sexta-feira, 31 de julho de 2015

Borboletário

Para a poeta Jana Cruz

Ah esses poetas, essas poetas
Que têm no coração um borboletário
E uma forma de se expressarem
Em voos além do abecedário

Um voo sobre as letras
Um voo sobre a vida
Voa colorida borboleta
Voa sobre a escrita

Venham para este papel
Vou escolher a mais bonita
E depois, devolvê-las aos céus
Pois é lá que a poesia habita. 

Era meu espírito que sonhava

Amanheci no riso, na gargalhada
Devo ter sonhado com coisas boas
Sei lá, não me lembro
Era meu espírito que sonhava
Assim, fazemos boa dupla
De dia, eu me aborreço
À noite, meu espírito se alegra
É que a dimensão dele
É habitada pelo Amor Divino
Pela Verdade, por tudo quanto é Belo.

A pureza da Matemática

Era uma matemática pura
Tímida, corava ao ouvir nomes impróprios
Porém, um dia perdeu sua pureza
E tomou gosto pela geometria dos sólidos
Amando tudo que tivesse cilíndricas formas.

Ordens do carcereiro

Pensava que mandava no mundo
E, hoje, o imundo empreiteiro
Recebe ordens do carcereiro.

Amor traidor

É um traidor
Esse tal de Amor.
Sofre-se por tê-lo
Sofre-se por não tê-lo
Mas, como viver
Sem sê-lo?

Jovem, cuidado

Cuidado, jovem de coração precipitado
Há de se amar nesta vida, é verdade
Saiba, que há mistérios nos olhos de uma mulher
Pode haver um céu neles, ó temerário
Mas lembre-se, o céu é um abismo ao contrário.

Aos futuros penitentes

Queridos futuros habitantes e penitentes desta Terra, nossas desculpas,
Somos nós, que seremos considerados do passado, que vos falam
Quando chegamos esta coisa já andava meio bagunçada
E vos a entregamos pior ainda, porque o desamor por vós era imenso
Apagai pois, todos os sinais de nossa existência. Apagai a nossa memória!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O sorriso da dentadura

Não obstante a prótese de cerâmica nos dentes
O quilo e meio de silicone na bunda e peitos salientes
A plástica sempre renovada em pele flácida
Ela se julgava verdadeiramente moça que não enganava
Confiável, um anjo de 50 e poucos anos forjado na estética.

Quando ouvi Chopin

Quando ouvi Chopin pela primeira vez
Era noite, eu vestia trapos e estava com frio e fome
Meus rotos amigos, meninos órfãos de olhos arregalados
Também ouviam aquela música, em silêncio
Como se escutassem os anjos na hora da morte
Em estranhíssima alegria, narcotizados

E por todo orfanato ecoavam notas que alcançavam o céu
Não éramos mais a escória do mundo
Havia algo sublime na vida, além do sofrimento

Nossos gritos das constantes surras, os horrores
De repente, sumiram naquela sublimação que fluia pela calma melodia
Nossos calos nas mãos descansaram-se do cabo da enxada
E não mais nos incomodavam, tudo nos era leve

As humilhações, as lesões, as misérias todas
Não habitavam mais o nosso mundo
Por alguns minutos, a música nos fez gente
E como foi bom sentir aquilo: ser gente
E nunca mais desejaríamos ser outra coisa.  

Menina baladeira

Menina baladeira
Na sexta-feira, dia de apavorar
Lembre-se moça festeira
Que o mundo nos dá as festas
Para que ele possa se povoar!

Infalível e rápida

A Justiça dos homens é falha e lenta, a Divina é infalível e rápida.

A rainha do Gato Preto

Era moça dada e de volumes arredondados e salientes. A rainha do Gato Preto. Em seu último aniversário, os amigos mais chegados, em sua homenagem, fundaram a confraria "Bunda Popular Nacional". Porém, por uma ação na justiça e ordem do juiz, a alegre confraria teve que mudar o nome para "Traseiro Popular" apenas, porque militantes políticos com dor de dente, encardidos, achavam que o antigo nome era deboche diante de sua nova organização de "esquerda", a "Frente Nacional Popular".

