segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Tardes de Maringá


Era assim
Tardes quentes
Faca jogada no centro do redemoinho de vento
E sebo nas canelas porque ninguém queria ver o tinhoso


Tardes quentes
E toda preguiça do mundo cabia na sombra da mangueira
Era ali que todo menino sonhava


Tardes quentes
Roubar goiaba tinha lá seus perigos, galho liso e tiro de sal
Roubar beijo da vizinha também, bem escondido, para o pai da moça não desconfiar

Tardes quentes
A bola de meia sumia sob nosso pés nus e pingávamos suor
A bola de capotão era luxo, só para o jogo de domingo

Tardes quentes
Banho no ribeirão só escondido da mãe e matando aula
A maldade era uma árvore que ainda não havia florido


Tardes quentes
Doce de tacho, ralar milho para fazer pamonha
Buscar açúcar na venda e ver o mundo no cartaz do cinema

Tardes quentes
O pião que rodava na palma da mão
Na roda, as meninas giravam e não cansavam de maltratar o gato de dona Chica

Tardes quentes
Que anunciavam as noites de lua, repletas de vaga-lumes, mariposas
E que nos traziam o nosso único e verdadeiro medo: assombração, alma penada

Era assim
Tardes quentes em que a vida parecia ser tão boa e simples.

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