quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Borboleta em verso

Um verso que lembra a Primavera
Se finge de colorida borboleta
E arrodeia-te pedindo teu aroma de flor.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Prova de vida

Andava roto e morto, sem graça
sem contentamentos
Sem amores, sem sonhos
Para o hoje e para o depois

As lembranças
A saudade do pouco doce havido
Do amargo sofrido
O procuravam em raros momentos

Morrera na pior morte possível
Na morte em que tudo ao redor se faz vivo
Precisava para si, urgente
Produzir uma prova de vida.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mausoléu

Passaste a vida
Recolhendo para ti
Os tesouros do mundo
E agora que a vida passou
E dela te ausentaste
De que valeu?

Se os teus já dividem
A tua fortuna
Sobre a tua lápide
Em belo mausoléu
Que mandaste erguer
Para descanso de teus ossos

Ao longe chegam, vês?
Os últimos abutres
Que mastigarão tua carne
Em longa noite
Que tu terás
Apartado das lembranças
Daqueles amores gratuitos
Das flores agrestes
Da beleza do simples
Que nunca quiseste.
Negaste. Passaste. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Meu Espírito foge

Sei que meu Espírito me escapa
À noite segue por escuridões
Mas tudo vê em mundo que não sei

Com quais energias trava contato?
Com quais anjos conversa?
A quais demônios despreza?

Em qual dimensão isso se faz?
Não sei

Só sei que me volta outro
Sempre contente e rico
E me desperta na manhã
Em injustificado contentamento
Com a minhas miseráveis condições
De homem, de carne e de poeta.


domingo, 18 de outubro de 2015

Dos porcos e burros

Para o porco
É dado único destino
Na lama ele terá o seu fim

Para o burro
O fim é um pouco diferente
Com a canga e o capim

E assim dita a natureza
Não adianta perfumar porco
Nem alimentar burro com jasmim.


Desgosto

Desgosto é desgosto
Sofre-se perto dele
Longe dele sofre-se.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Ciumenta

Olhei para o céu e ela me disse:
"Pare de olhar para a bunda dos anjos!"
Ciumenta, porém muito religiosa!

Belos são os dias

Belos são esses dias que temos em vida
O segredo: não deixe ninguém enfeiá-los.

Amar-te é preciso

Atravesso o Mar das Saudades...
Abraçar-te novamente é preciso
Beijar-te novamente é preciso
Amar-te sempre é preciso
Sem isso, viver não é preciso.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O Neutrino abunda

O Neutrino, sujeitinho encardido
Calado, amigo tímido dos físicos
Testemunha das atômicas explosões
Que povoa e atravessa o Universo
E que vem dos cafundós até o meu coração
Para o povo, não tinha muita serventia não...
E, pois, o que não faz um Prêmio Nobel, Deus do céu?
Agora ele é mais conhecido (Deus nos acuda!)
Do que a bunda da Popozuda!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Caixa de engraxate

Às vezes, aventuro-me pelo erudito
Que é a linguagem dos deuses do Olimpo
Chatos e entediados por habitar um lugar
Onde tudo pode ser dito e feito com salamaleques
Mas faço isso de sacanagem
E digo a eles que no Brasil não temos olimpos
Temos morros habitados por gentes mais divertidas
Que, em vez da lira, tangem cavaquinhos
Sopram trombones e castigam pandeiros e tamborins
E falam da bala perdida, da mulher perdida, da vida perdida
E do amor com saudades
Sim, do único amor que é permitido aos mortais
Ah, os deuses ficam com uma inveja danada
E lamentam-se por não saberem batucar um samba
Que aqui se aprende desde menino
Numa simplória caixa de engraxate.