terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Capricho do vento

Ó menina do umbigo de fora,
Do vestido curto e generoso,
O Vento tuas pernas aflora,
Sou cego, ele que é maldoso.

Curitiba cabeça e bunda

No ponto de ônibus de Curitiba é assim
Se chove tudo molha, sofrimento sem fim
Se encolhe a bunda, molha a cabeça,
Se esquenta a cabeça, esfria a bunda.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Poema profano

Sim, era para ser um poema ensolarado
Em brilho, em cor, em vida
Um poema que frequenta a igreja no Domingo
Sério como alma redimida, contrita e arrependida
Mas não, negou-se meu poema à santidade
E na primeira gota do aguaceiro, no primeiro trovão
Lembrou de ti a carne nua, da ausência de panos nas minhas vergonhas
De todos nossos pecados cometidos sob esquecidas chuvas
E nos escuros dos altares profanos.

Acerto de contas

A Morte fecha seu balanço
Nas tragédias de final de ano.

Arriscoso

Ano vai, ano vem...
E você descobrindo de boca aberta
Que viver neste tenebroso mundo
Está cada vez mais arriscoso.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Adultério

Uma das poucas coisas boas em se manter solteiro é livrar-se da tentação do adultério. Pecado quase que obrigatório neste tempo de superficialidades, em que o amor para consumo se vende nas esquinas.

Natal dos puros e dos hipócritas

Aos hipócritas: o Natal já acabou, voltem ao normal.
Aos puros de coração: o Natal é todo dia.

Natal dos finados

À medida em que se vive, 
O Natal aos poucos
Vai se tornando um Dia de Finados. 
Somos feitos de saudade.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal em alegre canto

Feliz Natal
Aos que ainda não negam n'alma o alegre espanto
Com as coisas simples
Como a semente que deixa a árvore em despedida
E cai sobre o campo e se abandona confiante ao vento
Feliz Natal
Aos que carregam n'alma o amor em alegre canto
E espalham na ventania as sementes da Esperança.

O amor dos calendários

Dizer amar nosso semelhante no Natal é fácil,
Eis o que nos pede este brevíssimo tempo de coração-mole.
Mas, amar não é isso: amar o amado nos exige continuidade perpétua.
Amor de dia marcado no calendário não é amor de verdade,
É usar por minutos o que nos é mais caro na alma e jogá-lo fora.

Natal dos pobres

É Natal, que belo dia
Vem a nós, menino Deus
Para ser o nosso guia
E dai a mão aos filhos teus

Ó Deus de misericórdia,
Ó Senhor, nos escutai
Esta vida é discórdia,
Queremos a Vossa paz.

Deus das alturas celestes,
Ó Deus, que se faz nas preces
Dos que carregam a cruz,
Dai de Vós a Vossa luz.

Sagrada seja essa Paz
E esta ceia tão vazia,
Mas, ela honesta se faz
Com a graça de Maria.

Jesus Cristo vai nascer,
A estrela já o anuncia,
A esperança vai crescer
E a noite se fará dia.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sustancia y palabra

Soy sustancia y palabra,
La unión de químicos elementos,
La vida pensada por los dioses
Que se alimentan de viento.

Mis células nunca duermen
Ni duermen mis pensamientos;
Hay horror en el robo de los electrones,
Hay temores en aquello que hago y pienso.

Mi palabra es impulso fotónico
Moldeado en ancestral gramática
De los que pasaron por la vida
Juntando primitivos gruñidos a los hechos.

Mi amor, mi odio, mi silencio,
Mi querer, mis distanciamientos
Pueden ser determinados por la eléctrica
Pulsión del corazón y su funcionamiento.

Cuando río, soy la risa de mesones discretos.
Quando hablo, soy el decir de los compuestos.
Cuando pienso, soy el pensar de los fotones.
Cuando vivo, soy de los átomos el triste gesto.



(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Quadrinha do vento

Eu sou livre como o vento
Vou pelo mundo a ventar,
Livre é o pensamento
Que o mundo vai libertar.

Aos 15 anos

Em verdade, em verdade vos digo
Aos 15 anos, os hormônios nos fazem crer
Que o amor está entre as coxas e o umbigo!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Vaso de tolo

O tolo ganhou um vaso vazio de porcelana
Enfeitado, rico, com relevos em ouro
E esperou, esperou e esperou,
Em sua longa vida vazia, do vaso uma flor.
Morreu sem entender que a inutilidade ornada,
Desprovida de conteúdo, só pode gerar o nada.

Coração a vácuo

Tinha o coração embalado
Em cintilante papel a vácuo
E vivia o mais escuro dos vazios.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Boa saudade

Boa saudade é aquela perfumada com flor de jasmim
Que do longe vem abraçada a um tempo sem fim
E que te pega assim, do nada, com inexplicável sorriso no rosto.

A ninfa química

Pobres namorados e ficantes,
Aquela estudante de Química era exagerada
Porque, bela e ninfa de corpo bem feito,
Só se contentava com um mol de beijos.

"Marvadinha"

'Marvada', 'marvadinha'
E perversa é toda paixão...
Mas, ora essa,
Que valia teria esta vida
Se fôssemos sem coração?

Louca ideia

Aquela ideia que julgaste loucura
Cometeu suicídio
Devido a tua falta de coragem.

Sois livres?

Bárbaro tempo este do pensamento barato e copiado aos outros. Não sois livres ao pensar o que os outros vos ditam. Sois escravos do pensamento alheio. A verdadeira liberdade de um homem está em justamente pensar por si, mesmo que em equívoco.

Fora da casinha

De vez em quando permita-se uma loucura. Poucos entendem a alegoria da história do gênio da lampada e por isso, vivem no absurdo do cotidiano sem pelo menos almejarem algo de novo para suas vidas. Os prodígios do gênio se fazem fora da lâmpada, ou seja, as genialidades só são possíveis fora dela, ou mais modernamente, fora da casinha. Dentro dela, nada mais do que o tédio.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Anjos da bunda-suja


Em época de Natal, lavo os olhos com água benta
Para ver o desfile desses hipócritas da caridade pública
Com suas curtas asas de anjos, santos da bunda-suja.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Apocalipse do lixo

Não, meus estimados amigos
Em verdade vos digo
O mundo não vai acabar 
No cataclismo do apocalipse
A humanidade vai desaparecer 
Apenas sufocada pelo seu próprio
Monturo de lixo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Morrer, intransitivo verbo

Das genialidades do homem
Está a palavra
Algumas fraquinhas 
De complemento, de junção
Sem vida própria
Mas que, se juntadas a outras
Causam guerras, divórcios
Reboliços, revoluções
Algumas terríveis, de falso movimento
E essas no verso são preocupantes
Pois indicam o fim
Inclusive de se dizer ou entender
Outras palavras
Morrer, por exemplo
Este intransitivo verbo
Que deveria ser
A última palavra
De todos os dicionários.

sábado, 29 de novembro de 2014

Vento de novembro

Há um vento nesta manhã de novembro
Penúltimo suspiro deste ano quase morto
Que carrega em frieza aos túmulos das calendas
Tudo que aqui fizemos de direito ou torto
E eu que tenho meus anos para lá da metade
Ainda ando pela calçada a respirar este ar infecto.

Viver, eis o mandamento

Vive! Eis o mandamento que se faz urgente!
Pois tu não poderás nunca voltar ao ventre de tua mãe
E jamais evitarás a terra sobre tua cova!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Amor neolítico (em espanhol)

No somos de este falso tiempo, íntima amiga,
Por los dioses fuimos prestados a esta época de bárbaros
Prehistóricos de saco y corbata.

En tardes de sol perezoso, de nubes llorosas,
Tú con sandalias a la griega
Y yo contando las horas como los sumerios.

Huimos del shopping hecho de piedra
Y para no olvidarnos de nuestro pasado neolítico.
Marcamos encuentros debajo de los árboles.

Allí somos lo que somos, naturalmente fieras
Buscando el amor en ahogados gritos y gruñidos
Arrancados al lenguaje de los amantes primitivos de otras eras.

(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

Vadio Poema

No meio de um relatório técnico
Apresenta-se um vadio poema
Que ignora a hora imprópria
E suplica-me que eu abandone
As asperezas dos números
Os salamaleques dos ofícios
E preste atenção na réstia de luz
Invadindo a sala, meus olhos
E que dá vida até mesmo
Às letras embrutecidas
Das minhas aborrecidas estatísticas
Sorrio e faço uma pausa
Às favas o relatório - berro
Porque meu mundo é o verso!

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Coração morto, Saudade viva

O Sol se põe
E a Saudade acorda
Vem de mãos dadas com a Lua
E nos acha
Mesmo que tudo se faça escuro
Vem e se instala
Num porta-retratos
Num antigo perfume
Em miudezas esquecidas...
Na noite, até em corações mortos
A Saudade é viva.

Da autenticidade

A autenticidade tem o seu preço: os falsos, os dissimulados, os vaidosos e os fracos de espírito terão por ti inveja e ódio eterno. Inveja porque tu vives de verdade e pela verdade. Ódio porque tu desmascaras a mentira em que vivem. Mas nem tudo está perdido, sobram uns poucos, os quais, iguais a ti, têm a verdadeira alegria e bondade no coração. Humanos que entenderam parte do significado do que é ser humano - plantar o amor sem esperar colheita, ao mesmo tempo em que se preparam para a última jornada sem poder levar bagagem, mentiras acumuladas e forjadas no sofrimento alheio, fortuna ou dinheiro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ensinamentos de meus cansados pés

Chamam-me louco por não fazer o que todo mundo faz
Mas, aprendi com os meus cansados pés
A caminhar contra a multidão

Sei assim, que poucos são os cientes da própria existência
E, principalmente, de sua finitude
Se não são cientes, são inconsequentes
E passam por este rumoroso vale
Igual rebanho satisfeito com o pasto
Mastigando o capim da ignorância plena

Louco seria, se caminhasse com gente assim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Versos Noturnos

Como não se alcançar 
Plácida calma n'alma
Ao se escutar Chopin... 
Polonaise... Noturnos... 
Impromptus?
Como não sentir poesia 
No vazio das pausas 
E nas sonoridades 
Das suaves notas?

