Era assim
Tardes quentes
Faca jogada no centro do redemoinho de vento
E sebo nas canelas porque ninguém queria ver o tinhoso
Tardes quentes
E toda preguiça do mundo cabia na sombra da mangueira
Era ali que todo menino sonhava
Tardes quentes
Roubar goiaba tinha lá seus perigos, galho liso e tiro de sal
Roubar beijo da vizinha também, bem escondido, para o pai da moça não desconfiar
Tardes quentes
A bola de meia sumia sob nosso pés nus e pingávamos suor
A bola de capotão era luxo, só para o jogo de domingo
Tardes quentes
Banho no ribeirão só escondido da mãe e matando aula
A maldade era uma árvore que ainda não havia florido
Tardes quentes
Doce de tacho, ralar milho para fazer pamonha
Buscar açúcar na venda e ver o mundo no cartaz do cinema
Tardes quentes
O pião que rodava na palma da mão
Na roda, as meninas giravam e não cansavam de maltratar o gato de dona Chica
Tardes quentes
Que anunciavam as noites de lua, repletas de vaga-lumes, mariposas
E que nos traziam o nosso único e verdadeiro medo: assombração, alma penada
Era assim
Tardes quentes em que a vida parecia ser tão boa e simples.
Nenhum comentário:
Postar um comentário