segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Morrerei mil vezes, Cariño

Quando for tomado pelos encantos
Daquilo que ninguém conhece e escapa
Sentirei falta e saudade, Cariño
Da suavidade de tua pele
Como sentirei falta e saudade
De tocar as frescas pétalas
Das rosas em manhã de Primavera

Morrerei duas vezes, Cariño
Ao não mais sentir tua leve respiração
Nessas manhãs em que faltarei
Em que o vento será suavidades
Sempre a arrepiar-te os pelos
Depois do longo beijo de acordar

Sentirei falta e saudade, Cariño
De tuas coxas sobre as minhas
De teu peito nu junto ao meu
Do calor molhado e amado
Que nos restou do começo da noite

Morrerei três vezes, Cariño
Ao não ter mais teus pequenos pés
A esfregarem-se nos meus
Para aquecerem-se em noites frias

Morrerei mil vezes, infinitas vezes
Ao sentir de ti falta e saudade, Cariño
E ao não mais ouvir o teu "eu te amo"
Que me faz tão vivamente vivo.

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Ilustração: Nu Azul - Pablo Picasso

  

Bolero da vida

Preciso te dizer
No passo deste bolero
Que poderia ter dado certo
Caso não fossem os anos
Que nos separaram
Por pura maldade.

Tantas vezes estivemos perto
Um do outro
Na escola, no trabalho, em pensamento
Quantas vezes
Nos afastamos
Empurrados pelos ventos
Divergentes, que para lados
Opostos nos empurraram.

Vamos dançar, dançar
Até que acertemos o passo
Do bolero da vida;
A música já vai pela metade
Mas ainda há tempo.

sábado, 28 de setembro de 2013

Tempestade n'alma

O vento fez correr as estrelas
Trouxe com ele nuvens
E o céu se encheu de escuros
Formas das trevas, escuridões
E eu cá dentro tremo, temo
O corisco, os trovões
A chuva em anunciação
Essa tempestade n'alma
Que não se aquieta não.

Escorrega Curitiba


Esta cidade é feita de chuva
Sapos felizes, cães enfezados
Tombos na calçada.

Meus belos dias

Ouvia uma cantiga antiga
As notas nuas escutava
Dedilhadas por Anjos
Tangidas por Serafins
Leves, leves, profundas
Nua sobre a cama dormias
E de teu coração ouvia
O compasso a marcar
Os meus mais belos dias.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Dois sóis

Vi em teus olhos, sim vi
Dois sóis feitos para iluminar o mundo
Pena que não era o mundo meu.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Aboio do coração

"Ei, ei, eia peiá
Ei boi, eia, eia
A vida é campeá..."

A vida é campear a felicidade
Como se campeia o gado no sertão
Boi vai espinheiro adentro
Adentro do espinheiro vai meu coração
Procuro amor nesta Terra
Perdido neste mundão
Meu sonho vai sobre a sela
Montado na ilusão
Procuro amor nesta Terra
Pra calar a solidão
E meu choro é aboio
De chamar coração perdido
Que cansou de ganhar chão
Boi vai espinheiro adentro
Adentro do espinheiro vai meu coração.

"Ei, ei, eia peiá
Ei boi, eia, eia
A vida é campeá..."

Caminhada

Sair para andar neste finalzinho de tarde
E colher olhares para poemas cansados 
Que precisam da mansa luz da Primavera.


Pé quebrado


Fiz um verso de pé quebrado,
Vou levá-lo ao Hospital de Fraturas
E já volto!

Bailados de Primavera

Bailam os pássaros no céu
A dança da liberdade
E as borboletas soltas
Sobre as flores da Primavera...
E o Sol que dá azul aos céus...
E eu... E eu... Tão preso em mim...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Reinvenção da Alma

Vontade de reinventar minh'alma
Dar a mim um novo espírito duro
Alma que não se compadeça
Espírito que seja insensível
Cansam-me as injustiças do mundo
Cansou-me essa tristeza
Que me faz um homem triste
Quero agora uma alma alegre
Um espírito de riso e irresponsável
Que não considerem os padecimentos
Os sofrimentos dos meus semelhantes
Desejo mesmo é não ter espírito nem alma.