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Salve, ó condenados

Salve, homens condenados à morte
Desde que respiraram o primeiro átomo de oxigênio
E se fizeram vivos neste vale de expiações
Salve, todas as loucuras decorrentes do delito de viver
Salve, todas as distrações para disfarce desta nossa medonha sorte
Salve, meu amigo, testemunha deste infortúnio e dele inexorável vítima
Salve, luz de Primavera que nos alumia, e nos faz ver magníficas flores
Que enfeitam a paisagem dos que ainda aqui estão
E as frias mãos dos que não mais respiram e já não são!

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Arrogante arte

Alguns artistas praticam o ofício da arrogância
E dizem com muito marketing que só deles é a arte
A qual embeleza e dá sentido a este mundo
O mundo por si só é belo, divinamente belo
Sou contente em apreciá-lo e descrever sua beleza apenas
Ah, se soubessem o quanto é impossível superar
A arte contida num mísero e efêmero raio de Sol!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A mulher do poeta

Dante amou Beatriz e a transformou na musa da musas ao eternizá-la na Divina Comédia. Consta que o poeta a viu não mais do que duas vezes e dela não obteve palavra, somente um sorriso. Beatriz morreu jovem e Dante casou-se. Com o tempo, o poeta descobriu que havia escolhido mal, sua mulher tinha o comportamento vulgar e era o que hoje chamamos de fofoqueira. Assim, voltar para casa para ele tornou-se um martírio. A vingança de Dante, creio, foi nunca ter citado a megera em seus versos.


II


O poeta John Keats descrevia assim a paixão de sua curta vida, Fanny Brawne: "Carece de sentimentos em todos os traços (...) A boca é má e boa. Os braços são belos, as mãos um pouco feias e os pés toleráveis. Porém é ignorante, de conduta monstruosa (galinha), fugindo em todas as direções". Mas, Keats não deixou suas impressões sobre a moça depois de sua tragédia pessoal -- Miss Brawne, devotamente, cuidou dele por um tempo, antes de sua morte provocada pela tuberculose.

III

Realmente, um monstrinho que sabia ferir a alma alheia. Poeta satírico, Alexander Pope possuía os braços e as pernas como uma aranha, com peito de pomba e corcunda. Embora galanteador, bem resolvido financeiramente, o que é raro em poetas, Pope tinha dificuldades óbvias com as mulheres por sua triste figura. Apaixonou-se pela Lady Montagu, que o repeliu em escárnio e gargalhadas. Pope jamais a perdoaria e até o fim de sua vida atacou Montagu e seus amigos em versos terríveis. Pope não se casou, mas concedeu seu afeto à Marta Blount, amiga da juventude que, por piedade ou amor, desfrutou até o último dia a intimidade do poeta.

IV

A vida de Edgar Alan Poe foi tão espantosa quanto seus versos. Poe perdeu os pais, foi adotado por rica família e deserdado ainda na juventude, em função de seus vícios. Expulso desonrosamente da academia militar de West Point, não se firmando em emprego algum, casou-se com sua prima Virgínia de 13 anos. Bêbado, jogador e acusado de plágio, Alan Poe rolou definitivamente na sarjeta após vender os direitos de sua maior obra, "O Corvo", por apenas 10 dólares e perder a sua tão amada Virgínia em condições miseráveis. Ela rompera um vaso sanguíneo da garganta numa apresentação de canto e durante seis longos anos agonizou, lançando o poeta num mundo escuro e místico. Poe se entregou definitivamente à bebida e, em breves momentos de lucidez, chegou até mesmo a noivar com viúvas. Morreu num hospital, recitando apenas dois versos inteligíveis: O God!... Is all we see or seem/ But a dream within a dream? -- "Ó Deus!... Tudo que vemos ou julgamos ver/ Não passa de um sonho dentro de um sonho?".




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aullido de perro loco

Mi poesía cultiva antigua costumbre
Con gritos me despierta de madrugada
Y sin ceremonia me ordena cantar
Nuevos cánticos para estar animado

No quieras escuchar, Cariño mío
Los gritos de mi poesía nocturna
Es aullido de perro loco, airado
Aullido de susto, de alma en pena.

Por eso me levanto de la cama despacio
Y voy a la biclioteca a escucharla solo
No quiero despertarte, Cariño, no quiero
Pues no sabré explicar lo que me desvela.

Ella viene y me dicta cosas imposibles
Otras veces, muchas veces, terribles
palavras sueltas, versos enjutos
Al describir bultos y monstruosidades.

Pero en la mañana que sigue me vengo
Y tomo todos aquellos versos de miedo
Y los transformo en algo calmo y bueno
Como la suavidad de tus leves besos.


(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Adeus no Verão

Foi numa tarde de vento morno e sóbrio, própria para fotografia
Triste, tu caminhavas pela praia dos Ganchos
Um mar divinamente verde, barcos descansando
E eu fazendo-me pedra, tornando-me esquecida paisagem.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

El susto

El amor de tu alma será alimento para otras
Para las que dividen contigo el susto de vivir
E sólo así, tú tendrás sentido en este mundo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Os ratos

Nascemos pelados como os ratos, com a bunda de fora
Alguns tornam-se gente
Outros porém, mesmo pudicos e vestidos, continuam ratos.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Agridoce

Havia dias em que ela amanhecia
Docemente azeda, avessada
Carecia de uma língua que sentisse
A sua boca, deliciosamente agridoce.

Teimosos

Fugimos, até mesmo para manter a saúde mental,
De algumas verdades incontestáveis, óbvias, terríveis,
Fato é que ninguém sai vivo desta vida
Portanto, pergunto, por que alguns teimam em desperdiçá-la?

sábado, 18 de outubro de 2014

Em vão

Vão é vazio que abisma
E quantos vão
Em vão levando a vida.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Salmoura nos olhos

Mesmo que do mesmo feitio
Nem tudo é igual.
Sal mais água é salmoura,
Entre continentes é oceano,
Mas se dos olhos em saudades cai,
É triste lágrima, é desengano.

Assim, teus olhos que perdidos vão
Pelos longes além de ti e tanto
Não escondem que deles são
As águas do salgado Atlântico.

Peitos suspeitos

Peitos suspeitos e falsamente bonitos
Perfeitos clones carnais de silicone
Guardam teu coração artificial e postiço
Eivado do vazio das vaidades plásticas.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Despierta

Despierta y dile adiós a la nada que te guía
La vida es otra cosa, simple, simple
Embutida en un lapso de tiempo tan corto
Que no tenemos tiempo de amar la nada.

(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dos atributos e virtudes

Não há sabedoria em ter uma opinião formada e imutável. Dentre as criaturas, somente o homem tem noção de sua existência. Só o homem reconhece virtudes nos outros: boas ou más. O problema é que as coisas e os outros existem sem quaisquer necessidades dos tolos atributos que damos a eles. Portanto, sentir o que se vive, no instante em que se vive, é mais importante do que rotular e criar preconceitos para a vida toda. Nós mudamos, as coisas e as pessoas mudam. A sabedoria reside nessa percepção.

Porta estreita

Estreita a porta de teu coração
Para que morem nele
Somente aqueles que têm carinho e zelo por ti.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Adiós

Decir algo antes del adiós
Es casi premeditar un crimen
Es hacer sufrir sufriendo
Es matar matándose.

Decir algo después del adiós
Es cavar una tumba sobre otra tumba
Es confesar un pecado sin perdón
Es tratar de retener al viento con las manos.




(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

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Dizer algo antes do adeus
É quase que premeditar um crime
É fazer sofrer sofrendo
É matar matando-se


Dizer algo depois do adeus
É cavar uma cova sobre outra cova
É confessar um pecado sem perdão
É tentar segurar o vento com as mãos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Bárbara vida, Bárbara

                                                                               In memoriam

A vida foi bárbara contigo, Bárbara.
Uma bala perdida te encontrou
Na saída da aula, perdida e bárbara.
Foi bala da polícia, foi bala doutros bárbaros?
Fato é que não és mais entre nós
E esta Primavera certamente será triste,
Porque no jardim faltará sempre
O botão da flor que começava a florescer.
Bárbaro tempo este nosso, Bárbara,
Em que os violentos encomendam flores,
O sorriso de fortuitas flores, para enfeitar o céu.

Pagando o pato

A vida é um breve ato
Em que o infeliz vivente
Se faz ordinária moeda
E no final paga o pato.

Amor 100%

Na casa das moças perdidas
O índice de confiança
Do amor jurado é sempre 100%
Eterno, até acabar o dinheiro do trouxa.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Chuvas de Domingo

Entre um pingo e outro pingo d'água
Tu choras, Curitiba se alaga
Fica a mágoa, vai-se o Domingo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Bundão primaveril

A bunda andante
Abundante
Visão do inferno de Dante
Diante de meus olhos
Segue errante e adiante
Por entre as flores da Rua das Flores
Nesta fria manhã primaveril.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Mais uma Primavera

Estás a acrescentar
Mais uma Primavera
Em tua vida
Eis o que importa
O resto são
Folhas mortas!

Poesia é o tato do espírito

Nos últimos séculos, a poesia sofreu a ditadura da forma, dos românticos aos concretos, poetas do mundo todo usaram a forma como camisa-de-força. Hoje não damos tanto importância à forma. Pois redescobrimos o óbvio: o segredo da poesia (que não é segredo para ninguém!) não está apenas na forma, mas na intensidade da mensagem e no equilíbrio entre sílabas fortes e fracas, ou seja, na cadência do verso. Os poetas gregos e romanos já sabiam disso ao desenvolverem todos os temas universais que perduram até nossos dias.

Assim, não obstante a tecnologia que se utilize, falamos de amor como falou Ovídio, cantamos o nosso tempo com igual intensidade de Catulo ou Camões, em pretensa modernidade, na soberba infantilidade de nos pensarmos fora dos paradigmas poéticos construídos por séculos. A poesia é nossa alma e se tem alguma coisa que nunca vai mudar é a alma humana, e por mais que o tempo passe, ela será a mesma sempre.

