quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Mercadores do nada

Eia, mercadores da comunicação perecível e sem sal!
Da futilidade necessária!
Da inutilidade necessária!!
Da verdade desnecessária!!!
E que te ensinam como preencher o vazio com vazios!!!!

Macaquice

Das velhas expressões esquecidas
Há a macaquice
Ato de imitar o ridículo e se fazer ridículo.

Vesgo e depenado

Quem tirou as penas das asas do teu anjo, anjo meu?
Quem fez do teu anjo cupido um vesguinho, anjo meu?

Tanto

Amo-te tanto e tanto te amo
Que sinto até ódio
Deste amor que sinto tanto.

A medida

Deus é a medida de todas as coisas
Deus é Amor
E o Amor é a nossa medida.

Cérebro gourmet servido para sujeitos de quatro patas

A lógica honesta por si só busca a verdade
Por isso sempre tem como princípio a verdade
Mas há lógicas que partem da mentira
A dos cães cínicos e a dos umbigos dos sofistas
Armadilhas para arrebanhar homens em seitas
Mas de todas as lógicas uma se faz a mais terrível
É a lógica dos parvos, simplória e estúpida
Que procura na loucura das multidões-manadas
Destes nossos medonhos e apressados dias
Construir verdades de hospício
Como provar que um cavalo é um pato
E que os espelhos dos homens são os jumentos
Assim, os patos grasnam em rotinas estúpidas
Pastam capim gourmet, vivem no curral dos shoppings
Relincham e dão coices no ar ao ouvirem sons sem sentidos
Seguem a moda e compram sempre quatro sapatos
Porque todo pato moderno pensa ter quatro patas
Depois, em comícios, urram como jegues frenéticos
Emburrecidos pelos líderes da lógica dos néscios
E exigem participar daquilo que não participarão
Dos insanos banquetes da inépcia e do mau gosto
Em que serão servidos seus gratinados cérebros.

Ballet

A dança é a poesia do corpo
É a alma em movimento.

Sono da eternidade

Viventes da preguiça que dormem até mais tarde
Acordem e vivam muito
Pois para dormir, teremos a eternidade!

O falar mudo dos corpos

Curitiba, Rua das Flores
Frio, estrela brilhante no Céu
Chope escuro nos copos
O falar mudo dos corpos
E a luz quente dos teus olhos.

A foto

Vi a foto, afinal sou um editor de jornais e livros
E a imagem abraçada ao texto é a minha realidade...
Vi a foto, era um menino com o seu uniforme escolar
Pobre de dar dó, na certa queria se encontrar na vida
Mas, antes de tudo, foi encontrado por uma bala perdida.

Quarta dimensão

Vivemos muito pouco tempo para ter o exato entendimento desta quarta dimensão chamada tempo. Por isso, comemoramos a sua passagem, com risos, bolos e velas. Na realidade, isso tudo é para esqueçamos dele, o carrasco tempo, esse sujeitinho que nos diz que não há outra solução a não ser a de procurar efêmeras felicidades enquanto ele passa. O tempo é a ilusão que nos oferece ilusões, mais nada. Precisaríamos viver séculos para entendê-lo um pouquinho mais, mas nem isso ele deixa.

Constatação

O mundo é cão, Sebastião
O mundo é cão, Sebastião...

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Ide

Ide
Amai
Afinal
Que há de melhor para se fazer nesta vida?

Mosaico

Num mundo de pedra
Num caminho de pedra
É natural ser pedra
Ter a alma de pedra
O meu duro destino
Foi pedra até ontem
Granito escuro. denso, pesado
Mas tive que quebrá-lo
Cansei de viver como pedra
E de seus pedaços mil
Fiz um mosaico
Com algo de amor
Com algo de bem-querer
Pedras disformes
Amores disformes
Saudades inexatas
No mosaico
Faço-me humano
Quebrado, fragmentado
Pedra
Sobre
Pedra
Sou eu
Apenas eu
Nu, como pedra, nu.

