sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A mulher do poeta

Dante amou Beatriz e a transformou na musa da musas ao eternizá-la na Divina Comédia. Consta que o poeta a viu não mais do que duas vezes e dela não obteve palavra, somente um sorriso. Beatriz morreu jovem e Dante casou-se. Com o tempo, o poeta descobriu que havia escolhido mal, sua mulher tinha o comportamento vulgar e era o que hoje chamamos de fofoqueira. Assim, voltar para casa para ele tornou-se um martírio. A vingança de Dante, creio, foi nunca ter citado a megera em seus versos.


II


O poeta John Keats descrevia assim a paixão de sua curta vida, Fanny Brawne: "Carece de sentimentos em todos os traços (...) A boca é má e boa. Os braços são belos, as mãos um pouco feias e os pés toleráveis. Porém é ignorante, de conduta monstruosa (galinha), fugindo em todas as direções". Mas, Keats não deixou suas impressões sobre a moça depois de sua tragédia pessoal -- Miss Brawne, devotamente, cuidou dele por um tempo, antes de sua morte provocada pela tuberculose.

III

Realmente, um monstrinho que sabia ferir a alma alheia. Poeta satírico, Alexander Pope possuía os braços e as pernas como uma aranha, com peito de pomba e corcunda. Embora galanteador, bem resolvido financeiramente, o que é raro em poetas, Pope tinha dificuldades óbvias com as mulheres por sua triste figura. Apaixonou-se pela Lady Montagu, que o repeliu em escárnio e gargalhadas. Pope jamais a perdoaria e até o fim de sua vida atacou Montagu e seus amigos em versos terríveis. Pope não se casou, mas concedeu seu afeto à Marta Blount, amiga da juventude que, por piedade ou amor, desfrutou até o último dia a intimidade do poeta.

IV

A vida de Edgar Alan Poe foi tão espantosa quanto seus versos. Poe perdeu os pais, foi adotado por rica família e deserdado ainda na juventude, em função de seus vícios. Expulso desonrosamente da academia militar de West Point, não se firmando em emprego algum, casou-se com sua prima Virgínia de 13 anos. Bêbado, jogador e acusado de plágio, Alan Poe rolou definitivamente na sarjeta após vender os direitos de sua maior obra, "O Corvo", por apenas 10 dólares e perder a sua tão amada Virgínia em condições miseráveis. Ela rompera um vaso sanguíneo da garganta numa apresentação de canto e durante seis longos anos agonizou, lançando o poeta num mundo escuro e místico. Poe se entregou definitivamente à bebida e, em breves momentos de lucidez, chegou até mesmo a noivar com viúvas. Morreu num hospital, recitando apenas dois versos inteligíveis: O God!... Is all we see or seem/ But a dream within a dream? -- "Ó Deus!... Tudo que vemos ou julgamos ver/ Não passa de um sonho dentro de um sonho?".




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