu céu desenho a carvão
Dos traços escuros
Faço o dia
Projeto o Sol
Um rio que desce calmo
Ao lado de calma estrada...
Num canto qualquer
Deixo lugar para uma lagoa
Com patos nadando
- Há de se dar utilidade para as coisas –
Na estradinha, coloco um homem
Que há de caminhar triste
Pois está em desacordo com a paisagem
Ao longe, ao pé do morro,
Uma casinha tosca
Cercada de animais domésticos
Um cão preguiçoso,
Uma vaquinha,
Algumas galinhas...
Mais adiante
No campo
Coloco lá algumas árvores
E uma saudade distante
Que, de tão comprida,
Toma todo o horizonte.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Caí

De súbito
Num susto de tropeço
Senti você
Em meu coração.

Morfismos

Da mais simples flor
Nasce o orvalho da manhã
O Sol cresce por trás do monte
Enquanto a noite finge dormir

A luz salta para os campos
Tudo renasce, vive. Alegria
A relva avança o milímetro
Verde mesclado à névoa pálida

Roedores fugitivos...
Serpentes, rastejantes feras,
Unicélulas, moneras

Rio desce
Morro abaixo
Vida acima
Flui em calmaria
Segue sempre
Sempre firme

Palmo a palmo
É o mesmo rio
Da mesma fonte
Vaza sereno... Vítreo

O tempo é estático
Mas, o rio se afasta
Gota, orvalho, gota
Turva-se, perde-se
Na curva, em caminho.

Mea culpa

É incrível saber como a vida, que nada nos dá
além da aproximação constante da morte,
nos torna culpados de tudo.

Incréu II

No sétimo dia, não quis ascender aos céus,
Estava com preguiça e receava o tédio,
Desconfiava: logo ele?! Ele, um incréu,
Que para os pecados não achou remédio?!?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Do tempo e lembranças

O tempo tem os pés voltados pra frente,
Só as lembranças os têm para trás.
Necessário é,
Não mantê-los amarrados no peito,
Sob pena de não se sair do lugar.
A amargura é uma lembrança
Que se amigou ao tempo presente.
Encardida, a amargura é a mancha do tempo.
Mesmo lavada com o sabão das lágrimas,
Fica lá, enfeiando o seu melhor vestido, seu paletó de festa.
A única coisa que podemos fazer
É escondê-la com um broche ou um lindo lenço
E assim teremos uma amargura enfeitada,
Como deve ser toda namorada que se quer desejada.

Coisas para fazer hoje


Balançar nos pêndulos de seus brincos
Guardá-la em mais um poema de amor
Dar-lhe uma flor, um bombom,
Vários beijos (atrás da orelhinha e se você deixar...)
Fazer tic-tac em seu coração
Deixar as babaquices das convenções de lado
Andar ao seu lado descalço em pleno centro da cidade
Dançar de rosto colado um bolero antigo
Jantar e bebericar um vinho com você e depois amá-la
Tanto quanto for possível
E, depois dormir bem juntinho
sonhando em como dedicar mais um tempinho
A você na minha agenda de todo dia.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Vento no milharal

Tua voz é tão suave quanto o assoviar
De calmo vento sobre a palha do milharal,
É a calma que o meu peito vem logo acalmar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.

Tua voz é meu preguiçoso acordar matinal,
Suavidade que dita novas formas de amar.
Amo esta voz que tem o som das ondas do mar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.

Amo ver-te a cantar só, tímida e distraída,
Suave canto, acalanto do sono dos anjos,
Balanço que embala desejo de vida.

Por isso peço aos céus este último arranjo,
Que, ao morrer, eu tenha como despedida
Uma oração doce, na doce voz de meu anjo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Surpresa samba


Gosto de surpresas
Mas, já não as espero,
Elas me estão presas
No que desejei e quero.
Já passei do tempo
Do bom susto com a vida.
Daquele bom tempo
De rasgar-me a carne
Sem temer a ferida.

Vi você no samba,
- Você era a surpresa -
Ao sambar, olhou-me
Em atrevimento,
Em vontade, sem pudor.

Porém, uma antiga tristeza
Dava tristeza a seu rosto
E seu sorriso inteiro
Era a teima em espantá-la.

O samba batia contente
Marcando o compasso
De nossas andanças
Por músicas esquecidas.

Vi as possibilidades...
Desenhei seu belo corpo
No ar com a minha língua
E imaginei... e imaginei...

Ah, samba surpresa!
Tive medo de estragá-la
E fazê-la triste
Depois de nua e amada.

Quero você assim apenas,
Para não lhe perder,
Surpresa e encanto.
Assim somente,
Inesperadamente na língua.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Sopros das paisagens


Apareceste num repente,
Vento suave de luz e cor,
Vida duma vida ausente,
Sopro de alegria sobre a dor.

Vieste sem dizer um nada.
- O amor tem outras linguagens,
Pelos sopros das paisagens
Fala na brisa assanhada.