O sentir de hoje, dentro de nossos corações, é o mesmo sentir do homem da caverna que tateou o lado exterior da montanha em que se abrigava, em medo, susto e êxtase, ao se descobrir dentro de um contexto cada vez mais inexplicável, principalmente ao mirar os astros e as estrelas. Poesia é, portanto, a forma que encontramos de dar explicações ao que não se explica, de dizer o que não foi dito; é acrescentar em nós mesmos mais do que nossos cinco carnais sentidos, dando sutil tato aos nossos espíritos.

sábado, 20 de setembro de 2014

Ir, lusitano verbo

Essa vontade de sempre ir além
Nos faz seguir
Ignorando os perigos
Vaticinados nas irregularidades
Do mais lusitano dos verbos.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Ser diferente

Tanta gente tentando ser diferente.
Ah, se soubessem que neste mundo
Para se ser diferente basta ser gente!

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Almas leves

Aliviai vossas almas com o que dais
Quanto mais cedidas em amor
Elas se farão mais leves.

sábado, 13 de setembro de 2014

Alto mar

              to
Em     al      mar
                 n
As       o        das
São os arrepios
Do     v e n t o.

Distâncias

Amor
tão                         longe
Saudade
tãoperto.

O que conta

O que conta
Não é o início nem o fim da caminhada
O que realmente conta
É saber apreciar a paisagem.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Flor latente

Se dizes antigo amor ter esquecido
Tu mentes
Amor não se esquece, arrefece
Ele vive
Em saudade, como flor latente
Em espera
Para florar em oportuna Primavera.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Las aguas del amor

Beber de las aguas del amor
Es siempre tener sed
Una sed que nunca se acaba.

(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

11 de Setembro

Rancoroso e odioso tempo em que vivemos
Diz-me uma mariposa que foge deste poema.
Não há luz, ela reclama, brilhos de encanto
Nas baionetas caladas, no fuzil que canta
Nos planos das carnificinas de novas guerras
Que hão de calar, como sempre, o canto dos pássaros
E, em asco, tornar maldita toda voz que na paz teima.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Todos são poetas

Aos 15 anos, todos são poetas. Aos 18, alguns continuam poetas. Porém, aos 20 anos, boa parte dos nascidos poetas se obriga a viver o que outros apelidam de realidade, a qual não passa de pobre invenção dos homens de ásperos espíritos, esses que colocam preço em tudo -- tolos, que nos deixam igualmente tolos e doentes do espírito, a nos venderem a suposta cura embutida em inutilidades artificiais. Assim, poucos continuam no caminho da convivência natural com as coisas que valem a pena e, principalmente, da magnífica convivência com o próprio espírito, com a nossa alma e essência humana, ou seja, com a poesia da vida.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O castigo do Vento

Por entre as vagas e ondas
O Mar brame teu nome
E o Vento ao castigar-me, diverte-se
Trazendo-me aos meus ouvidos
O que tolamente pensei ter esquecido.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Das coisas que não cuidei

Se te amei?
Sim te amei e como amei!
Mas, miseravelmente falhei,
Namorei a flor
E das raízes não cuidei.

Añoranza, dolor de los dolores

Mi vida fue hecha de dolor - dolor siempre
Y dolor uno no lo muestra, apenas lo siente
Dolor en altar, expuesto, es triste vanidad
Es dolor que se divide en dolores por maldad.

Tuve dolores pequeños y dolores enormes
Todos ellos me dejaron el pecho disforme
Dolores de dulce amor; de dulce quedó amargo
Dolores apasionados dejados a lo largo.

Pero, de los dolores no hay peor que el de la añoranza
Clavado como cruz en la soledad de la muerte
De los míos que me dejaron en vacía amistad.

Pero si la suma de los dolores nos sacan el norte
Es preciso arreglar el bien en la atrocidad
A fin de que se ría para fingirse fuerte.


(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Matéria escura

Procuro tua matéria no escuro
Sigo teus suspiros, risos e ais
Sou tato a procura do prazer exato.

Inexplicáveis

Um grande problema
Que não adianta indagação
Por mais que se negue,
Por mais que se diga não,
Somos existentes, sem atinar
Nossa inexplicável dimensão.


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

1/2 + 1/2 = 1

El amor
por la mitad
nada vale.

El amor precisa 1/2
Que se suma a otro 1/2
Para hacerse entero
Y sólo así,
en la suma de las mitades
Se hace único y verdadero.

(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O caos deificado

Considerar-se simples obra do acaso
E pensar a si e o Universo
Como as ordens resultantes do caos
É professar uma fé mais absurda
Do que a crença num deus criador.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O amor que te inventei

O amor que te inventei
Tinha trejeitos e defeitos,
Era cego e surdo,
Claudicante, absurdo,
Mas, como amei
Esse amor que te inventei!

Nos campos do Senhor

E neste interminável Agosto
De mau gosto e trágico
A velha Senhora gargalha
Satisfeita, porém não saciada
De tanto sangue e dor
Que colhe com seu alfanje
Nos campos do Senhor.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Paixão & Amor

A paixão nos fura os olhos
E tudo que nos aparece se faz ilusão e engano.
O amor, minha amiga, pelo contrário, é a verdade,
É o clarão que abre os olhos de nossas almas.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Curta vida

Acorda e dá adeus ao nada que te guia
A vida é outra coisa, simples, simples
Embutida num lapso de tempo tão curto
Que não temos tempo para amar o nada.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

No horizonte

Acordar cedo,
Abrir a cortina dos olhos
E descobrir no horizonte
A beleza do mundo inteiro.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Morte

Triste Senhora
Deselegante,
Que vem em visita
Sem aviso, sem hora.

Bruta senhora
Que vem de abrupto,
Sem hora.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Que coisa outra?

Que coisa outra
Pode viver sem leis naturais,
A não ser nosso espírito?
Que coisa outra
Pode abraçar o lembrado,
Na saudade,
Sem distâncias e tempo
Sem medidas,
Sem horas assinaladas?

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Louis Vuitton

Dios mío, consérvame lejos de los vulgares,
De los hombres y mujeres de frases hechas,
Perfectamente encuadrados en esta modernidad
Hipócrita en que todo está perfecto
Si dentro de lo políticamente correcto, es lógico.

Dios, consérvame un ogro de las ideas
Para que todo lo aprenda en humildad
Pues quiero saber por qué vuela suave el pájaro
Y no cuánto cuesta una cartera Louis Vuitton
Para cargar el vacuo de ciertas cabezas.

Y que así sea por la mañana, a la tarde y a la noche,
En fin, por los siglos de los siglos, amén.




(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Paleta del día

No escogí el color de la tinta
Para pintar este mi día
Tal vez, un amarillo soleado
Aunque llueva
O azul de cerámica portuguesa
Fuerte, anil mismo
O la paleta de todos los colores
Juntos y mezclados
En una acuarela digna de locos
No importa
Mi día, para que sea un bello día,
Tiene que tener color
Para darle fondo al bermejo
De tu rostro
Cuando en la risa
Tu rostro se colorea
Tiene que tener un color así, inesperado
Que cante una melodía
Afinada con la luz de tus ojos.

(Versão para o espanhol de Félix Coronel)

sábado, 2 de agosto de 2014

El sol que brilla por ti

Que el antiguo dios de nuestros antepasados
Este Sol que tanto brilla por ti
Pueda un día sentir que toda su energía
Consumida para hacerte vivo
Haya sido para ti de buen provecho

En la alegría que le dispensaste a tu semejante
En la solidaridad que tuviste con los necesitados
En el amparo que le diste a tus hermanos desamparados
En el amor incondicional que a los vientos desparramaste

Vivir de otra forma sería gastarte en vano
Tener los pasos confusos en los caminos de la Tierra
Para después devolver a los espacios
La energía que nada hizo, nada transformó.

(Tradução para o espanhol de Félix Coronel)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Caridade e tolerância

Receita para um sono tranquilo:
Caridade e tolerância,
Palavras esquecidas, gastas
E que precisam voltar para este mundo.

Sonho de gente


Dos bons sonhos, não pesadelos,
Sonha bem e bem sonhado
Aquele que no coração nada pesa
Sonho de luz, sonho de gente.

Espelho dos medíocres

Em tudo que você faz, nunca considere a opinião dos medíocres, dos afetados e dos invejosos. Os medíocres se acham espelho e os afetados e invejosos amam a própria imagem refletida no falso brilho da mediocridade.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Trovoadas

Quantas trovoadas nesta madrugada
E as almas insones que as escutavam
Em temor de rumores de guerra e morte
Rogavam aos céus águas de piedade.

Truenos



Cuántos truenos esta madrugada
Y las almas insomnes que los oían
En temor de rumores de guerra y muerte
Rogaban a los cielos aguas de piedad.

(Versão para o espanhol Félix Coronel)

Águas do amor

Provar das águas do amor
É sempre ter sede,
A sede que não se acaba.

A chave vulgar

Há uma mania nefasta em nosso tempo -- agradar a todo mundo. E para tal, muitos se anulam. Creio que estamos no mundo para sermos nós mesmos, embora isso não agrade àqueles que têm uma vida padrão, vazia para preencher vazios; pessoas sem alma, seres amorfos, que guardam no vulgar a chave da simpatia.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O preço do devaneio

Na vida, somente a alma é tua,
O resto é por empréstimo,
Até mesmo o ar que respiras.
Tudo aqui ficará e tu irás;
Por que renegas tua alma
E a enches de manchas negras
Em troca de devaneios?

Olhos cáusticos

Depois de ver essas imundas fotos
De crianças mortas em genocidas guerras
Tenho vontade de tirar os próprios olhos
E lavá-los com fervente soda cáustica.

Saudoso pentelho

Cruel dúvida
É encontrar um pelo no sabonete
E não ter a certeza
Se é do pincel de barba
Ou se é saudoso pentelho
Da pessoa amada.

Añorado pendejo

Cruel duda
Al encontrar un pelo en el jabón
Y no tener la certeza
De que sea de la brocha de barba
O si es un añorado pendejo
De la persona amada.


(Versão para o Espanhol de Félix Coronel)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Niilismo abestado

Descobri que neste mundo abestado
O nada é essencial para o homem
Vive-se por nada
Mata-se por nada
Morre-se por nada.

domingo, 13 de julho de 2014

A força dos fracos

Ter amante é não amar ninguém.
Ser amante é desamar a si.
O amor total exige exclusividade,
Caso contrário, não passa de luxúria
Ou demonstração de força dos fracos.

