segunda-feira, 27 de julho de 2009

Lá fora

Minha doce Senhora,
O céu já é claro,
Vejo isto pela janela de seus olhos,
Lá fora o frio quer encontrar sua pele
Durma novamente
Vou-me
Vou-me
Lá fora, vejo pela janela,
A labuta quer tirar a minha pele.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ausente

-->

Tinha o olhar de nadavê,
As feições do nadacrê,
E estava no mundo
Satisfeito como grama
Em dia de chuva.

Dava por si raramente
Quando na dor se sentia.
Percebia nestes momentos,
E somente neles,
Que tinha em si, nos ossos,
O ruminar do existir
E o tempo a roer tudo.
Mas logo esquecia o tudo e o tempo.
De resto, como vivia bem
Na ignorância total de si!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O pavor de sempre

Cansam-me as tragédias do mundo,
Elas se repetem, tragicamente se repetem...
Meus amigos arregalam os olhos,
Comentam manchetes,
Fazem o sinal da cruz...
E na fila do banco, e no conforto da cama,
Na solidão sanitária,
Oram evocando terrível Deus.
Cansam-me meus amigos
Com as tragédias embutidas em suas rezas.
Ignoram eles, ou assim pensam ignorar,
Que ser homem entre os homens
É a única e verdadeira tragédia
De final por demais conhecido:
A estupidez se repete na morte
E, estupidamente, nos apavoramos sempre.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A caminho de Cocanha


Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!

Em Cocanha não há pecado
E se houver, um abade esfarrapado
Há de dispensar minha confissão.
Em verdade, em tal cidade
Não viver bem é aberração .

Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!

Ah, Cocanha fica além de Pasárgada,
Dorme no colo do vento
E tem, em léguas bem medidas,
O tamanho do nosso pensamento!
Lá todos são soberanos,
Porque só há engano
Em apenas ser amigo do rei:
É preciso também ser rei no lugar do rei!

Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!

Em Cocanha, o amor se tem aos metros
Cantado em versos e de graça dado.
Lá não há o certo e o errado,
O direito e o avesso,
O torto e o perfeito.
Lá cada um é de seu jeito.

Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!

Lá meus amigos não negarão seus abraços,
As belas mulheres não medirão minha carteira.
E dividirei meu copo servido por Baco
Com o abade gordo, sorridente e bêbado,
Porque em Cocanha não há pecado
Para quem desejou na vida apenas ser e ter estado;
Em Cocanha sou rei no lugar do rei!

Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!