Sãos em mundo doente

Conclusão depois de mais um ataque terrorista
em França:
O mundo está cheio de malucos,
Os poetas são sãos,

A fera

Ancestral tendência contra as feras e a escuridão
Vivíamos e vivemos em bandos para não morrer
Hoje, a noite se faz iluminada, a floresta se faz cidade
E tememos o outro, a fera, que na escuridão se esconde
O outro, o outro do bando, o verdadeiro lobo do homem.

Sábado chorão

Eia, esses sábados tristes
Que amanhecem choro...
Deixem que chore o dia
Tenho o guarda-chuva
Hei de ser alegre!

Desafinidades

Ela conjugava os verbos juntar e ter
E eu conjugava os verbos amar e ser
É lógico que não deu certo
Não tínhamos afinidade gramatical!

Naquele beijo

Naquele beijo
Mostraste-me o desejo
De ser feliz
Escandalosamente feliz.

Na São Francisco

Não se faz poema no Batel
Futilidades não são temas de poemas
Poesia é na rua São Francisco
Onde a vida é de verdade.

Caminhos curvos

Estudar geometria nos ensina que não andamos sobre uma reta
Nosso caminho se faz sobre uma esfera, por longas curvas
E que, assim, o adiante se confunde com o retorno
A vida imita essa caminhada
Às vezes, muitas vezes, andar para frente é uma ilusão
Na realidade estamos com nossos passos voltados para trás
Outras vezes, muitas vezes
Almejamos algo no horizonte e o horizonte sempre se afasta
Somente o espírito tranquilo pode saber o que é falso, miragem
Mas, para alcançá-lo é preciso calibrar a alma
Ter em si a compreensão de que todos os caminhos levam ao fim
E no fim, o tudo que juntamos, na realidade, de nada nos vale
Depois da despedida, apenas a essência do que fomos
É o que realmente importa, é o que realmente se leva.

Gente ruim

A vida nos testa e coloca gente ruim em nossos dias
Só para que nós aprendamos os significados
De dó, pena e piedade.

Consortes

Nascemos
consortes
da morte.
Senhora má
que obedece
rigorosamente
os horários
e que vem
sem revelar
sua marca
nos calendários.

O pouco que tenho

O pouco que tenho está aqui comigo
No coração, um largo lugar para os que amo
Mãos dispostas para ajudar os bons amigos
Gestos escondidos para socorro aos desconhecidos
Nos olhos, embora distantes, esperanças vivas
E nos lábios, o riso e os versos libertos
Para aliviarem os que sofrem
Com a dura canga desse bruto tempo
Marcado pela ignorância, ingratidão e ódio.

Perdão desconfiado

Como perdoar a quem sempre mentiu?...
...Se ao perdoarmos desconfiando,
Nosso perdão será mentira também!

O tiro

O mundo tornou-se um lugar arriscoso
A rua é perigosa. O shopping é perigoso
De repente, o sujeito ouve um disparo
E um tiro muda destinos, estanca sonhos.
Eis o terror, não saber se tudo isso é hoje.

Duendes e diabos

Encontrei-a na madrugada
Tinha brincos de lua e estrelas
Sonhava em ir para a Islândia
Conversar com duendes
Convidei-a para ir à Tasmânia
Bater um papo com os diabos
...Vivemos assim o tempo da fantasia...
- Malditos diabos e duendes!
Que nos davam cada ideia!! -
Um dia ela partiu com seus brincos
Resolvera falar com os anjos
Que moravam, estranhamente
Sob sete palmos de terra..

O dialeto dos ventos

Para ser poeta, há de se aprender
O dialeto dos ventos semeadores
E dos ventos ser confidente, amigo
São eles que espalham depois do trovão
As violentas tempestades das palavras
São eles que esparramam em brisas
O alento para o alívio das humanas dores
São os ventos... Em ventanias, ou em sopros...
São os ventos... São os ventos... São os ventos...
Falai e escutai os ventos, poetas! Escutai!

A solidão das árvores

Tenho um amigo, vizinho, que está ficando louquinho
Ontem eu o vi todo esculhambado, falando sozinho
Ele tem uma filha de cama, entrevada, que nunca disse palavra
E que mexe somente os olhos. Adulta, dizem que é bela
Fez de tudo para ela viver, mas ela morre, queria ouvi-la
E dizer o quanto a amava. Mas, ficou danado antes
E comunica o seu amor, no jardim, à solidão das árvores.