Recolhida

Paixão recolhida
É achar a amada antiga
Sempre mais linda ainda.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Poesia, a miséria feliz

Este mundo é tão cão, cruel e tão avacalhado
Que mesmo sendo miserável e despojado
Não desejando ser dono do próprio calçado
Há de existir sempre alguém tomado pela inveja tapada
Invejando tua alegre miséria, tua felicidade alcançada
No amor que conseguiste entre os pobres da estrada.

Apenas um desejo

Ser pequeno, eu mesmo
Entre tantos que se engrandecem
Em suas alegrias que nos entristecem.
Ser pequeno entre falsos gigantes,
Que alardeiam tamanho que jamais tiveram.
Ser pequeno, ser ínfimo, ser nada
Além do rogo de vida numa prece.
Ser pequeno, igual a um inseto,
Que em tão curta existência
Voa contente na grandeza dos céus.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Bíblia dos Insanos I

Os tolos apregoam:
Renegarás o Divino
Em ti e fora de ti,
Queimarás livros,
Cortarás árvores,
Matarás fetos
E ceifarás do teu peito
O amor e quaisquer
Outros resquícios
De humanidade.
Oca há de ser toda alma.

Bíblia dos Insanos II

Os tolos rogam:
Te atentes, Rapaz,
O mundo será enfadonho
Se for feito de paz.
Ou, te atentes, Moça,
A vaidade é sadia
E está na roupa que te veste.
Ou, te atentes Mulher,
Tire de ti o que te atrapalha,
Até o útero que te faz mulher.
Ou, te atentes Homem,
Odeia o teu próximo como a ti mesmo.

Loucura sadia

Desejar ser lúcido
Entre insanos
É uma loucura sadia.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Vinho & Amor

O amor no coração é igual ao bom vinho guardado na adega. Ganha qualidade com o tempo, se encorpa, reforça pequenos sabores e fica delicioso para quem sabe apreciá-lo, mesmo que em saudade.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Paixão à vida

Disseste-me que pareço não habitar este mundo
Sim, talvez tenhas em ti toda razão
Poetas têm um mundo próprio, quase que inabitado
Com mares imensos salgados pelo amor e paixão à vida
Com vales de profunda consideração ao que se ama
E por isso nos esforçamos para descrevê-lo
Para dizer que este mundo banhado pelo ódio e indiferença
Também pode ser igual ou melhor ao nosso e certamente será.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Primavera de teus olhos

Há neste vento uma certa tristeza gelada das manhãs de Curitiba
E nos teus olhos o colorido e o calor de sempiterna Primavera.
Eis a a minha sorte e alegria: tu, ao plantares flores no meu dia,
Não deixas minh'alma mergulhar em melancolias, pois a aqueces.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O tempo que nos surrou

Sou um estrangeiro na cidade em que nasci.
Os aromas, o barro vermelho das calçadas,
As árvores daqui... Quase nada se renovou.
Em saudade, somente o tempo me surrou.

Mansinhas

No céu
Chuva em sossego na tarde fria e preguiceira
No lusco-fusco
Escuros adiantados na luz fraquinha das horas
Nas sonoridades
Sonata que não sabe se é noite ou se é dia
N'almas
Saudades calmas, mansas, mansinhas.

Alegria comprada com a morte

Vós que vestis nosso nobre verde e amarelo
Por suposto patriotismo, na Copa não esqueçais
Que vossas alegrias foram compradas com o sangue
Dos pobres que morrem nas filas dos hospitais.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Espírito morto

Miseráveis homens que têm um deus que a tudo compra
Inclusive suas consciências, suas impudicas indecências
Um deus que satisfaz o ego, que justifica até inutilidades
Um deus que não é Deus, é o egoísmo que mata o espírito.

Tolo escravo

Um homem que não pensa por si não é livre, é tolo escravo a serviço da esperteza dos outros.

Genuflexa

Na Catedral
A cada vez que te olhava
Pecava... Pecava
Genuflexa, no chão, te desejava
Rezavas... Rezava
Sem sentir vontade do perdão.

terça-feira, 3 de junho de 2014

O cacique esperto

"Meu grito de frio guerreiros ouvi
Sou bravo, sou forte, da tribo Tingüi
Mas não sou besta, vamos embora daqui!!!"
(Cacique Tindiquera ao entregar na sacanagem as terras aos portugueses para a fundação de Curitiba, um pouco antes do Inverno de 1693).

Bem-quereres

Infeliz é aquele que olha somente para o chão, seguro de si,
Com enorme medo dos tropeços e supetões n'alma,
Nunca verá as estrelas, nunca sentirá na altura dos próprios olhos
Os prazeres dos bem-quereres dos olhares e corações alheios.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Lonjuras e proximidades

Investigo os espaços, estudo galáxias
Lonjuras medidas em bilhões de anos
Depois olho para os meus amigos próximos
São as partes do Universo que se fizeram perto
E que podem ser entendidas num abraço.

Não é por ti

Um entardecer descansado,
Espetáculo gratuito e único
E tu, pobre alma, no trânsito,
Nas fábricas, no duro emprego,
Juntando grana para comprar um Céu
Artificial, inútil e que não é por ti.

O guizo

A cascavel tem um guizo, não para ataque, mas para mostrar que pode atacar.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Almas lacradas


Têm gentes que não sentem
Lacram suas almas
Calam seus espíritos
Mas em leito de morte
Quando o horror de si irrompe
Que susto essas gentes
Terão como único sentir.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Todavia rio

Todavia rio: quando achei que não, havia uma via e estou nela. Enfim, é a via de todos, com mesmo destino, danado fim e que pode ser percorrida em choro ou riso. E rir dá o mesmo trabalho do que chorar.

terça-feira, 20 de maio de 2014

À tardinha entardeço

À tardinha entardeço já sem pressa
Devagarinho, sem vontade de ir-me
Porque aprendi apreciar a luz
Na curta vida das pequenas criaturas
Borboletas, caracóis, joaninhas
Que tiveram por um momento
Suas feições no feitio do meu dia. 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

De olhos fechados

Como te esquecer
Se no abandono da manhã
Nos meus lábios tenho teu batom
Vermelhos desejos
Se nas minhas mãos
Guardo teu perfume e cheiro
Da saudade o beijo
E quando os olhos fecho
Em exatidão te vejo?

Hospital dos mortos

Todos os dias, santos ou profanos, frios ou ensolarados,
Sou desgraçadamente obrigado
A ver a longa fila de doentes no hospital.
À merda, ó indecentes mercadores da coisa pública!
À merda, ter a certeza que o meu irmão ali vai morrer
Como um cão abandonado, como um indigente roubado!
À merda... Esse assassinato em massa nunca será para mim
Fato normal, obra humana, e sim obra de gente podre e ruim.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Busca tua Alma

Em que canto escuro abandonaste a tua Alma?
Ouve, rouca e menina ao longe ela te chama.
É tempo ainda. Finge o coração que vive oco,
Que louco bate por costume apenas, sem vida.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

As belas coisas do mundo

As belas coisas do mundo
Já estão nele inventadas desde todo o sempre
Com o tempo, descobrimos que somos trouxas
Ao perder a vida tentando reinventar belezas
Não. Nunca teceremos tecido melhor do que o véu da noite estrelada
Do que um amanhecer de Sol vivo e de céus multicores
Nunca faremos lugar mais quente e terno
Do que o colo do ser amado ao nos sustentar a cabeça
Que sonha em contemplação e êxtase
Ao descobrir um algo sempre diferente na sábia criação de Deus.

Bons-dias

Pela manhã desta quarta-feira que avança pelo cinzento frio,
Cruzo o centro de Curitiba e recebo dois únicos bons-dias,
Da puta da esquina e do aleijado que pede -- certamente não são curitibanos.

Coração airado

Ela tinha um coração airado, leve e doce como um chocolate. Era de dar água na boca e provocava, por assim ser, apetites insanos até mesmo em quem se julgava saciado. Um mulherão de arremessar ao coma diabéticos.

O triunfo da besta

Não posso crer que o Amor abandonou de vez este mundo,
Mas, temo que nossos desejos e insistências para que tal aconteça
Um dia se concretizem de fato. Passar pelo mundo e não amar
Será para o homem o triunfo da bestialidade sobre o que nos faz humanos.

terça-feira, 13 de maio de 2014

UTI

Saudade é antigo, sofrido e encardido amor
Respirando por aparelhos dentro de nós.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mentira de amor é esquecer

O morno vento mente
Ao fingir refrescar em tardes quentes.
Igualmente, o amor mente
Ao fingir esquecer o que se sente.

O olhar das mães

Não sei bem definir ternura e carinho
Mas quando escrevo, grato, tiro d'alma
O doce olhar das mães depois do parto.

Mães que sofrem

Lembra-te hoje em tuas orações, nos teus silêncios
Dos soluços das mães que choram em dor
Seus ausentes filhos, suas inacabadas obras
Interrompidas pela violência de nosso bruto tempo.

sábado, 10 de maio de 2014

Germinal

Há um fim que germina nas coisas.
Tudo tem seu tempo, Tudo é finito;
Lembra-te: Tu és vivo, é o que vale.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A gralha azul



A gralha azul voa, voa... Desespera-se

Procura seu antigo pinheiro, seu lar

Pobre gralha, jamais irá compreender

Que as araucárias de Curitiba estão condenadas

Por homens que não se importam com nada

Além da especulação imobiliária e o vil dinheiro.

A árvore cortada

Em troca de pouca água e raios de sol
Dei a ti refrescante sombra para te guardar
Ar para que tu tiveste de mim a vida
Abrigo e alimento em teu temerosos dias
E deste-me na alma com a lâmina do machado
E com os dentes das serras me ofereceste
Teu egoísta sorriso de indiferença e morte.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A luz no teu rosto

O Sol brilha em teu rosto
Somente para dizer-te vivo
Vive pois, além disso
Só há o Sol que imaginamos
Em outro dia, em outra hora,
Mas, o verdadeiro mesmo
É este que te ilumina agora..

terça-feira, 6 de maio de 2014

A prisão de Fulano de Tal

Impudica, despudorada mesmo
Andava quase nua entre os animais da Rua XV
Foi quando Fulano de Tal, que nunca fora preso por assanhamento
Descarado, resolveu cantá-la... Está em cana, guardado e incomunicável;
Acusação -- sentir tesão em pleno centro da cidade.

Poeta louco

Olhar para o Céu, contar estrelas, viajar galáxias
Não são somente coisas de poeta doido
São exercícios de humildade
Em que aprendemos a nossa verdadeira dimensão:
Diante de tais grandezas, somos o nada que pensa.

