Canta o poeta triste canto,
Canta alegre o bem-te-vi!
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Meto a espora no destino,
No vento a me carregar.
A Fortuna nunca tive,
Meu caminho foi o penar.
E o desgosto companheiro
Nunca quis me deslargar.
Nessa passada miúda,
Assunto às coisas comigo,
Finjo a beleza que não vejo,
Para não perder o juízo.
Sou poeta estradeiro,
Trovo a dor neste castigo.
Monto esta Sorte brava,
Sina a me escoicear,
E meu temor é cair
Sem do gosto provar
Dessa tal felicidade
Que tanto ouvi falar.
Não tive o amor de mãe,
Nem abraços de meu pai,
Criei-me só neste mundo
E só a vida me vai.
Canto amor que nunca tive
O amor que da pena sai.
Na enxada e no martelo
Tive os meus brinquedos.
No orfanato da miséria,
Fiquei adulto mais cedo.
Na rudeza do abandono,
Da morte perdi o medo.
Se tantas lágrimas tenho
Na tristeza a me matar,
Alegria contei com uma
Quando comecei a cantar,
Ainda pequeno, menino,
Nos versos a rabiscar.
Na carteira da escola,
Muito no livro aprendi:
Fazer contas com destreza
A descrever o que sofri.
As letras que me cegaram
Cantam-me como o bem-te-vi.
Pensei amar muitas gentes
E de algumas me enamorei.
Sinto ter amado o incerto,
Porque o incerto me tornei.
É que amar exige verdade,
Verdade que nunca achei.
Sim, botei filho no mundo
E tive dois pra criar.
Estudaram, criaram asas,
Vão pela vida a pelejar,
Enquanto pelejo eu
Na saudade a me matar.
Assim termino este pranto
Do pouco que ganhei e perdi,
A vida me foi desencanto
Mas, não importa, eu vivi.
Canta o poeta triste canto,
Canta alegre o bem-te-vi!
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