quinta-feira, 23 de julho de 2015

Poema para palavras mortas

Tenho pena dessas palavras
Que frequentam os ofícios dos burocratas
Seus requerimentos
Seus memorandos
Seus e-mails que puxam o saco
Do diretor do departamento
Do chefe imediato
Outrossim, mui respeitosamente,
Nesta, atenciosamente
Ilustríssimo, excelência
Despacho, deferimento
E indeferimento…
Há anos que essas palavras
São o meu tormento
Em noites de graves poemas
Elas de mim se acercam
E ficam num cantinho
Com carinha de dó
Esperando vez
Estão cansadas da vida de arquivos
Querem prateleiras de bibliotecas
Olhos esperançosos de moças e moços
Risos de crianças em livros sapecas
São palavras operárias cansadas de viver
Em escritos medonhos, feitas para o trabalho
Mas, vou dar vida novamente a elas
Pois esse é o meu ofício
Ressuscitar palavras
E que triste poeta seria eu
Desalmado mesmo
Se lhes negasse um poema!

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