quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mãe

Quando dei por mim já vivia triste
Em criança, com três ou quatro anos
Já sentia estranhas saudades

Tinha saudades de minha mãe
Embora só a recordasse até os joelhos
Pois, além não alcançaram meus olhos

De resto, das saudades de minha mãe
Sobrava-me um rosto que inventei
Muito branco, de um severo que sorri

Ela vestia-se com um vestido colorido
E tinha em suas mãos inventadas e lisas
As minhas em tremor sempre suadas

Lembrava-me de todas suas histórias
Que, por sua falta, eu também inventara
Lidas com carinhos em noites temerosas

Sim, a ausência de minha mãe logo cedo
Fez-me amar a poesia que tudo pode e inventa
Inclusive uma mãe da qual não se tem memória.

------------
Ilustração: Mãe com filho doente - Picasso

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

Que lindo e tocante, essa saudade tão doida me fez chorar muito.
Luz
Ana