Poeta loco

Mirar hacia el Cielo, contar estrellas, viajar galaxias
No son solamente cosas de poeta loco
Son ejercicios de humildad
En los que aprendemos nuestra verdadera dimensión:
Delante de tales magnitudes, somos lo nada que piensa.

(Tradução para o espanhol de Félix Coronel)

Nada nos proíbe

Salve, sonhadores!
Nada nos proíbe, pensar e sonhar são as nossas únicas e verdadeiras liberdades de fato e direito!

Pedras

O menino morreu sob o Sol da sexta-feira
Na paranoia das pedras em plena praça pública
Ao longe uma mãe grita, as pessoas a ignoram
Há uma grande pedra em nossos corações.

Manchetes de sangue

O sangue nas manchetes de jornais
O ódio e a rapina nas manchetes de jornais
Não são obras de ficção, são fatos
Jornalista algum teria tanta criatividade
Para reinventar tanto horror e diariamente.

Imóvel

Estética
Estática:
Estátua.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

El resto es incierto

Recuerda el tiempo en que te inventaste
Criatura alguna, a no ser el hombre, sabe de él.
Este es nuestro tiempo y en él está nuestra vida.
Aprovecha el tiempo, que es lo bello de nuestros días.
El resto es incierto, sólo el ahora es el tiempo de vivir.

(Versão para o Espanhol, Félix Coronel)

O resto é incerto

Lembra-te do tempo que a ti inventaste
Criatura alguma, além do homem, sabe dele
Eis o nosso tempo e nele está a nossa vida
Aproveita o tempo, que é o belo de nossos dias
O resto é incerto, só o agora é o tempo de se viver.

Repente

A estrela cadente
Fez um hai-kai de repente
No verso do poeta.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Poeta maldito

Se escrevo defendendo o povo árabe e contra seus ditadores
Sou maldito
Se escrevo defendendo o povo israelita vítima da discriminação
Sou maldito
Se escrevo contra os ditadores, proxenetas da coisa pública que nos exploram
Sou maldito
Se escrevo é porque toda poesia se faz contra o ódio e a ignorância dos homens
Sou poeta e por gosto
Maldito.

domingo, 20 de abril de 2014

Dadinha Terremoto

Chamava-se Dadinha Terremoto
E toda vez que ganhava alguma moita perto do quartel
Com algum soldado que estava de guarda e de valentia
Fazia jus ao apelido, Dadinha dava tudo o que tinha
E o solo tremia como se atacado por tiros pesados de artilharia.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ser como uma borboleta

Ser como uma borboleta
Visitar todas e somente as flores
Porque a vida é tão curtinha
Que não temos tempo
Para nos ocuparmos com miudezas
Com coisas de poucas belezas
Sem gosto, sem alma e sem perfume.

Tonta alegria

Dia triste
E esta tonta alegria
Que me procura
A troco de nada.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Camisa de força

Certos amores, certas paixões,
Já no início, nos presenteiam
Com florida camisa de força
E loucos nos agarramos ao imaginar
De que estamos na última moda.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Lua vermelha de pudor

Ó Lua branca que no céu coraste
Tanta é a vergonha que vês entre os homens
Tanta é a desonra, tanto é o desamor
Que o sangue de todas as vítimas inocentes
Mortas pela violência, fome e guerras
É no teu rosto pudor, é a tua nova e triste cor.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Lua Vermelha

A Lua sangrou para o mundo. Como Curitiba não pertence ao mundo, preferiu antecipar o enterro da Lua com o escuro do luto no seu Céu e um véu de névoa de viúva caprichosa.

Libra

Era do signo de Balança
Mas, tão desequilibrada
Que foi interditada
Pelo Inmetro
Com sintomas de bipolaridade.

domingo, 13 de abril de 2014

Surras nas línguas

São trigêmeas línguas
Nascidas em terras diferentes
Portuguesa, Espanhola e Galega
Todas belas
Mas filhas
De pai mui severo
O velho Latim
A surrá-las diariamente
Com o relho das esquecidas regras.

Leiam

Livros
Nos fazem
Livres.

Lua acesa

Em noites escuras
Todo poeta almeja
Ascender à Lua
Para acender a Lua
E de lá ordenar às nuvens
Chuvas de versos.

Bilhete na geladeira

Parto feliz
Há Deus
Adeus.

Nunca

Nem por força de lei
Te esquecerei.

Curitiba cinza



E os céus de Curitiba experimentam seus 365 tons de cinza.
Mas, há esperança, teimoso é o Sol, teimosa é a vida.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Meu poema decorado

Ainda trago na memória
Teu corpo que decorei
Como se decora um poema
És-me a poesia das tristes horas
Quando desejo lembar
Coisas boas, ternuras
E assim, em cada verso,
Sinto em meus lábios
O teu calor, a tua quentura
Que acodem a curar-me
Da frieza glacial e ártica
Desses meus solitários dias.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Soidade

Em nossa lusitana língua
Há palavras perdidas
Esquecidas, esquecidas
Embora lindas de morrer

Soidade é uma delas
Que significa solidão severa
Aquela que fez Camões
Em tristeza padecer.

Cartão de crédito

A tudo ao meu amor serei atento,
Principalmente ao cartão de crédito
E a outros endividamentos!

Fora da Escola

Menino mulambo que pela rua passava
Olhava para dentro da escola
E para as crianças que brincavam
Naquele jardim de infância
Eu desejava ser criança também
No jardim e na infância que me faltavam.

Do amar e seus cuidados

Ao amar tenha cuidado
Com duas palavras somente
Que são promessas
Porém, às vezes mentem:
Nunca e Sempre.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Choro-me

Choro-me tanto e mudo
Que não sei se é o silêncio que chora
Ou se sou eu que choro em silêncio.

Doce cana, amarga Ana

Para Ana Gomes Veiga
Ana da Roça, quando menina
Era doce como a a cana madura
Mas moça, virou revolta
Com os calos nas frágeis mãos
Feitos pelo cabo do cego facão
Que empunhava com destreza
Ao derrubar uma lavoura inteira
Deixou até de ser gente
Assim cortava soluços, assim chorava
Mãos estragadas, futuro morto
Doce açúcar da cana, amarga Ana.

Barriga, adeus

Cultivada e mantida
Com os mais finos ingredientes
Do bom malte ao ótimo lúpulo
Eis que minha ingrata barriga
Resolveu me dizer adeus
Em longas caminhadas.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Jantar íntimo

Pizza quatro-beijos
Temperada com sorrisos
Um bocadinho de mistério
E tua quente carne ao vinho
Sobre a mesa da cozinha
Em fogo, em labaredas. 

O pacto do sovina

Era tão sovina, pão-duro mesmo
Tão egoísta que
No pacto de suicídio
Deu água para sua amada
E sozinho tomou todo o veneno.

Sequestro de luzes

Vontade de virar sequestrador
Manter em cativeiro essas luzes todas
Dos crepúsculos, dos astros e do alvorecer
Enfeitar com todos os brilhos teus cabelos
E no escuro do que sobrar, ao anoitecer
Roubar-te um beijo e sem exigir resgate.

domingo, 30 de março de 2014

Transeuntes em transe

Clamores de amores
Para vidas vazias.
Escuto escondidos
Pedidos aflitos de amor
Quando na rua
Caminho e olho
Para os que transitam
Com seus olhos
Desorbitados
Em espanto e transe.

Clamores

Converso com meu Deus
Em linguagem simples
Falo as línguas
Do meu povo
E do meu tempo
Ao meu povo
Clamo menos
Sofrimentos
Ao meu tempo
Clamo mais
Esperança.

Curitiba, tu és Lua e Sol

Curitiba, tu és a Lua
Com tantos buracos nas ruas
Curitiba, tu és o Sol
Com tantos falsos brilhos
Que te dão e de ti tiram
Dê, minha bela e amada cidade,
Um pé na bunda (dos bem dados)
Nos negociantes da coisa pública
Que te querem tão imunda quanto eles.

Feliz cidade Curitiba

Felicidades, Curitiba
Feliz cidade Curitiba
Pena que, com tanta gente boa
Tanta gente fina neste mundo vão
Foram te dar um prefeito cagão.
Felicidades, Curitiba
Feliz cidade Curitiba.

Cascudos em piás pançudos

Amar Curitiba
É dar cascudos
Nesses piás pançudos
Governantes, incompetentes
Que, com surtos de caganeira,
A enchem de bobagens
Saídas de seus intestinos
Que tomaram lugar da mente.

O sexto marido

E a ré
Viúva má
Que sumira
Com cinco maridos
Tremia
Conduzida sob vara
Para o depoimento
No tribunal
Bela, seria absolvida
Pelo seu novo marido
Já de alma encomendada
A bater martelo
Perante jurados.

Celebra a vida!

Antes de que lamentes o tempo ruim
Picuinhas, gato, cachorro, sogra
Cunhados, imposto de renda, família...
Lembra-te dos que foram há pouco
Sem conhecer este Domingo.
Vive. É dia de celebrar a vida.

Treinamento para a solidão

Há coisas que precisamos de treino e costume:
Viver só, por exemplo.
E digo, há certo engano nisso. Ninguém é só completamente,
Porque dentro de ti está tua melhor amiga, a que realmente quer teu bem.
A Consciência sempre com a mão estendida para ajuda
Sempre pronta para um bom conselho.
E que te diz sem solenidade, mas em piedade: escuta!

sábado, 29 de março de 2014

O peso da terra

Que imortais deuses esses
Que pensam mandar
No mundo e nas gentes
E decidem quem vive e quem morre
Por pensar assim, ou diferente deles
Por certo ignoram
Fato tão corrente
A terra que cobrirá a todos
Terá sempre o mesmo peso
Ao soberbo
E ao indigente.

Aos amigos poetas

Vamos continuar
Pregando no deserto,
Talvez, um dia isso dê certo.
Ou ficaremos roucos
Ou ficaremos loucos
Mas essa é a missão
De quem vive
Pelo coração.

Revolucionário é viver

Para alguns
Revolucionário
É promover o ódio
E a morte
Para mim
Revolucionário
É promover o amor
E a vida

Revolucionário
Meus amigos de Sorte
Do mais roto
Ao mais rico
É simplesmente viver.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Alegre, mas chora

Tenho uma alegria
na minha tristeza
que
de
tão
alegre
chora.

