quinta-feira, 20 de junho de 2013

O palácio cai

Tem certos dias que o palácio cai -- grande lei da historia que só governante tolo e inebriado com o poder ainda não entendeu.

Não nos roubem as estrelas

Olhem para o céu numa noite de iluminadas esperanças estreladas
É falsa aquela calma mergulhada em profunda e longa eternidade
As estrelas só são estrelas de verdade, porque são transformação
Porque venceram as forças que não as queriam em brilho e beleza
Não nos roubem as estrelas verdadeiras, não ouseis, falsos magos
Vossas estrelas eram de plástico, de engano e não mais nos servem.

Donde vem a poesia

A poesia, a boa poesia, deve refletir o pensamento das gentes, desse ente sobrenatural chamado massa que os políticos apenas enxergam como voto e os poetas entendem como inspiração, pois é nessas gentes que bate o coração das coisas, em que há vida, em que há alegria, sofrimento e verdade, essências de toda poesia.

domingo, 16 de junho de 2013

A juventude está no espírito

A carcaça pode envelhecer
Mas, camarada, ficar velho
E de espírito! É viver já morto!

Revolução de Inverno

E da mais calma brisa se fez a tempestade
E da mais fraca fagulha se fez o incêndio
E de nossas roucas vozes se fez o grito
Esta é a nossa Pátria. Viva a liberdade!!!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Aos que esqueceram de seu povo

Do pesadelo se acorda aos sustos!
Tu que dormias de pança cheia e sonhavas,
Achavas que o povo também dormia?!

E teu susto se chama polícia, dor, pancada...
Porém, mesmo amedrontada, mas em valentia
A turba não deixou a rua que tu julgavas só tua

E teu susto tirou dos brasileiros o sangue
Das artérias que sustenta tanto horror e miséria
E ladrões impunes que moram em palácios

Tu, pai de toda mentira que governa
Tu, portador das torturas e violência
Ontem, em outras lutas, não estavas deste lado?

Tu, que agora tem um governo para oprimir
Tu, vil ser, que traíste teu povo e te vendeste
Tu não nos fazes falta. Tu és o que não queremos!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Santo Antônio e sua alma lusa

Neste 13 de junho acontecem em quase todo o Brasil e Portugal grandes festas dedicadas a Santo Antônio de Pádua, que também poderia ser chamado de Santo Antônio de “Lisboa”, já que na capital portuguesa ele nasceu e iniciou seus estudos, na virada do século 12 para o 13 – uma questão menor, mas que provoca muita divergência nos círculos carolas; ao nosso ver, de um homem, o que vale mesmo é como ele viveu e dedicou sua vida aos seus semelhantes, o nascimento e a morte são apenas marcos que geralmente escondem outros interesses.

Dedico aqui algumas linhas ao “santo dos santos” da Igreja Católica porque o tempo é próprio e em razão de uma faixa enorme que se vê em frente a uma igreja franciscana no centro de Curitiba. A faixa chama para a festa com um tal “bolo de Santo Antônio” e uma missa com a pregação de um padre que não gravei o nome.

Ao passar pelo local, notei grande interesse do povo pela festa, principalmente por parte das mulheres. Novamente, fiz descomunal esforço para lembrar das minhas aulas de catecismo no Colégio Santo Inácio, em Maringá. Um dia a freira que nos instruía mostrou-nos um quadro do Santo na capela. Fernando – esse era o nome de batismo dele – segurava um menino no colo e numa das mãos um pedaço de pão, ou pão inteiro, não me lembro bem. Nada naquele quadro relacionava Santo Antônio com casamentos ou entidade sobrenatural que se deve evocar quando se perde uma chave ou qualquer porcaria sem valor.

Pois é, Santo Antônio tem fama de casamenteiro e achador de objetos perdidos. Coisas perdidas e casamentos realmente vão bem quando juntos. Por certo, muitas mulheres e homens procuram em suas rezas dirigidas ao Santo um casamento. Mas creio, que antes mesmo do próprio matrimônio, essas pessoas procuram parte de suas almas perdidas num companheiro ou companheira, ausente ou ainda inexistente.

Temos, pois, o mais lusitano dos santos relacionado ao fim da solidão e da saudade que sempre marcaram a alma portuguesa. Explico-me. Nossa poesia, de Camões a Fernando Pessoa, é repleta desses sentimentos. É natural do espírito lusitano o deixar, o abandonar, ou ser deixado ou abandonado. Não é à toa que o casamento em nossa cultura está relacionado com milagres, ou causas impossíveis. Em “Mar Português”, do poeta Fernando Pessoa, encontramos os seguintes versos:

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu".