Vieste num doce repente,
A mostrar-te só e tristinha,
Com minh'alma entre os dentes

Juntaste tuas mãos as minhas
E fizeste-me pisar contente
O caminho que caminhas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Bolero para noite de Lua



Ontem olhava as estrelas,
Sonhava de olhos abertos,
Busquei no luar coisas belas
E vi no céu meu deserto.

Trago na vida esta dor,
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.

Lembro do primeiro beijo,
Do coração disparado,
Da eternidade guardada
Naquele único momento.

A Lua brilhava intensa,
Intensa a vida ficava
E o mundo todo girando
Naquela rua tão pequena.

Quis dizer alguma coisa,
Cantar o mais lindo verso,
Verso enamorado e de amor,
Mas o verso era seu beijo.

Ah, é bom lembrar seu rosto,
Eternizado sob o luar,
Única imagem bela
Que vale a pena guardar.

Trago na vida esta dor,
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Beijos da chuva

Anunciada pela sua tristeza
Espero a tempestade de Verão
Que virá nesta tarde
Em vento e desespero
Alentada aos poucos pelas lágrimas
De todas chuvas que pairam nas nuvens

O vento sopra e carrega
As folhas secas caídas
Na infinda rua
Na rua infinda, vida

O farfalhar do arrastar das folhas
Me dá nos nervos
Fra, fraaa, fr, frrr, fra..,

Seus soluços igualmente
Contidos, arrastados...

Aguardo a tempestade
E ela, criança, brinca
Com folhas caídas

Logo, o vento sopra
E uns pingos poucos
Molham-me o rosto
Num beijo de chegar

A tempestade é boa amante

No minuto seguinte
Ela me molha o corpo todo
Num beijo de ficar

Você fala, fala e fala

Trovões, raios, relâmpagos
Água desce, água escorre,
Enxurrada, vento, vendaval

Você chora
E eu calo, calo

A tempestade é boa amante
Sabe a hora de partir

Aos poucos, o silêncio
(Piano, pianíssimo)
silenciosamente se faz todo

O último pingo, miúdo,
Me cai sobre o nariz

E você toca-me a boca
Num beijo de ir

Mudo fico
Mudo suporto
Este mundo
Feito de tempestades
Passageiras
Que chegam
Amam
E partem
Arrastando folhas secas.

Sutiã & calcinha

Você se veste
Procura a calcinha
Fica brava
E acha o sutiã

Céu claro lá fora
Procuro seu nome
Na memória falha
Fico bravo
E acho outro nome
Que em meu travesseiro
Escondido guardo

Estou cansado
Durmo, acordo, durmo
Você sai, nada diz
E a porta fica entreaberta
Cubro o rosto
E deixo meu vagabundo coração
Exposto e sem chaves.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Reporquices

Ao jornalista Valdeci Lizarte

Um crime,
Redação,
Polícia,
Escrivão,
Assassinato.
Fotos, furo,
Um sanduíche de presunto,
Um escândalo, cadáver,
Declaração do meliante,
Instituto Médico Legal.
Relatos, atos, pratos.
Uma feijoada,
Um roubo,
O acusado...
E a certeza que somos
Arautos da porquice humana.
- Por favor, me passe a pimenta e a mostarda...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Teus filhos




Ó Deus de todas as eras! Deus da guerra!
Vejo de novo as crianças trucidadas,
Mortas no solo sagrado palestino
À sombra da igreja, templo e sinagogas.

São cenas de terror ou apenas cenas
Para lembrarmos de tua ira e grandeza,
Ou para mostrarem nossa crueldade
Tão grande quanto de ordinário assassino?

São cruéis teus caminhos e mistérios,
Que toda fé não resiste e sucumbe
No sangue desses inocentes meninos.

Vamos à guerra em teu nome, bom Deus!
No matar - tolice! - não somos covardes!!
No matar somos, em verdade, teus filhos!!!

I

Terra de homens e santos,
Sagrada, purificada,
Santificada por teus mártires,
Levanta teu véu para chorar,
Levanta teus olhos e vê:
De tuas fontes brota o sangue
Do terror, da dor e morte.
Não escondas mais teus crimes!
Todos já sabem da infâmia
Ocultada pelos teus muros,
Outrora sólidos, firmes
E hoje finas cascas de vidro.

II

Ó Israel! Ó vil lugar
Da discórdia e do pecado;
Em nome do que é sagrado,
Hipócritas, despi-vos do véu!
Mostrai que vosso Deus é a paz,
Mostrai que vosso Deus é a vida
Tão sagrada quanto a terra
Que vossos imundos pés pisam.

