quinta-feira, 24 de abril de 2008

PARTITURA PARTICULAR


Maestoso
Canto a música do silêncio
Anotada nos pentagramas
De teus dentes quando me beijas



Molto delicato
No teu peito uma clave
Sugere-me o amor noutro tom
Do silêncio cada vez mais lento



Allegro
Casa de poeta não tem teto
E a Lua dá cor ao silêncio
Do corpo que se retorce



Allegro non tropo
Suave, muito suave, doce,
Dois tons acima, teu silêncio
Desfalecido por sobre minha língua.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A moça no jardim

O jardim está em desuso;
Quem ousa usar o jardim?

Oásis no meio do concreto e asfalto
Por quem espera com seu verde sem fim?

As flores, a grama, os pássaros
Ignoram quem por eles passam
Mas guardam os que por eles ficam.

A moça sentada espera: lê revista,
Fuma cigarro; compenetrada,
Esquece os pássaros, a grama, o jardim.
Espera, espera, espera;
Eis o resumo da vida:
Uma curta espera pelo fim.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Cata-vento


A voz do poeta é irmã do vento,
Às vezes suave como a brisa;
Às vezes ligeira como tempestade.

A nossa voz se faz nos ventos
E sopra, e canta, e leva
Melodias, pesares e pensamentos.

A mão do poeta é um cata-vento
A envolver teu coração no manto
Do querer bem, do querer muito e tanto.