O que nasce no meu jardim

Jardineiros, tão barulhentos
Com seus instrumentos de morte,
Saibais que, no meu jardim
Nasce o calmo silêncio da vida.

Proxenetas da bela Curitiba

Curitiba de antigas lembranças,
Como eras linda, linda, linda.
Hoje, esses proxenetas da boca do lixo,
Esses políticos te sovam, te maltratam.

Ao te tratarem como meretriz,
Esses rufiões de tuas belezas
Ao mesmo tempo, Curitiba,
Em que te enfeiam, te roubam.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Outrossim, outonal

Outonal
Palavra
Que sempre
Desejei usar

Mas não sou simbolista
E não sou da romântica poesia
Dos velhos poetas insanos
Que juravam morrer de amor

Querem-me realista
Pobre pós-modernista
E que se proíbe palavras
E expressões sentimentais

E assim, outonal foi banido
Dos meus duros versos
Como as folhas das árvores
Em outonos outonais

Outrossim, outra sorte
Hei de achar para tal adjetivo
Delicado e fora de moda

Pois ele é justo e cabe em ti
E merece ser colocado
Novamente em voga

Assim

Minha flor fora de estação
Temporã e outonal rosa singela
Que acorda pela manhã
Passeando pelo meu jardim
Flor andante
Vem, vem
Dá-me outonal beijo aqui mesmo
Escandaloso
Daqueles de dar inveja
Nos vizinhos que nos espiam.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Demência

Esta é a sina e o sacrifício
É quase insuportável
A demência do mundo
Para se viver no hospício
Tem que se ser louco, ou
Fingir-se de doido também.

A vaca e o bife

-- É uma vaca essa minha irmã!...

-- Sei...

-- Fala pela bunda!...

-- E que bunda!...

-- O que você disse, Raimundo?...

-- Nada! Coitada da minha cunhada...

-- Vaca!...

-- Isso você já disse. A propósito, o que tem para o jantar?...

-- Bife!

terça-feira, 25 de março de 2014

E quanto te vejo!

Quando te vejo -- e quanto te vejo!
Sinto meus olhos em alegria de menino
Saltitantes, revirantes, exaltados
Como se eu tivesse ganho mimo inesperado
Ou a felicidade de possuir o mundo
Só no fato de figurares nos meus olhos
Como flor enquadrada num quadro.

Baez tira Geraldo Vandré da toca

Baez tirou Vandré da toca
Eh, Baez, vou fazer protesto
E vai ser um deus que nos salve
Comendo tapioca, para arrumar
A rebiboca deste país
Em plena praça Castro Alves!

Pátria e meus amores

Quando criança
Nunca tinha ouvido falar de Poesia
Um dia ganhei um caderno
Desses gratuitos do governo
No verso dele, os versos a nossa bandeira
E imediatamente como se inspirado
Por coisa divina, diabólica ou equivalente
Saquei do peito uma sofrível quadra
Que casava flâmula ao que inflama
Depois escrevi versos para a loirinha
A doiradinha que se sentava ao meu lado
Deste momento, enfim
Soube ser predestinado
A cantar minha pátria
E amores, muitos amores num sem fim.

Lirismo & Modernagens

Todo poeta novo; todo poeta em criança
Começa com versinhos apinhados de rimas
Ou até mesmo medidos e metrificados

Mas daí vêm esses modernismos modernos
Dizendo que a vida é desconstrução
Não há o certo e ou errado não
Muito lirismo num mundo desamado
Talvez não caiba não

E que o correto é deixar para o leitor
Descobrir o ritmo que lhe vai no coração
Ritmo das modernagens, das máquinas

Daí o poeta fica brigando com tal crença
E procura desesperado dentro de si
A lira que marca os compassos de seus versos
Pois é no pulso pulsante do Universo
Que se repete o ritmo da criação

E com o tempo, o poeta descobre
No mais elementar dos átomos
Na mais ínfima partícula
Na mais grandiosa galáxia
A cadência e de tudo a pulsação dispersa
O ritmar da infinita e cansada marcha
Da Eternidade que a si se lê e determina
Nosso mistério e propósito nesta imensidão.


Lendo o grande Poeta

Este Sol, esta manhã
Dizem que Deus escreveu bonito
Os versos de luz que te guiarão
Do alvorecer ao fim do dia.

Vai meu amigo, vai meu irmão, vive
Esta claridade pode ser vã e passageira
¿Quem sabe se o Grande Poeta
Acordará inspirado amanhã?

Radiografia

Tem gente que fica bonita
Até em radiografia
Linda por fora, bela por dentro.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O castigo de Netuno

Vestida com o tecido do vento
Na noite de luz de Lua Cheia
Ela se me apresentou
Era do mar a Sereia -- disse-me.

Oferenda da veneranda Deusa
Aos navegantes de braços cansados
Aos homens que ao mar se lançam
E aos oceanos desejam
Como derradeiro berço.

Homens que, pelo isolamento
Pela falta do contato humano
Só têm em paradas no porto
Alguns carinhos e contentamento.

-- Mas, Netuno há de me castigar -- disse-lhe
Não posso, Minha Divindade
Amar, mesmo que por pouco, uma Sereia
É para os mortais sentença de morte.

E ela me olhou com pena
E disse que não -- não para mim
E me afagou os cabelos
E me fez sentir homem pleno
Ali, na areia mesmo, ao luar
Da meia-noite ao amanhecer

Depois, quando eu dormia,
Sumiu, amou-me por uma noite apenas.

E Netuno como castigo não me tirou a vida
Porém, em noite de vento sereno
Coloca no meu coração a baldes
Mais saudades do que as águas do mar.


Excesso

Caótico coração
Bate por nada
Dispara por tudo
-- Sofro do que, doutor?
-- Excesso de amor.

domingo, 23 de março de 2014

A moda pelada

À Ana Clara Garmendia

MOTE

Para que falar em moda
Feminina no Brasil, 
Se saem todas peladas?
(Ana Clara Garmendia)

VOLTAS

Nesta terra tropical
Mesmo no duro Inverno
Para que falar em moda
Se neste danado inferno
O costume que aqui voga
É o de pelado ancestral

Nas rua, a sós, quase nuas
Desfilam, passam peladas
Com suas cuidadas unhas
Sorriem sempre caladas
Em busca de pobre coitado
Que de moda entende nada

O homem brasileiro ilude-se
E na rua aplaude as beldades
Como ainda fossem as índias
Porém se esquece amiúde
Da mulher que tem em casa
Que nada usa sob lençóis.

E aqui fica sem resposta
Essa pergunta mui sutil
A deixar gente abalada:
Para que falar em moda
Feminina no Brasil, 
Se saem todas peladas?

Branca é a Rosa dos Ventos

Ó minha América, Latina América
Nem bem te curam uma cicatriz em teu coração
E fazem outra e mais outra e mais outra

Ó ditadores, ó tiranos, ó farsantes, ó sanguinários
Deitados nos berços populistas da fantasia

¿Se sois bons, por que censurais?
¿Se sois populares, por que torturais?
¿Se quereis o bem, por que fazeis o mal?
¿Se sois generosos, por que o porrete?
¿Se sois honestos, por que tanto roubo?
¿Se sois homens, por que vos fazeis animais?
¿Se sois homens, por que matais?

Mas, cuidai, tiranos! Cuidai com os novos ventos
Há um vento que vem do revolto Pacífico
E outro que sopra nervoso do Atlântico
Um se chama Justiça e o outro Verdade
Os dois hão de se encontrar
E de vossos terríveis crimes contra o povo
Esses ventos cobrarão vida por vida
Sofrimento por sofrimento, ato por ato
Atentai, ó sanguinários farsantes
Branca é a paz, branca é a Rosa dos Ventos.


Tardios arrependimentos

A vida é muito curta
Para se viver sem amor,
Deixá-lo para depois.
E se faz mais curta ainda
Se for para viver longe dele.
Amor, para o simples mortal
Sem hora de ir, porque irá
Sem tempo para despedidas,
Há de ser sempre prioridade.
Da urna lacrada nunca ninguém saiu
Para comunicar ao amado
Tardios arrependimentos.

Das musas e bruxas

Se amas, fala
Não faça como eu
Este tímido poeta
Que demorou 30 anos
Para dizê-lo
E quando disse
Um mês depois
Se arrependeu
Em 30 anos
O amor pode passar
Da musa para a bruxa
Infelizmente
Topei com a segunda
Mas mesmo assim
A ela agradeço
Os mil versos
Que me deu.

sábado, 22 de março de 2014

Um oitavo de riso

Matematicamente, sentimentos são indivisíveis
Ninguém odeia pela metade
Ninguém ama apenas um terço da pessoa amada
Ninguém sorri apenas um oitavo do riso
Caso tu consigas fazer essas divisões
Passa longe de mim, pois tens um coração falso
Mecânico, de aço, sinto muito, não és gente.

Sarar na sexta-feira

Não queira sarar numa sexta-feira
A carência de uma vida inteira
Está cem por cento provado
Amar tem que ser uma prática diária.

O vento e o nó

Virtuose do canto lírico
Cuidou da garganta a vida inteira
Um dia, desprezou um ventinho
E um agudo vingativo, ainda na coxia
Deu um nó nas suas cordas vocais.

O baixo contrariado

O contrabaixo é um instrumento revoltado, do contra mesmo
Dos instrumentos da orquestra, é um dos mais altos em estatura
Mas, por despeito dos outros é sempre chamado de baixo.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Fases da Chuva

Garoa

!.. !.. !..!..!..!...!

Chuvinha

!!!!!!!!!!!!!

Chuva

!!!!!!!!!!!!

Tempestade

!!!!!!!!!!!!

B o n a n ç a
! (        ) !    (     ) ...

Das coisas para se aprender

Enquanto tiver Lua no Céu
Vamos falando da vida
De coisas para se aprender

No suor, vamos ganhando o pão
Na simplicidade tudo vive
Por que tentar ser diferente?

Neste mundo vale ser gente
E sentir nas coisas pequeninas
A grandeza de se viver.

