segunda-feira, 2 de julho de 2007

Avoanças

“Para lá vejo ir Nosso caminho! Ó pai, vamos partir!” J. W. Goethe


Meus pés seguem os apelos do lá
Do que há de ser; do que pode ser
Do que se faz além do além
Sou andanças
Sou voança

Aprendi isso menino:
Para viver
Há de se correr
Há de se voar
Antecipando-se ao sonho
Antecipando-se ao pensar

Aprendi isso menino:
Viver em andanças
Com asas em avoanças
De modo que a morte
Não me alcance.

Passa-tempo

Penso na velocidade das horas
(Tão mansas que, a priori, é preferível não pensá-las)
Penso na brevidade do encontro
(Que de tão doce é melhor não prová-lo)
Penso e penso suspenso nos teus brincos
Onde brinco de pensá-la.

A violista


Solta, entre uma nota e outra,
Só, a violista sola.

A música, fio longo, se tece
Solitária no jovem espírito.

Do palco treva
Trespassam sonoridades
Impulsionadas pelo braço
- Fantasma branco a furar o escuro -
Em arco que viola a viola.

Este sobe e desce sugere
Estupro das cordas
Ao arrancar suspiros
Da oitava máxima.

Silêncio ( )
Outro fio longo
Em nova nota aparece
Depois mais silêncio ( ) que
No peito eternidades tece.

Toque.
Toque querida,
Tenho frio
E meu agasalho
São estas eternidades breves.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Para sempre

Quero de tuas mãos uma última carícia
Tão suave e tão permanente como um definitivo adeus.
Adeus tão para sempre, tão para nunca mais.

Dê-me de teus lábios um último beijo
Cheio dos desejos finados em teus olhos fechados.
Fechados tão para sempre, tão para nunca mais.

Dê-me teus dias que virão apartados de mim.
Neles, por certo, farei-me só alma e pensamentos.
Pensamentos tão para sempre, tão para ti somente.