Num tempo que já vai distante
E de fingido respeito
Chamava-se "passamento"
Chamava-se "passamento"
A morte de algum sujeito
E nas rádios, depois da Hora do Angelus
Debulhavam-se lágrimas
Debulhavam-se lágrimas
E votos de pesar à família enlutada
Pelo branco e maquiado defunto
Pelo branco e maquiado defunto
Que tinha passado desta para melhor
E que agora estava em câmara ardente
No próprio e derradeiro velório
E que agora estava em câmara ardente
No próprio e derradeiro velório
Enquanto as beatas na sala fofocavam:
O padre arrematava:
Os bêbados, que nem conheciam o morto, diziam em coro:
"Foi para o beleléu"
"Bateu as botas"
"Foi para a cidade dos pés juntos"
"Esticou as canelas"
"Foi comer capim pela raiz"
"Empacotou"
"Vestiu o pijama de madeira"
"Foi para o além"
A sogra comemorava:
"O desgraçado deu adeus ao mundo!"
O padre arrematava:
"Entregou a alma a Deus"
A viúva em suspiros já tinha saudades:
"Apagou a vela de vez!"
Os bêbados, que nem conheciam o morto, diziam em coro:
"Foi para o beleléu"
"Bateu as botas"
"Foi para a cidade dos pés juntos"
"Esticou as canelas"
"Foi comer capim pela raiz"
"Empacotou"
"Vestiu o pijama de madeira"
"Foi para o além"
"Virou presunto!"
A sogra comemorava:
"Foi bom, parou de sofrer, já estava na hora extra!"
E num canto, um chifrudo do defunto, com despeito, em rogo praguejava:
"Bem feito, entregou a alma pro diabo!".
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