Aí temos o verdadeiro coração português e que, por herança, se faz o coração de todo brasileiro. Lamenta-se o poeta do que poderia ter sido e não foi. Do filho que reza na espera do pai e da mulher que ficou para “titia”, para usar uma expressão moderna. Mas para tudo isso há uma justificativa, a busca pelo novo e desconhecido corre em nosso sangue, embora provoque muitas lágrimas salgadas capazes de encher o Atlântico. E na poesia, esses “amores” abandonados são menores perante o mundo a ser descoberto, pois não temos a alma pequena. Porém, estas grandes almas choram por companhia. E, talvez, ao comerem um pedaço do bolo de Santo Antônio, elas, solitárias, se encham de esperança num milagre, porque para os lusitanos e brasileiros, a esperança e o milagre também vão bem quando juntos. (J. F. Nandé)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Versos politicamente imbecilizados

Ó meu amor, teus cabelos de cor afrodescendente
Sem um único fio desprovido de eumelanina
E suas feições dos primeiros habitantes do Brasil
Fazem-te tão menina, tão longe da terceira idade
Porém, imbecilizam quaisquer versos escritos em anil
Ao torná-los politicamentos corretos e intragáveis.

Sofrósina

Disse para aquela morfética, numa declaração de admiração profunda, que ela era uma pessoa sofrósina. Imediatamente levei um tapa. Realmente havia me enganado, ela não era nenhuma pessoa prudente e moderada. Era apenas uma burrinha que não entendia as palavras.

Amor & passatempos

O amor é a única coisa que dá sentido ao ato de viver. O resto, meus amigos, besteiras que costumamos levar a sério, são passatempos desesperados para nosso inevitável e inadiável desaparecimento na noite do tempo. E depois, até a invenção de alguma panacéia alquímica, o amor é a única possibilidade de sobrevivência à morte, nada mais.

Play & Boy

Fim da revista Playboy
E penso na agonia dos boys
Deses contínuos de escritório
Em solidão no banheiro
Tendo na peluda mão
Somente o parco líquido
Que lhes escapa das espinhas
Com o vazio do desespero.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Guerreiros da noite

A vida é um combate pesado
Há de se sair de casa todos os dias
Com todos os apetrechos para a guerra
Dar uns tiros, esbravejar
Chamar a cavalaria em desespero
Mas, sabendo que o bom vem depois
Quando voltamos para casa
Como se fôssemos um Odisseu
Que se perdeu nos mares
E lutou com todos os tipos de feras
Inclusive a interior, a pior delas
Voltar para casa e ver Penélope
Em seu fuso, quieta, pensativa
Esticando o fio de suas abandonadas horas
E gritar: "amor voltei! Que saudade!"
Com um sorriso tão contente
Como se tivéssemos ido logo ali
Comprar jornal na esquina
Depois, um abraço, um beijo e alguma raiva
De saber que na manhã seguinte
A trombeta nos deve chamar
Para aquela velho gládio diário
Interminável e totalmente sem juízo
Em que pouco se ganha e muito se perde
Porque há de se lutar sempre
Para se ter o amor na noite novamente
Na guerra que verdadeiramente vale a pena
Onde ninguém morre, muito pelo contrário
E se vive na mais gloriosa das batalhas.

Holofotes da idiotice

Desconfie de um governo, ou de um parlamento, que usa mais a palavra "proibir" do que a palavra "liberdade". As leis são feitas antes de tudo para garantir a liberdade do homem e jamais para submetê-lo a proibições caducas de senhores entediados e loucos pelas luzes dos holofotes da idiotice que tanto brilha e tanto engana em nosso não menos doido tempo.

