sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Adeus ao querido amor


Dizer algo antes do adeus
É quase que premeditar um crime
É fazer sofrer sofrendo
É matar matando-se

Dizer algo depois do adeus
É cavar uma cova sobre outra cova
É confessar um pecado sem perdão
É tentar segurar o vento com as mãos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Testamento de Horraca de Pedro


Era de mil duzentos e quinze.
Horraca de Pedro entregou seu corpo,
A sua casa inteira,
Até mesmo o leito e sua manta nova,
Ao mosteiro de São Salvador de Salto.

Para Maria do Pelágio:
Uma ovelha, uma cabra e seus filhotes.
Outro quinhão foi para os leprosos.
E para o abade e a São Martinho de Candaosu,
O prelado aqui na terra
E o santo lá do outro lado,
Também houve lembranças,
Cuidadosos que eram de sua alma.

A piedosa Horraca sabia das coisas
E para a outra desamparada Maria,
Filha de Pedro Calvo,
Deixou um moio de pão
E dele anual porção
Até que Maria encontrasse marido!  

(Poema baseado no testamento escrito em latim bárbaro, mas já com traços do português. Documento guardado no Mosteiro de São Salvador de Souto, perto de Braga, Portugal).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma noite na Lua

Brincavas, menina.
A Lua estava com sono
E o mundo se construía
Na TV primitiva
Em vidas descoloridas

Esconde-esconde
E eu que nunca te achava
Queria ver a águia pousar
Na Lua da poça d'água
A Apolo XI

Meu mundo era sideral
Nos pulos de Armstrong
E o teu tão normal
Em passos saltitantes
No jogo de amarelinha.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Utopia

À Christa Wolf, in memoriam 01/12/2011

Não mais além do que fraca lembrança
Daquela ternura ao se falar de coisas graves
Das bandeiras utópicas que fizemos tremular
Nas tardes de ventania e revoluções

Não mais do que fraca esperança
De ternas palavras aos que precisam
Porque são tantos os que pedem
Suave vento para soprar suas feridas

Não. Tudo foi varrido para os cantos
Os sonhos estão debaixo do tapete
E os hipócritas vestem-se de vermelho

Não. Minhas palavras não vão além do canto
Que espera outra partitura mais verdadeira
Para a revolta do homem escravo do homem.