Incendiário

Poetas nunca ganham medalhas por bom comportamento
Esperar isso de poeta, seria igual a pedir ao incendiário
Ajuda para apagar o fogo que ele mesmo botou no circo.

Todo mundo

"Todo mundo faz", assim o gado justifica-se no curral
Mas pergunto: quem é este todo mundo?
Por que ser todo mundo, seguir todo mundo,
Se a beleza neste mundo é ser o que se é?

Sem juízo

Pedir juízo a poeta
É o mesmo que pedir
Dinheiro a miserável.

Responsabilidades

Tu serás eternamente responsável pelas tuas escolhas
Inclusive pelas erradas; principalmente pelas erradas.

A cruz alheia

De vez em quando, a vida, com força de um centurião romano
Nos obriga a carregar a cruz dos outros por compaixão
Carregue, será sofrido, mas não espere gratidão por isso
Os egoístas acharão que toda ajuda é apenas sua obrigação.

Tu passavas

A Lua parou no céu
Tu passavas...

As estrelas se acenderam
Tu passavas...

Pecadora

Tomou formicida, raticida e nada funcionou
Tentou outra sorte, rasgou os pulsos
Pecadora, foi rejeitada até pela Morte
Porém, amparada pelo SUS e enfermeiras de boas almas
Internada, após a lavagem estomacal, a desgraçada passa bem.

Sortilégios de Agosto

Em Agosto, a deusa Fortuna acorda
A dizer-nos da Sorte, boa ou má, grande ou ruim
E a Roda da Fortuna roda, abaixo ou acima
Para todo mundo, para vós e para mim..

Poesia descalça

A Poesia caminha descalça
Pela minha casa
Espera fazendo caras e bocas
Pela boa vontade deste poeta
Às vezes, na noite, tristinha
Olha-me em desejo
Despe-se e se insinua
Com palavras nuas
E a boca me beija
E nossas mãos se entrelaçam
E nos lençóis das folhas brancas
Ela se solta e se entrega inteira
E depois, fingindo-se satisfeita
Dos meus lábios, dos meus rabiscos
Ela escuta a si mesma, e se lê
Já toda vestida com os vivos tecidos
Da manhã que se anuncia, viva.

Minha triste lira

A Poesia, essa dama egoísta
Teima cantar a bela Esperança
Ignorando a dor que me canta
E que na minha triste lira habita.

Do umbigo

Andar olhando para o próprio umbigo não é a melhor maneira de sentir e se relacionar com o mundo.

Malditos

Certos nomes malditos
Não cito, nem digo
Gente fingida, esqueço.

As pragas do Brasil

Rolar sobre a própria sujeira não é a melhor maneira de se limpar. Roubar, mentir e justificar-se dizendo que todos roubavam e mentiam também, não inocenta ninguém. Eis as duas pragas do Brasil, mentiroso e ladrão (além da saúva, é claro!).

A vida e o tempo

A vida é o tempo (ninguém que se diz vivo vive fora dele)
E quando ouço: "Faço tal coisa por passatempo"
Imagino alguém cortando as próprias veias e perdendo sangue
Mata-se assim o tempo, mata-se o tempo de viver, mata-se a si.

A tapas

"A vida é feita por etapas..."
Engano, leia-se
"A vida é feita a tapas".

A luz que luzia de ti

A luz que me desejaste
Logo que rompeu o dia
Iluminou os ipês roxos
Que me ofereceram tapetes
Para meus passos cansados
E que leveza senti
Ao flutuar pela rua
Com doce saudade de ti
E que consolo senti
Com aquela luz
A luz que luzia de ti.

Bruxedos de chamamoça

Estes versinhos adocicados, que já nascem perfumados
E passeiam pelas quermesses dos versos enamorados
São encantos de chamamoça, bruxedos de bem-quereres
Que buscam o teu coração, pois o meu já está enfeitiçado.

Tuas cinzas

Quando espalhei tuas cinzas ao mar
Deixei minhas lágrimas juntarem-se às águas
E a última, já sem forças, caiu-me nos lábios
Salgada e amarga, como toda saudade
Grande, imensa na imensidão dos oceanos.