terça-feira, 20 de março de 2012

O certo me dá preguiça

Desisti de pensar coisas que me dão preguiça
Como uma vida certinha
Com horário de chegada e saída
Com agradecimentos ao chefe
E tapinhas nas costas dos promovidos
Geralmente funcionários larápios relapsos.
Por isso penso somente no possível
Naquilo que me deixa disposto
Penso, o tempo todo, incansavelmente,
Na poesia que há no mundo.

Garçom, a conta, por favor!

Linda, linda, linda
Como esta noite de Lua
E tão, tão, tão distante
Como estas estrelas cintilantes.

Vou para casa, já pedi a conta da vida
E, por conta, vou escrever
Fazer poema, dizer de ti
Comunicar tua bela existência
Para a noite que me ignora.

Talvez, um e-mail um dia te encontre
Para dizer as coisas que no poema escrevi
Talvez, meu coração te alcance
Para dizer que é ínfima a minha coragem
Para dizer que ela não é bastante
Para aprisionar tua beleza noturna
Em dias soturnos. Em dias de rotina absurda.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Depois do banho


Assim, depois do banho
Descubro-te nua e bela
Na suavidade branca
Que tece a tua pele.
E rio quando noto
Teu rosto imitando as rosas
Em rubro pudor
Ao perceber que estes impudicos olhos
Descobriram um corpo esculpido pelos anjos
Para desenfeiar o mundo.



terça-feira, 13 de março de 2012

O corrupto chora


Jamais conseguiremos entender a vaidade.
Como a do corrupto que chora em público
Ao ouvir o discurso de famoso puxa-saco.

Sim, tolo homem que a terra terá por pasto,
Palavras vazias e cheias de afagos
São aragens a alimentar egos miseráveis.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Teus olhos, meus olhos


Lembro-me da ternura de teus olhos, meus olhos,
Na infância de nossas vidas.
Olhos tão diferentes dos que hoje me olham, te olham,
Sem maldades, sem cansaços,
Sem embaraços, tristezas e descontentamentos.
Quem nos roubou a luminosidade,
A curiosidade, o prazer dos descobrimentos?
Quem nos fez assim desprovidos de fé
No que tu és, no que sou, em tudo que nos deu alento?


quarta-feira, 7 de março de 2012

8 de Março


Na natureza
Tudo vive a seu tempo
E sem pedir licença
Para existir tal como é.

No Universo,
Em sua imensidão
Tremenda,
Tudo vive
Em liberdade.

Feliz é a mulher
Do nosso tempo
Que em todo 8 de Março,
Sem pedir licença,
Faz soprar o antigo
Vento da esperança
Sobre a humanidade
Ao lembrar que todos merecem
Respeito, amor e dignidade.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Testes para se saber gente


Nesta vida perdida em desumanidades,
O sujeito tem que se aplicar testes
Para se confirmar gente.

Tem que provar que não se desumanizou.

Primeiro, é bom verificar os graus internos
De emoção e delírio com a poesia;
Hão de ser enormes, pois viver apartado do belo
É caminhar de mãos dadas com a morte.

Depois, o vivente tem que constatar se ainda dorme
Com leveza, como se ouvisse uma sonata de Bach.
Não dormir com tranquilidade n'alma
É fazer-se danado defunto dentro da tumba do remorso.

Em seguida, é bom colocar a mão no peito
Ao se deparar com o que se diz amar;
Se o coração bater forte, como se fosse a primeira vez,
Com todo o encanto do primeiro encontro,
Aí estará desmedido indício de que se é gente de fato.

E por último, só para confirmar a anterior verdade,
É saudável medir o coeficiente interno de criancice,
Que deve ser alto, nos seguintes parâmetros da inocência:

Olhar para as nuvens numa tarde quente
E descobrir formas no branco algodão,
Um urso-polar que corre fofo,
Corre, corre a perseguir um cão,
Ou uma ovelhinha de cara suja
Que se ajoelha aos céus a pedir perdão.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quarto crescente


Vê, meu amor e cariño,
O crescente que a Lua forma
E nos deixa enamorados
Crentes na felicidade perene.

Infelizmente, esta Lua-metade
É também a foice Daquele que ceifa
A jogar por terra sonhos
Desgarrados do campo em que florescem estrelas.

Choremos baixinho nossa revolta
Contra a Fortuna que nos esquece
E deixa nossos colos expostos
Ao Ceifeiro de todas as messes.