Esquecido, mas não de todo

É verdade, sou um esquecido
Esqueço de colocar um dos pares das meias
Esqueço de colocar as cuecas
Temo o dia em que esquecerei de colocar as calças
Mas não esqueço fórmulas e constantes matemáticas
Um bom verso de amor para dizer a quem amo
As canalhices que fazem contra meu povo
E o rosto dos canalhas que as praticam.

Corrida

Vermelhidão no rosto
Corre
Esbafora-se, corre, esbafora-se
Certas gentes, muitas gentes
Mesmo atletas do coração
Não conseguem se livrar
Da Solidão.

A Trompa de Eustáquio

A contragosto
Eustáquio entrou na banda
Para tocar trompa
Queria mesmo as cordas
Não as vocais
Mas as cordas do contrabaixo.

quarta-feira, 19 de março de 2014

A Chuva e Villa-Lobos

Escuto duas sinfonias ao mesmo tempo, a da chuva e a de Villa-Lobos. Misturam-se em intensidades: a primeira, breve neste molhado Verão, mas que voltará sempre e sempre para fecundar as plantações, para ser Verão; a outra, beliscando a eternidade em tons graves que marcaram o último século e determinaram este, em início tão violento, tão sem alegria, tão desesperançoso para a humanidade.

terça-feira, 18 de março de 2014

Coxa bamba

Resistirei bravamente
Com minhas pernas bambas
Até que elas se resolvam
Salvarem-se por conta própria
Em desembalada carreira.

Bala perdida estraga os dentes

No tempo dos afonsinhos
Que se perde no sem-fim
Menino chupava bala
Meladas balas de doce
E as mães ralhavam tanto
Pois, estragavam os dentes
Hoje, as balas são perdidas
De chumbo, de cobre e aço
Do revólver ou fuzil
Balas soltas sem destino
Que apavoram tanta gente
E as mães pedem nas suas preces
Proteção aos seus meninos
Para os anjos, não só p´ros dentes
Mas, para o corpo inteiro.


Os governos de nada

Ah! essa incrível capacidade humana
De dar nome e títulos ao nada
Assim,
Temos o nada presidente
Temos o nada governador
Temos o nada prefeito
Temos o nada legislador
E esses nadas se defendem
São solidários em seus vazios
São solidários em suas maldades
E nos seus discursos decorados
Dizem que são os nadas necessários
E o povo que o nada não entende
Tem em seus pratos o nada constante
Esmolas de nada da caridade pública
E por achar o povo agradecido
Em cada eleição o nada aparece
Quer o voto dos que nada entendem
Por causa do seu caridoso coração
E o nada do palanque brada
-- Obrigado, obrigada!
E o povo que nada entende diz
-- De nada, nada! Volte sempre!
E na falta do nada reeleito
Inevitavelmente, outro nada se apresenta!

Não carrego lixo

Não vejo o Faustão, 
Nada da televisão. 
Ignoro quem seja Anita. 
Tenho vaga ideia 
De quem é Luan.
A cabeça me é leve, 
Não carrego lixo; 
Minh´alma é tranquila.

Cestinho de junco

Órfão
Fui colocado num cestinho de junco
Em rio de corredeiras

Com medo
Desejei ser salvo como Moisés

Mas meu cestinho seguiu viagem
Nele ainda estou, nunca vou deixá-lo

Não sei o que vem
Nunca sei

Depois da curva do rio
Navego pelos perigos
Com a desenvoltura
De marinheiro nato
E nada mais me faz susto. 

O fiofó do povo

Nosso valente prefeito
Sempre há de arrumar jeito
De tirar o fiofó da reta
Grande penteador de ovo
Tem na cabeça coisa certa
Colocar sempre na reta
O fiofó sofrido do povo.

Irresponsáveis públicos

-- Morreu na fila da Unidade de Saúde...
-- Ataque cardíaco, sem atendimento...
-- Os responsáveis serão punidos?
-- Não, são tantos os irresponsáveis
Que é impossível punir um responsável só...
-- E que Deus tenha piedade...
-- Piedade da alma dos irresponsáveis públicos.

Para te fazer vivo e tirar a cera do ouvido

Um número incontável de estrelas
Sendo o Sol apenas mais uma delas
Uma Lua, uma Terra enorme
E tudo revela um esforço grandioso
Das forças universais para te fazer vivo
E a tua pergunta - O que faço aqui
Além de tirar cera do ouvido
Para ouvir melhor os jacus do BBB?

As operárias

Canto o azul
Dos esperançados
Canto o cinza
Dos desgraçados
Canto o azul
Dos uniformes
Das operárias
Que deixam a fábrica
Sob o cinza
Do final da tarde.

Rio dos males

Rio dos meus males
Na vã esperança
De que eles digam
Que vão se embora
Pois rir de quem
Nos dá a ruína
É o que nos resta
Nesta tragédia.

segunda-feira, 17 de março de 2014

O prefeito, rará!

O imodesto e abestado
Grande impostor
Jumento juramentado
Diz no circo e na TV
Que ele é a melhor flor
Que em Curitiba já nasceu
Prefeito melhor não há

De fato, em preguiça
Imbatível, rará!
Em incompetência
Imbatível, rará!

Tal bom conceito, rará!
Foi seu anão quem lhe deu, rará!

Seus bobos da corte no entanto
Escondem que a coisa está feia para chuchu
Que o rei está nu!
E que o povo coitado, rará!
Anda cansado de tomar no..., rará!

Elogio ao buraco do prefeito

Ó buraco de rua
Nunca foste tão feliz
És grande e cresces dia-a-dia
Com o prefeito que se tem

Ó buraco de rua
Que a quimera acalentas
De um dia virar piscina
E cumprir a sina de engolir
O prefeito que se tem

Ó buraco de rua
O teu sonho está próximo
Mais alguns dias
E a cidade vira buraco também.

O Verão se despede

¿Quantos Verões
Virão por ti, meu irmão?
Este Verão se despede envelhecido
¿Quantos Verões veremos ainda
Quem os verão e até quando?

Medida do coração

¿Queres medir o teu grau de humanidade?
Olha para teu coração e meça a quantidade
De piedade que nele há e cabe
Piedade e não pena de teu semelhante
Pena é sentimento mau e menor. A piedade é benigna
E só nasce em corações verdadeiramente humanos.

A máscara de Bhaskara

¿Não sabeis o motivo
Ó viventes
Para aprenderdes
A fórmula de Bhaskara?
Pois tirarei da Matemática
A máscara:
Tal fórmula
É código dos ETs
Numa invasão
Quem não a souber
Será condenado
Pela eternidade
A fazer círculos
Em plantações de milho
Recitando o valor de Pí
Até a trigésima oitava
Casa decimal:
3,141618....

Ruas da Lua

Que sujeito mocorongo
Prefeito mongo perdido
Ele que jura ter trazido
A luz da Lua a Curitiba
E para marcar o feito
Algo bizarro e espetacular
Aplaude a rua com defeitos
Sempre a imitar os buracos
Da superfície lunar.

Campeio

Eu campeio amor verdadeiro
Tal qual vaqueiro que em suor
Entre os espinheiros procura
A rês solta, o boi perdido
E só temo uma coisa, que a busca
Qualquer dia, me fira os olhos.

Estoque de carinhos

Quando estou longe de ti
Faço estoque de carinhos
E fico imaginando
Como devo gastá-lo
Sem economia, no reencontro.

domingo, 16 de março de 2014

A Tarde que vai contente

A tarde que foi quente
De mim se despede contente
Nunca será igual a outra tarde
(Nem sei quantas inda tenho)
Mas a esta tarde sou grato
Pois em suas nuvens estratos
Deu-me um poema
E outros que ainda não sei
Mas que estão latentes
Vá... Tarde amiga
Vá ... Tuas luzes pedem descanso
Minha lira iluminada
De ti tem os encantos
Decantados neste canto.

Dos mitos

Lógico,
Vegetariano gosta de pau mitológico:
Palmito.

Nem a Loira Fantasma

Ando numa fase tão lazarenta que, ontem à noite, passei por perto do cemitério e nem a Loira Fantasma me deu mole ou fez convite para uma simples conversa.

Marinheiro de navio fantasma

Marinheiro de navio fantasma de 1814
Dancei mazurca no porto por 3 horas a fio
E fui inscrito no BBBrasil
Seria a dancinha da moda de 2014.
Quanta falta de criatividade neste século!

Traição

Medo de me apaixonar pelas meninas de teus olhos
Traição seria -- te trairia e à primeira vista!

Quando o Amor é morto

Dizer Adeus é como comunicar uma morte
De algo que viveu em ti e foi em ti
Querido e indispensável

Morreu o Amor
Pode continuar querido, talvez
Mas morreu

De nada adiantarão suplicantes olhos
Não se faz vivo novamente o que é morto
Falhaste em manter o Amor em ti vibrante

Prova do sal dessa lágrima que te escapa
E engula tudo que irias dizer em grave instante
Não se faz vivo novamente o que é morto.


sábado, 15 de março de 2014

Arrepio

A Saudade me aperta
Como tu me apertavas
E beija-me
Como tu me beijavas
E me chama no ouvido
Em arrepio,
Como tu me chamavas.

Insuportavelmente feliz

Acordei-me insuportavelmente feliz
Aparentemente sem motivo algum
Não tive vontade de chutar o gato
Não maldisse o barulho das ruas
Passei café e olhei para mim
Absolutamente, não poderia estar assim
Feliz
Mas estava de até sorrir por nada
Olhei para a janela da cozinha
E lá fora a vida seguia
Com as primeiras luzes do dia
Promessa de Sol
Promessas tantas
Inclusive de felicidade
Que de há muito não sentia.

Contra os impostores

A poesia social não pode ser mansa
Porque ela lida com impostores
Que submetem os mais fracos
Pela pilantragem, lábia e força
Por isso dos versos agudos como lanças
Furando a bunda desses vagabundos.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Cunegundes mora em Curitiba

Depois da ponte estaiada
O doutor Pangloss deu o laudo
E o perdido prefeito
Assinou decreto
Declarando Curitiba
A melhor cidade
Deste vasto Universo

Cândido não pensou muito
E rogou a sua bela amada
A gentil e nobre Cunegundes
Para que aqui fizesse morada

Agora Cunegundes é contente
Pois ela e Curitiba têm no nome
A coincidência silábica
Em virtuosa sílaba repetente

Duas letras inconfundíveis
Do buraco que cheira, fede
E exala o que certos políticos
Têm em suas pobres mentes.

