quinta-feira, 26 de março de 2015

Até jaz

Herberto Helder - (23/11/1930 - 23/03/2015)


Adivinho quando morre um poeta
O silêncio come a noite
Os pássaros não voam
Pois não há vento

Sei quando um poeta baixa à terra
Em respeito, as árvores viram estacas com cabeleiras lunadas
Nada se move
Nada se mexe, anda ou rasteja
Pois, morreu o poeta

Foi assim no encantamento de Vinícius
Com certeza foi assim com Pessoa
Com Ovídio, Camões, Catulo
Grande, minúsculo, tanto faz
O poeta na cova agora jaz
Muito puto no prelo de suas próprias indagações
Assobiadas nas canções do seu próprio tempo, sempre impróprio
Pois foi curto sempre.

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