sexta-feira, 20 de maio de 2016

Chovia

Chovia
E tu te juntavas, em prece
Em humildade, aos anjos que choravam.

A mediocridade como escolha

A virtude é uma escolha
A mediocridade não é escolha
É burrice mesmo.

Mercúrio alinhado

Mercúrio alinhado com os meus olhos
Desfila na claridade do Sol 
Pequenino, porém vaidoso
De contribuir com a ordem celeste
E de às vezes bagunçar o horóscopo
E o destino dos pobres viventes desta Terra.

Perfumados estrumes

Ó tempo, ó costumes
Que a política nos vende
No marketing indecente
Perfumados estrumes.

Caipira erudito

A erudição nos dá aulas de humildade
Ao mostrar que parte do português caipira
Era a língua dos cultos do Século XVII.

O burrinho e o camelo

O jovem Burrinho encontrou um Camelo descansando sob uma árvore ao lado do rio, enquanto chovia muito. Arrogante em sua juventude, ele desafiou o Camelo:
- Vamos atravessar o rio agora, do outro lado tem muita comida...
- Não – disse o Camelo – vamos esperar terminar a tempestade e depois passamos. 
Sem observar a prudência do velho camelo, o Burrinho entrou na água e foi imediatamente arrastado pela forte correnteza e, se afogando, gritou:
- Salve-me, Camelo!
E o camelo respondeu:
- Não posso. O que poderia fazer já fiz. Avisei-te. Pede ajuda a tua soberba que, com a gula, te fizeram ignorar a experiência dos mais velhos.
Aos que escutam esta fábula: saibam que há limites ao se ajudar o teimoso.

Vida que sopra em brisa breve

Nas tardes em que me esqueço
Escondido em meu terno preto
Atônito atravesso ruas descoloridas
E vejo-te vagar vestida de vida
Vida que sopra em brisa breve
Que a ti canta como a mim cantou
Ah, quanto encanto não percebi
Nesse vento que me encantava
E que me avisava da brutalidade
Do tempo que me gastou
Hoje te sopra o mesmo vento
Mas, não faças como eu
Que encantado pelo seu canto
Da própria vida se esqueceu.

Imenso rio

Imenso Rio Paraná 
Em tuas margens 
Penso ver o mar.
És denso, porém
Segues suave
Para as cataratas
Como as almas
Que tu lavas
E em murmúrios
Ao desconhecido
Se largam e seguem.

Dia de algodão doce

A despeito de manhã sem graça
O fim de tarde trouxe-me
Pedaços de algodão-doce
Num céu de lua antecipada
Em ornatos doirados
A este dia que terei saudades
Pois em bondade se despede.

Nas barrancas do Iguaçu

Nas barrancas do Iguaçu
Com a Lua e Júpiter repousando n'água
Vi uma moça branca, branca, linda, linda que se banhava
O índio que guiava o piloto do barco
Disse-me que era visagem
Capricho de seus deuses pagãos
Arrepiado, em minhas crendices de poeta
E depois do sinal da cruz
Falei a ele que era alma de anjo
Que ali vagava e brincava, pensando ser pirilampos
As estrelas que na lâmina do rio brilhavam.

Doidice diária

Nessa doidice de fazer muito
Sem se saber muito bem a razão de fazê-lo
É mister portar alguma loucura lúcida.

A pior memória

Tenho a pior memória do mundo
Aquela que nada esquece
Principalmente o prometido
Que espera seu tempo certo.

Para afinar

Escuto-te ao piano
E procuro colocar em partitura imaginária
Tuas notas firmes que não desafinam
Para ver se afino-te ao destino meu.

Saudades das Sete Quedas

Saudades das Sete Quedas
Que mais adiante de Guaíra
No rio Paraná que descia
Itaipu, obra dos homens, fez engolir
Saudades das Sete Quedas
Obra de Deus, que o homem destruiu
Que soberos fomos ao pensarmos
Que o duro concreto armado
Seria mais belo do que as quedas
Do velho rio que rugia

A rosa vermelha dos ventos

Bailavas sobre o lago
Na leveza das borboletas
E carregavas nos lábios
A rosa vermelha dos ventos
Dizias assim, sem palavras
Que a vida pode ser mansa
E que a flor pode dançar
Levada em bailado brando
Por quem tem alma de luz
Leve, leve, muito leve.

Corpos e destroços

Polícia acha corpos
E destroços do avião...
São intercaladas rimas
Nas manchetes da tétrica tragédia.

Tire

Tire tua dor do teu caminho
Que eu quero ver o teu sorriso...