Tuas canções em noite de Lua Cheia

Ouvi tuas canções naquela noite
Como se ouvisse calma cachoeira
Num dia de Lua Cheia e espumas
Prateadas que correm pelo rio

Cantavas piano, pianíssimo
Leve como uma pétala ao vento
Coisas de tristezas e desalentos
De quem amou em descontentamentos

Tua voz estava afinada com os pássaros
E uma sabiá parou de voar para te ouvir
A sentir a tua dor...Dor de uma vida inteira

Amar demais é fugir do tédio: cantavas
É uma dádiva, porém castigo: amavas
E que para tal dor não há remédio.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cinza amor morto

Vivas rosas vermelhas
De cinza amor morto
Ramalhete, um bilhete:
"Te amo muito ainda"

E para não passar só
O Dia dos Namorados
Tu finges acreditar
Nas rosas vermelhas

No amor não. Não mais
De terra seca e tórrida
Daquilo que não tem jeito
Nada mais vive ou brota.

domingo, 9 de junho de 2013

Medo, Maninha

Nos escuros frios do Inverno
Em noites de São João
Pipoca, paçoca e pinhão
E no calor das altas fogueiras
Daquelas que nos fazem mijar na cama
Tivemos medo, Maninha
Tanto horror da mula-sem-cabeça
Do bicho-papão, saci e do voraz cão
E de todas aquelas histórias
Que ouvíamos de olhos arregalados
Essas lendas, Maninha
Estavam erradas
Medo mesmo, tínhamos que ter
Medonho mesmo
Era dos homens
Desses que parecem mansos
E se vestem de anjos
E são os lobos deles mesmos.

Virtude & Vaidade

Eis o Século afinal em que a Vaidade é plena
Ó pobreza de espírito! Ó almas pequenas!!
A ruína se apoderou de nosso sangue e mentes
E faz bater em nossos corações o vazio apenas

A Virtude é morta, a Vaidade reina!

Sim, a vetusta e respeitável senhora
Coberta de honras e glórias
Morreu em proposital esquecimento
E medida em sete palmos
Aguarda impossível ressurreição
No adornado caixão da indiferença

A Vaidade vive, a Virtude é morta!
Chorai, ó mortais! A Esperança se vai
E não mais nos mostra outra senda.





sábado, 8 de junho de 2013

Rosa-dos-ventos II

Tinha no peito estranha rosa-dos-ventos
No Norte estava esculpido um deus Cupido
E no Sul um rosto triste de Saudade apenas
No Leste desenhado havia o solitário Sol
No Oeste o prata da Lua sonolenta

E pela manhã, antes do início da jornada
Sentia o vento que soprava...

Depois, de sua mão saía uma pétala de rosa
Que voava certeira e mansa
Para o único caminho que valia andança
Ao Norte, certamente, batia seu coração.


A testemunha

Pois te digo, não houve homem neste mundo
Que ele não tenha iluminado...

Saúda o Sol
Ancião deus de nossos ancestrais
Saúda o Sol
Testemunha de teus passos entre nós
Saúda o Sol
Luz de teus dias e que por ti brilha
Saúda o Sol
Antes que tu apagues e dele te despeças.

Pantufas para não me acordar

Tu andas no meu coração
calçando pantufas
és o silêncio dentro do sonho.

Todo dia é Dia dos Namorados

Infelizes, marcamos dias para serem lembrados
Infeliz artifício dos mercados para vender lembranças
Como se fosse possível ter a lembrança em pacotes
Em finos embrulhos de coisas imensuráveis guardadas

Para os casais, seres que optaram pela unicidade
-- Dois em um e para sempre até que o sempre acabe --
Inventaram o Dia dos Namorados, um dia apenas
Nos outros... Ora nos outros dias somos nós mesmos
Sozinhos e esquecidos dos votos de cumplicidade plena

Ser namorado, namorada, nos exige entrega total
Recadinhos de amor escritos com batom no espelho
Cartinhas docinhas dizendo as mais simplórias besteiras
E olhares, muitos olhares de convites para mais tarde

De resto, é viver isso todos os dias, em doação constante e perene
Dar o seu amor ao seu amor sabendo que o amor é dádiva de Deus
E uma das poucas coisas que faz valer a pena esta dura existência.

Ela imita o céu

Vestiu-se do mais claro azul
e confessou-me em encanto
que era para imitar o céu.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quente

Em noite de gelo, ela, sempre quente, vivia na posição Verão.

Doces mentiras

Não vou mais pedir verdade em teus olhos
Se teu corpo todo, teus gestos todos
E a brandura e a doçura das palavras tuas
São em mim as tuas mentiras nuas e cruas.



Voragens do agora

Em tarde de Verão fora de hora
Vou andando por estes agoras
Por estes instantes que não mais hão de ser

Quanto fui no dia de hoje, pergunto
Que pavor senti, que alegria escondi
Quanto estou sendo neste segundo
E com que caneta anoto os meus minutos
Nessa agenda em que gravo minha sorte?