Atração física

Atração física é cola fraca
Pouco junta e se junta
O tempo com a junta acaba.

Curitiba nua

Curitiba és nua, 
Sem asfalto, nesse frio,
Só te cobrem os buracos de rua.

Pendências

Ah, essas paixões pendentes
Que, quando revistas
Revivem a alma da gente!

Faça caminho

Belo dia, manhã esplêndida.
Faça caminho,
Sabedoria e Fortuna são consigo.

Poema para palavras mortas

Tenho pena dessas palavras
Que frequentam os ofícios dos burocratas
Seus requerimentos
Seus memorandos
Seus e-mails que puxam o saco
Do diretor do departamento
Do chefe imediato
Outrossim, mui respeitosamente,
Nesta, atenciosamente
Ilustríssimo, excelência
Despacho, deferimento
E indeferimento…
Há anos que essas palavras
São o meu tormento
Em noites de graves poemas
Elas de mim se acercam
E ficam num cantinho
Com carinha de dó
Esperando vez
Estão cansadas da vida de arquivos
Querem prateleiras de bibliotecas
Olhos esperançosos de moças e moços
Risos de crianças em livros sapecas
São palavras operárias cansadas de viver
Em escritos medonhos, feitas para o trabalho
Mas, vou dar vida novamente a elas
Pois esse é o meu ofício
Ressuscitar palavras
E que triste poeta seria eu
Desalmado mesmo
Se lhes negasse um poema!

Pronome em Brasília

Delatores, dedos-duros,
Proxenetas, rufiões,
Larápios, ladrões:
Vossas Excelências!

Amor Plutão

Há certos amores
Com o comportamento
De Plutão
Longe, muito longe
Eles estão
Corações de gelo
Almas de camaleão
Giram indiferentes
Sem se importarem
Com a escuridão
E só são vivos
Na imaginação.

Taquicardia

Ao te ver, meu coração dispara
Batuca apressado, em taquicardia,
E compõe um sambinha de amor.

Plantemos flores

A cada dia vivendo, ou nada fazendo
Lentos, eu e vós matamos a nós
Pelo menos plantemos flores
Um dia, elas nos serão necessárias.

Canção dos desassossegos

Ao nascer, guardei em mim melodia triste para ouvir depois
Era uma canção que, aos poucos, dei arranjos
Em assobios tortos pelos caminhos que desgosto
E que, em dias de desassossegos
Batuco com os dedos em caixa de fósforo.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O patinho feioso

Num dia de muito frio
A galinha Hilda acordou atordoada
E sem prestar muita atenção
Fez sua obrigação
Ao chocar mais uma ninhada

Ao final da tarde
O galinheiro ficou agitado
Hilda chocara cinco animais estranhos
E dentre eles um bem feio, mal-acabado

O tempo foi passando
E o galinheiro desconfiado
Se deu conta que Hilda
Por engano, havia chocado patos

Todos riram, era engraçado
Uma galinha sonolenta
Distraída, chocando patos
E um deles, desengonçado
Faltando penas e de bico afilado

Os patos foram engordando
Só o feioso, que mal comia
Sem conseguir firmes bicadas
Até mesmo no milho esmagado
Ficou pálido e magro, esquálido

E numa véspera de festa
A mulher do fazendeiro, Dona Nonó
Levou os patos para a panela
Menos o pato feiinho do bico torto
Que, escondido ficava só, 
Com vergonha de ser tão feio 
Feioso de dar dó.

Na sua cabecinha
O mundo lhe tinha sido ingrato
Como aguentar os risos
Do verde e bonito papagaio
A gozação do garboso pavão
As galhofas do valente galo?


E assim passou-se o Inverno
E no raiar do primeiro Sol de Primavera
Ganhou os céus, num dia lindo
A mais bela águia desta Terra que, como pato
Na fazenda, havia sido criado.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O porre do mundo

Com tanta desgraça,
o cidadão vive um drama,
como manter-se sóbrio
num mundo que anda 
             Bam
        ba
le          
            an
do,
fora do eixo, ébrio, tonto,
como se tivesse tomado
Um porre de cachaça?!