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Ilusão

Ilusão é esperar muito do que se sonha
Sonhos não acontecem como no sonhado
Imaginações não se dão bem com a realidade
Elas são de outra feliz e impossível dimensão
Nesta, felicidade é apenas uma invenção.



domingo, 22 de setembro de 2013

Programa de domingo

Domingão, chuva, 
Curitiba cinza sem coração, 
Supermercado aberto, 
Baita programão.

Domingo que chora

Que saudade -- por gosto, saudade! --
Só para não perder o costume
Neste triste domingo que chora.

O ralo

Limpar o ralo é lição de humildade
Lá encontramos antigos amigos
Os desertores e teimosos cabelos
E os pentelhos do banho da tarde.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Solidão & Saudade

Não pense que a Solidão anda por aí só, abandonada
Por isso, quando ela chegar, sirva duas xícaras de chá
Uma para ela e outra para a Saudade
Sua inseparável companheira e antiga comadre.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Minha mão me dá adeus

Uma mão espalmada  e eterna
Ficou fixada na beira do caminho
Olho para o distante passado
E ainda posso ver o adeus estático

Lá está a solitária mão espalmada
Miúda, encardida e infantil
A me saudar no mais triste aceno
E sinto que não me despedi de mim

Hoje, sou outro e com saudades
Do que eu era: alegre, tão contente
Tão esperançoso, tão vivamente vivo...

...Mas tolo, rumei teimoso adiante, desatento
Sem saber que naquela mão, entre dedos
Entre macias garras, abandonara a minh'alma.


domingo, 15 de setembro de 2013

Pecados sobre a ponte

Ó homens, ó mulheres
Meus companheiros de infortúnio
Que atravessam esta estreita ponte
Estendida sobre o abismo profundo
Que liga o nascer ao morrer
Dizei-me vós, ó atordoados, explicai-me
Como é que essas podres e cínicas tábuas
Que nos sustentam
E essas finas cordas não arrebentam
Com o peso de nossos pecados?

sábado, 14 de setembro de 2013

Tempos de ódio

Há por demais insanidade
Em se falar de amor, dar e pedi-lo
Nesses nossos horrendos dias cínicos
Para se viver o amor, para ser amor
Há de se ter um cenário de rosas
De candura e certa inocência
Não há esperança no Inferno
Não há amor em tempos de ódio.

Em bar go?

Em bar
Barato
O gordo
Embarga
O prato
E o dono
Desembarga
A conta
Pediu
Beliscou
Comeu
Paga.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Silêncios que gritam

Ah, Esses silêncios
Essas quietudes que gritam
Eloquentes silêncios
Terrivelmente verdadeiros...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Traças eletrônicas

Antigamente, os escritores temiam as traças
Morriam de medo dos incêndios
Únicos males contra a eternidade da obra
Hoje, os temores são os vírus virtuais
Traças eletrônicas que os textos comem.

domingo, 8 de setembro de 2013

Alquimista

Sou um alquimista, sempre fui
Gosto de ver a essência das coisas
Suas entranhas, suas constituições
Há muita mágica nisso
Na magia que eterno me faz o espírito.

Mentira e fantasia num mundo sem verdade

Não me peças conselhos, amiga
Pede aos poetas coisas fáceis
A Lua, estrelinhas distantes...
Uma réstia de luz...
Mas jamais receituários de vida
Há muito engodo nos que aconselham
Muita mentira e demasiada fantasia
E poetas não mentem
Porque versos são verdade
E a verdade é péssima conselheira
Neste mundo habitado pela falsidade. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Apenado

Estou calculando a dosemetria da minha saudade
Apartado de ti deste lado do velho Atlântico, nele
Acrescento 2/3 do sal do muito que hei chorado.

Batuque do polaco louco

A minha poesia tem mania de exageros
Uma folhinha que cai levezinha d'árvore
Explode como granada ao chegar ao chão
Só não exagera quando te sente no meu coração
Ao dizer-me em taquicardias agudas,
Em batucadas descoordenadas
Iguais às de samba composto por polaco louco
Que tu és o meu mundo e mais um pouco.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Meu riso


Chegamos ao mundo chorando e dele nos despedimos mudos -- e no meio disto, neste susto que chamamos vida, só nos resta o riso a negar essas duas verdades extremas.

Despertador Digital

Ontem acordou-me um bem-te-vi...
Quem hoje acorda com bem-te-vis?
Autômatos, frios robôs inumanos
Só despertam com bips eletrônicos.