Há um lamento enjaulado
Que faz malabarismos
E loucas tentativas de fuga
Sou o domador e palhaço desse choro
E com enorme relho de couro bato-lhe
Até que sangre
E se esgote em si
Um dia esse choro há de aprender
Que antes de tentar fugir
Há de escancaradamente sorrir
Domo também borboletas
E as coloco em fila
Da maior para a menor
Das coloridas às sem graça
E em revoada elas voam
Até o trapézio sem redes
Mas que domador louco seria
Se julgasse necessárias redes
Para salvar da queda
Quem por natureza sabe voar
Daí seria só palhaço
Tenho também doze pernilongos
Oito grilos, e meia-dúzia de sapos
Que um dia pretendo domar
Guardo-os em caixas de sapatos
Para que se cansem da escuridão
E se encantem depois com a luz do dia
E à noite, depois do espetáculo
Gosto de domar nuvens...
A troco de algodão-doce
Elas tomam a forma que desejo
Esses dias fiz um palhaço alegre
Aparecer de uma nuvem triste
Custou-me isso
Apenas um punhado de algodão
Mas era uma alegria tão sem alegria
Escancaradamente artificial
Que esse truque não ensino
E não faço mais não
Amanhã vou fazer uma surpresa
Com meu temido açoite bárbaro
Farei cócegas nas estrelas
Algo neste mundo há de rir de verdade
E se o Universo sorrir
Tudo que existe vai lhe acompanhar
Inclusive os palhaços, tristes palhaços
Mesmo não sabendo o motivo
Porque para ser triste, bem triste
Neste circo em espetáculos contínuos
Não se carece de muita motivação
Nascemos tristes, morremos tristes
Alegria é uma invenção
Que precisa ser domada, adestrada
E ensinada para nossos corações.
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