Soem as trombetas agora,
Mostrem a carnificina
E que os céus nunca perdoem
Estas torpes iniquidades.
E que os infernos recebam
Os animais que usurpam
O Santificado Nome
Para matar a inocência.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cantiga para o anão de jardim


Como dormir nesta noite de fadas?
Um duende ronca sob minha cama
E uma voz da floresta ao lado me chama
Para ouvir as histórias que guarda

Calço meus sapatos, arrombo portas
E num escuro caminho me lanço...
Lá longe, o anão brinca no balanço
E canta uma cantiga esquecida e morta

Sua voz tem o timbre d'um gramofone,
Que acorda a Lua e ilumina esta noite insone.
O estranho homem conta-me um segredo:

"Feliz é aquele que sonha sem medo,
Com ouvidos para cantigas de ninar,
Este é puro. Este homem sabe amar."

O verde de teus olhos

O verde fluorescente
De teus olhos invadiu-me;
Na minha noite: sublime,
Fina luz, completamente.


Fogo quente, incandescente,
Que minh’alma toma e alcança
Do frio da desesperança.

Dá-me deste verde manso
A doce luz do descanso
O verde infindo, esperança.


Dá-me do que queima, a energia,
Quero renascer novamente,
Sair desta triste letargia
Co’a luz verde incandescente
De teu manso amor somente.

Pedra imaginária

Voir le reflet de l'âme dans la vague

Vagarás por certo nesses incertos dias
Vá por aí, por lá, além mar, meu coração
Variante de minha alma tão estanque

Que fizeste tu ao levar contigo minh'alma
Arrastada pelas tuas mãos nas ruas de Paris?
Que fazes tu com meu espírito por entre teus dedos?

Indefinido, finado em vida - sina minha -
Aguardo tua volta sentado sobre pedra imaginária
Volta e meia estendo o braço e aceno
Para qualquer navio que na neblina passa

Vi teu rosto ontem num quadro de Lautrec
Indefinido, sina minha, nesses olhos fracos
Teu cabelo curto e em movimento
A dançar o último baião do velho Gonzaga

Minhas mãos soltaram-se das tuas
Tu deste um giro sobre o próprio corpo
Desaparecendo nua numa noite de frio

Vagarás, por certo, nesses incertos dias
Vá por aí, por lá, além mar, meu coração
Variante de minha alma tão estanque
Tão distante quanto meu olhar sem ação.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Agulhas para coser anjos

Vejo o postal
Que você me enviou
As coníferas da
América do Norte
Dizem-me de um estranho mundo
Em que as montanhas
Alcançam os céus
E, pontiagudas, furam
As bundinhas dos anjos

Sim, estas terras foram feitas
Para povos celestes
E para os pobres diabos
Como eu
Que preferem expiar
Seus pecados
Abaixo do Equador
Sobram apenas
O puro medo de voar
Em corpo,
Alma
E pensamentos.

Sina nordestina

A meu pai Heleno, nordestino e
pioneiro das terras norte-paranaenses
Sou um cabra nordestino,
Vim para o Paraná,
Encontrei aqui trabalho
Para o mato derrubar.

Ganhei tanto dinheiro
Que eu nem podia contar.
Passou tanto Janeiro
E eu querendo voltar.

Esqueci mariazinha
Que estava namorando,
Esqueci da rocinha
E do gado minguando.

Ah, meu Deus, triste sina
Do caboclo nordestino
Que deixa sua terra
Pensando voltar pro ano.

Hoje já estou bem velho
Mas, posso me alembrar
Do pedido do meu velho
Para um dia eu voltar.

Pra poder fazer uma prece
Junto ao cruzeiro da estrada,
Pois o infeliz não esquece
De sua primeira morada.

Quero lá deixar minha alma,
Aboiar os bois que não aboei.
Talvez no céu e com calma,
Abraçar a mãe que abandonei.

Ah, meu Deus, triste sina
Do caboclo nordestino
Que deixa sua terra
Pensando voltar pro ano.

Alhures gravitas

O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si

Encontrei-te ontem,
Numa volta dessas
Alhures do imaginar,
Mais madura,
Numa noite de frio
E bebida quente

O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si mesmo

Meu coração rodopiou
Em torno de ti
Gravitei no giro de teus olhos

O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si
De encompridar os adeuses
De dar gravidade
Aos nossos pensamentos

Louco mundo este que gira
E a tudo mistura
Num tempo que não sabemos
E logo, mãos espalmadas
"Até um dia"
Noutra volta, quem sabe?

Forró do burrão


Pisa, pisa, pisa, pisa...
Meu coração pode pisar,
Pisa só pra me judiar.
Pisa, malvada, só pisa...
Meu coração pode pisar...


Mulher já fiz que não posso
Pra você ficar comigo.
Você diz que sou só amigo,
Assim eu vou ter um troço.

Eu comprei água de cheiro,
Vendi o burro, comprei carro,
Sou honesto, tenho trabalho,
E de você nenhum beijo.

Mas, vou lhe dar um agrado,
Talvez o último agora,
Não me faça acreditar, ora,
Que eu vendi o burro errado!

Pisa, pisa, pisa, pisa...
Meu coração pode pisar,
Pisa só pra me judiar.
Pisa, danada, só pisa...
Meu coração pode pisar...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009