O nome fazia-se bonito e imponente
- Casa Estrela, Secos & Molhados.
Era de Antônio e João
(Seo Antônio e Seo João).
Um balcão enorme,
Com bacalhau salgado,
Sardinha na salmoura,
Pedra de rio de peso para o papel,
Corda para o poço,
Rolo de fumo "Tietê",
Enxada Duas Caras,
Querosene Jacaré,
Maizena, azeite de oliva,
Grão de bico,
Feijão e arroz a granel.
Seo Antônio com a caneta atrás da orelha,
Vendia, anotava no caderno, vendia.
Seo João lidando com a máquina de contas
Girava manivelas, para frente e para trás,
Jamais errava número, a vida se contava em menos e mais.
Sim, havia uma portuguesinha
- Menina filha de Seo João.
Aliás tudo ali era português,
Até o barbante que vinha nas mercadorias
Embrulhadas em velhos jornais japoneses.
Voltei lá dia desses, estava de passagem.
O armazém está naquela mesma esquina,
Seo Antônio não mais.
Seo João, velhinho, ainda trabalha
- Não vi sua máquina de calcular
Nem a portuguesinha.
Meu desejo, o que me movia,
Era encontrar um velho menino ali.
Tudo estava quase igual,
As velhas xícaras de porcelana barata,
O ferro de brasa para passar roupa...
Aperto danado no coração...
A certeza de que toda a infância
E o velho menino
Estão empacotados e perdidos,
Ganhando pó e dó,
Nalguma prateleira da Casa Estrela.
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