Sina de morte, poisque sou o susto vivo
Susto de corpo e alma que de si dá risadas
Apavorado com o tempo que nos devora.


sábado, 1 de junho de 2013

Curitiba, barriga, bundas e buraco

Curitiba,
Assustado com a sombra da minha barriga,
Caminhava pela XV de Novembro e tinha medo.

Mais tarde, distraído olhando as raparigas
Enquanto o Universo solto se expandia
Estudava a influência das distantes galáxias
Naquelas bundas que também cresciam

Mas a felicidade ao pobre coloca preço
Logo enfiei o pé num buraco da calçada
E fui socorrido pelas almas santas do Siate
Que me deram uma bosta de bota de gesso.

Das coisas novas

Todos os dias, os cientistas anunciam um planeta novo, ou um sistema, ou galáxias, ou milhões e milhões de estrelas. Mas o que é espanto, não é tamanho do Universo que sempre cresce; o estranho é que, por mais que se descubra coisas novas, elas sempre vão caber dentro de nós, dessa coisa não menos maravilhosa e pequena que chamamos cérebro. Assim, temos a consciência exata que fazemos parte das infinitudes; testemunhas privilegiadas da criação divina que a tudo permeia e que também está conosco.

Meu peito goya

Às vezes sinto no meu velho peito
Antigo quadro de Goya guardado
Cheio de nostalgias, figuras felizes
De uma felicidade impossível
Possível só no instante gravado

Sinto ver somente isso em Goya:
A vida não é uma pinacoteca
É apenas biblioteca de olvidados livros
De cores desbotadas, fracas
Em sebos escuros perdidos.
  

O horário da funerária

Ah! Que doido seria
Este mundo quadradinho
Todo arrumadinho
Com tudo em lugares exatos
Pessoas exatas
Com horas marcadas
Para escancarar o riso
Para debulhar o choro
Para se fazer cagadas
E terminar tudo certo
No horário da funerária
Ah! Mundo, serias muito doido
E absurdamente chato.

A esmola, a mó e os moles

A palavra esmola tem origem em mó, pedra de moinho para moer grãos, em especial o trigo. O Senhor das terras mandava moer o cereal e ficava com quase tudo; o que sobrava na mó, o resto mesmo, podia ser dividido entre os pobres ou escravos, o que deixava os moinhos limpos. Portanto, a esmola respondia a um sentido prático para quem dava: conservação da força de trabalho e alimento para um espírito culpado. Creio que não há grandeza nisso nem para quem dá esmola nem para quem a recebe. Caridade é outra coisa, é o dar sem esperar nada em troca.

***

Para os químicos: "mol" e "moles" são palavras latinas que foram para o alemão no sentido de quantidade. Só depois voltaram ao português com o mesmo sentido. Essa é apenas uma das razões do estudo do latim na Alemanha; outra é que a gramática alemã e a inglesa tiveram como modelos as gramática grega e latina. E aqui, onde o latim se perpetua na língua, nada disso se estuda. Não é de se admirar que nosso português anda cada dia mais bárbaro.

Sem culpas

Não se sinta culpado por nada neste mundo. Afinal, quando você aqui chegou, pelado e aos berros, esta bagunça já estava assim.

Ódio da Morfética

Sabe, padre, sinto ódio
E sei que isso não é bom
Sinto ódio... Ódio de morte...
Quisera nunca ter conhecido
Aquela morfética, padre...

Mas é um ódio diferente
Ódio cheinho de saudades
Do bem querer... Do bem gostar...

Penso nela e pronto
O coração amolece
E dela sinto toda a quentura
Todos os carinhos
Que nem é bom confessar
Para não desabar este confessionário

Sabe, padre, tenho ódio
O gostoso
De me lembrar dessa morfética
E o ruim
Ódio de mim, por não estar com ela.


Dança dos corações juntados

Então vamos combinar a dança
Tu darás infintos passos para a direita
E eu outros infinitos para a esquerda
E quando no girar deste medonho mundo
Outra vez nos cruzarmos
Aí a gente se abraça e inverte
Tu para um lado e eu  para o outro
E sentiremos tanta saudades do encontro
Que um dia nos convenceremos
Que o melhor mesmo era ter ficado agarrados
Mesmo que a vida te puxasse para um lado
Mesmo que o destino me puxasse para outro
Porque amar é dançar sempre
De rostos colados e corações juntados. 

Diálogo

Ouve meus silêncios
Que os teus já escuto
Calemo-nos
E estamos conversados.