Perdoai

Não alimenteis
A vossa alma
Com mágoa

Mágoa colesterol ruim
De nome rancor
Que desfigura
A vida, apaga o Sol
E só traz tristeza

O bom alimento
Para toda alma
É o perdão
Mesmo que demorado
Tardio
Mesmo que nascido
Da própria mágoa

Perdoai
Para que tenhais
O espírito saudável.




As Marcelas de Março

¿Março de marcelas florido,
O que ainda me guardas, se findo?
¿Esta dor que vai me consumindo
E me faz triste e tão aborrecido?

Olho as flores vivas no campo
E clamo pelos antigos cânticos
Aos Céus, a meu bom Deus, aos santos
A sorte dos lírios que canto.

Neste sofrer creio em limite,
Porque minha alma se entrega
À morte ou ao que mais existe.

Em tudo vê cura e se apega
Esta alma, que na dor insiste,
E lenta de mim se desprega.

A Faxina

Veio-me na humildade de pobre braçal
Limpou-me a alma com pano limpo
E juntou meus pedaços espalhados
Pela casa, pelo quintal, por onde andei
Depois, ao certificar-se da boa faxina
Perfumou-me com aromas do bem-querer.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Haikai de caboclo

Sou caboclo, moço
Não vou entrá no seu haikai
Vade satanais!

É de cantá que nói avive
E cantá não se esquece mais
Modernage nos agride
Vá prosá noutro lugá
Haikai pra descorsoá
Tem verso de pé quebrado
Moda boa nunca vai dá.

Ovo na marmita

Ó grande olho amarelo
Que me olhavas da marmita
Juntado aos carboidratos
Do arroz e feijão como brita
Foste minha energia de peão
Que deixei na construção
E lá eternamente habita.

Lâmpada acesa

Quem tem sua princesa
Longe da própria cama
Convém dormir de lâmpada acesa.

Pirraças de Amor

Minha amiga, bom mesmo
Na vida bem temperada
É aquela briguinha de ciúme
Com suas pirracinhas magoadas
Para dar gosto e perfume
Ao amor que nunca se acaba.

No vento

Chegaste no vento
Juntada ao ar que respiro
Amor, por ti vivo.

Sátiro

Eu busco sorriso
Nas cócegas doutro verso
Mui pândego e sátiro. 

O político e o mendigo

Na mais farta mesa
Um político pastava
Bacalhau com vinho.
Na mais triste via
Pobre mendigo rogava
Pelo amor de Deus.

Vagão paulista

Pena do fantasma
Daquele vagão sucata
Pobre alma sem teto.

Fora da faixa

Falei pro tontão
Se atravessa, o carro pega
Pegou. Tá mortinho.

Promessa de nuvem

Essas nuvens cheias
Prometem boa água limpa
Ao meu mundo imundo.

Curvas do rio

Rio tortuoso
Em suas curvas tudo enrosca
Igual ao viver.

terça-feira, 11 de março de 2014

Amo muito e te amo tanto

Amo muito e te amo tanto
Que duvido
Se sou eu, ou se sou o Amor
Quando te canto

E ao duvidar de mim
Sigo cantando
Os teus mais simples gestos
Os teus mais loucos encantos

Canto a ti
Como que sejas minha alma
Pois tu me dizes existir

Canto a ti
Como que sejas divindade
Pois tu me dás a vida.


Escândalo

Não existe o Amor contido!

O Amor que em si não cabe
E o Amor por si somente
Já são exageros d´Alma

Amor exagerado
Amor que tropeça nos próprios pés
Amor escandaloso
Amor piegas
Sempre amor
O Amor diz quem realmente vive
Ama, portanto, escandalosamente
Do contrário, passarás como o vento do nada
Soprando sobre o escândalo que é esta vida.

Cão Estropiado

Ó coração sem dono
Ó cão estropiado
Que a esmo procura
Sobras de amor
Carinhos perdidos
Cantos pra sossego.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Reencontro

¿Para aonde foi todo aquele amor, onde está guardado
Aquele fogo todo, aquele bem-queimar?
Fogueira extinta, fogo morto, só cinzas
Num frio ´´Como vai``... ´´Boa-tarde, até mais``...

Testamento (mãda)

Fiz-te um poema
Livre como o vento desta tarde
Tão claro quanto o brilho deste Sol de Março
Mas em português mui antigo
Porque sinto meu querer por ti
Anterior aos séculos, anterior a mim
A ti, mia molier
Fiz mia mãda
En o nome de Deus
Seendo sano e saluo
Per que de pos mia morte
Meu amor inda será teu.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Inferno Curitibano

Então, neste Carnaval
Vinte e seis pobres almas
Congelaram-se no IML
Vão ganhar lugar no Céu
Ao expiarem pecados
No Inferno curitibano
De violência e morte.

De cara

Olhavam tanto para a bunda dela
Que um dia ficou tão brava e puta
Que trocou a bunda pela cara
E ficou com uma linda cara de bunda.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Assossega a periquita, cumadi!

Cumadi andava no aperreio
Nas quenturas, nos devaneio
Um dia, na tarde da tardinha
Veio, se aconchegô e largô
-- Cumpadi, que calorão!

Disse que não -- tempo afrescado...

Mas daí ela me estranhou
-- Cabra, já chega seu cumpadi... Afrescado...

Olhei pro canto, de revesgueio
E vi cumpadi Aristidi
Ascuitando os passarinho
Com a violinha nos braços
Tentando imitar as vóiz dos bichinhos

Daí oiei pra muié e aconseei
Traí o cumpadi é fácil
Mas num traio amigo
Sou cabra de respeito
Toma um banho cumadi - dos frio
Assossega a periquita...

Cum réiva
Ela nunca mais falou comigo
Nem me zóia na cara

Cumpadi nunca soube disso
E assim nóis avive
Ascuitando passarinho
Espantando a safadeza da quentura
E assossegando a periquita da cumadi
Periquita reiventa que não mais canta
Nem mesmo quando tá calor
De dar nas venta..


Transfusão urgente

Triste meu olhos são
Minha alma precisa
Urgente
De uma transfusão
De alegria
Da alma tua.

Saudade, dor das dores

A minha vida foi feita de dor - dor sempre
E dor a gente não mostra, somente sente
Dor em altar, exposta, é triste vaidade
É dor que se divide em dores por maldade

Tive dores pequenas e dores enormes
Elas todas me deixaram o peito disforme
Dores de doce amor; doce que ficou amargo
Dores apaixonadas deixadas ao largo

Mas, das dores não há pior do que a saudade
Cravada como cruz na solidão da morte
Dos meus que me largaram em vazia amizade

Mas, se a soma das dores nos tira o norte
É preciso arrumar o bem na atrocidade
A fim de que se ria para se fingir forte.


Galinhada completa

Uns gostam das coxas
Uns gostam do peito
Eu gosto de tudo
Se for uma galinha
Há de ser comida
Assim e sem pena alguma
Não tem outro jeito!

Café Forte

Pela manhã
Num ritual de fé
Passo café forte
Para não me esquecer
Como devo ser
Enquanto a vida passa.

No ar




A Saudade usa o teu perfume.

Pra frente

No caminho do tempo
Só há um rumo:
O que está a tua frente
O que passou não mais existe
E ficar parado não adianta
Ele vem, passa e te arrasta.

Doido

Se queres uma vida feliz
Não contraries doido
Não insultes cão raivoso
Não ames gente infeliz.

De ônibus

Tem gente que pega táxi
Para uma estação lunar
Mas eu vou da estação
De ônibus para o bar.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Dueto de caixinhas de fósforos

À noite, já de madrugada
O aposentado cirurgião cardíaco
Era assombrado por olvidados
Corações mortos e sem salvação

Todos batiam e queriam ser ouvidos
Um batia na batida de samba
Outro batia na batida de jazz
Outo batia na batida de tango

E na confusão formada
O coração do cirurgião
Batia na batida de filme
De terror norte-americano

Mas depois se acalmava
E chamava o coração sambista
Para um dueto de batidas
Em caixinhas de fósforos.

A Arte de Escutar-te

O silêncio me aborrece, querida
Deixa eu ouvir teu coração
Quero escutar a minha vida.

Quarta-feira de Cinzas

Na Quarta-feira de Cinzas
Se desfez da fantasia
Olhou para o espelho
E viu que nele estava a pessoa
Que sem graça sempre fora
E sentiu que a realidade
Tem um enredo repetitivo
Que não disputa Carnaval.

Desfaçatez

A imoralidade desses ordinários que dizem governar o país
Chegou a tal ponto que se desculpam dos crimes dizendo
Que os deles são menores perante os outros que os antecederam
Como se fossem ladrões melhores porque roubaram pouco.

OS DEGREDADOS E OS NOVOS LADRÕES

Olhai, meus amigos. Olhai, meus irmãos
Este vasto Atlântico que banha Portugal
É o mesmo oceano desconhecido e abissal
Que trouxe lágrimas de sal a esta nação

Trouxe-nos ele os grandes heróis Cruzados
Que aqui não ficaram
Pois em naus buscavam em todos os mares
As glórias passageiras deste mundo cão

A todo torrão encontrado
Faziam erguer  uma Cruz
E partiam em busca doutras terras
Apenas por Netuno guiados

Mas por desgraça e vontade dos Ceús
Foram essas mesmas naus
Que suportaram o açoite das tempestades
Que aqui deixaram os degredados, os condenados vis
Para escravizar os nativos e formar governos desonrados
Legando aos que viriam triste herança moral de seus crimes
Perpetuada nas leis que penalizam o povo
E livram os verdadeiros ladrões do cárcere.

Assim se formou nossa pátria
Errada e  já tardiamente
Paraíso tropical, que nunca deu certo
Pois o que a governa despreza
O suor de sua honrada gente
E a rouba e a escraviza e a submete
Descaradamente, vergonhosamente

De tal sorte que, qualquer governante
Salvo os poucos decentes
Teve nos degredados
O exemplo que fez seu
Pois sua índole nunca foi heroica
Antes foi sempre má e indecente.

¿Ó Portugal, grande pátria da minha ancestral língua
Pátria de homens de valor, de gente trabalhadora e boas leis
Por que nos levaste quase todos os bons e nos deixaste os trastes?