segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A morada

Tinha os olhos presos no infinito.
O gemido era a voz marcada em ais.
Os gestos, poucos e sem estudo,
Expressões únicas da alma alienada.

Vivia, portanto, sem se saber,
Para longe do alcance do olho,
Para adiante do alcance da fala.
Noutro mundo deveras habitava.

Num dia deu um grito medonho,
Terror mesmo, o mais profundo.

Não sei que noutro mundo viu,
Não sei que o trouxe do nada.

Mas sei que até hoje está paralisado.
É um corpo que a própria alma esqueceu.

Aquele foi seu momento único aqui deixado,
O medo manifesto, seu grito desesperado,
Que fez morada no hospício e lá permaneceu.

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