domingo, 26 de abril de 2015

O vendedor de doces

Neste mundo que perde por si o gosto
Parece que o papel do poeta
É vender doces
Para que ninguém se acostume
Com o sabor do amargo.

sábado, 25 de abril de 2015

Armênia

Armênia não era armênia
Tinha esse nome por gosto da mãe
Armênia era boa. Boa Armênia
Quando subia a rua
Com seu vestido feito em casa
Copiado de figurinos, em economia de pano
Os homens do bar, que bebiam a desgraça
A santificavam em elogios profanos
Visão de um anjo caído na favela
Que em sua pernas grossas, em passos miúdos
A todos mostrava o caminho do inferno.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sonhos em pó

Alguns sonhos nascem doentes
Fraquinhos de dar dó
E por mais que os tratemos
Com sopinhas, remédios, terapias
Em morte súbita, eles viram pó.

Os outros

Passamos a vida discutindo com o projetista
Do que chamamos vida, nossa vida
Com pouco concordamos, 
E desejamos sempre algo diferente 
Do esboço original
Sem meditar, colocamos defeitos em nossos olhos 
Em nosso comportamento
E, principalmente, em inveja 
Discordamos dos excessos dados aos outros
Esquecer os outros, portanto 
É o princípio do contentamento com nós mesmos
Olhar para si, se reconhecer em si 
Nos dá a exata dimensão do que somos.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Brutos deuses

Nem mesmo nos sonhos
Podemos fazer o que desejamos
Há brutos deuses que os governam
Divertindo-se ao tornar tudo pesadelo
Ou, do bom sono de abrupto despertos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Lembranças em apreço

Não há distâncias
Não há tempo
Nos separando
Daqueles antigos momentos
Cobertos com doçuras
Confeitos de felicidade.

Como beijos de anjos
Em noites de insônia
Tormentos e desenganos
Eles são instantâneos
Em nosso pensamento

Doces, eles têm o apreço das lembranças
E em lealdade ao coração em aperto
Ganham outro nome: Saudade.

Numa manhã de 1500

Numa manhã de abril,
Um índio, um homem
Viu sobre o oceano, no horizonte,
A cruz em brancos panos
E descobriu que os selvagens
Haviam descoberto o Brasil.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A boa luta

A luta do homem, a boa luta
É aquela que nos proporciona bom sono
E nos garante o amanhecer de alma tranquila.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Pernilongo dengoso

Descomungado pernilongo
Veio em barulho morfético, anêmico
Sorveu o meu sangue no bico longo
Tomara que tenha pego dengue!

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Plantio em dia de Sol

E o Céu amanhece num azul de sonho
Com rendas de nuvens de claras em neve
Nuvens de não chover, só para fazer bonito

E na barra da saia do Céu, o vermelho encardido
Se arrasta e se mistura com a terra roxa
A mesma que é cavada pela enxada do peão

E o peão é só capricho - tudo limpinho
Sem mato, e cova após cova recebe nua semente
Numa puxadinha de terra daqui e outra dali

E o Sol, que lá do horizonte a tudo olha e espia
É patrão exigente, porque só fará com sua luz crescer
O que é plantado com amor, dedicação e zelo.

Algodão-doce

A tarde, agora calma, depois da tempestade
Se despede das brancas nuvens
Emprestando a elas cores de algodão-doce.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Não esqueço

Esquecer não esqueço
Dos afetos, dos amigos
No peito, guardo-os com ternura e apreço
Esquecer não esqueço
Dos desafetos, dos inimigos
Nas mãos, guardo-os nas contas do Terço.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Porto das Despedidas

Estou no Porto das Despedidas
Meus amigos partem
E me cansam os adeuses
Um dia embarco também
Para descanso de meu braço
Para ceder lugar aos que vêm.

Ninfomaníaca incendiada

Era tão assanhada e dada
Que a ninfomaníaca
Começou a ser chamada
De "Incêndio de Santos":
Fogo no rabo que ninguém apaga!

Malhação de Judas

Poetas malham judas com o chicote das palavras.

Quando o adeus chega

A sereníssima lágrima que cai de teus olhos
É o atestado do adeus esperado
Como a rosa que aguardava da noite o orvalho.

Arrolado

Oficial de Justiça para o matuto: "O senhor foi arrolado como testemunha..."
Matuto para Oficial: "Vosmicê tá querendo uma bifa no pé do ouvido... A..rro...la.. o quê!?".

Paixão de chinelinho

Você descobre que está condenado
E perdidamente apaixonado,
Quando acha bonita, linda mesmo
a tua paixão calçada
Até de chinelinho de dedo.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Inquilinas do adeus

De todas as palavras que conheço
O adeus é a mais forte,
Pois nela moram a tristeza, a saudade e a morte.

Político sem-vergonha

Não, 
A Virtude não é feita de mentiras,
De roubo e corrupção.
Virtude é feita de outra coisa:
Vergonha na cara.

Curitiba, 322 anos

É cinza o vestidinho de festa de Curitiba
Já chegaram as nuvens
E daqui a pouco a chuva para os parabéns.

II

Curitiba completa hoje 322 anos.
Daí você grita pela janela: "Bom-dia, Curitiba!"
E um eco responde: "Bom-dia, por quê?!"

Humor sempre

Humor não tem limites,
o que tem limites
é a falta de humor.

Oração da noite

Senhor, a todos dai a luz que não se apaga
E um salário que suba tanto quanto a tarifa elétrica da Dilma.
Amém