domingo, 23 de maio de 2010

Verniz da eternidade

A saudade tem o hábito de lembrar a última vez
E destruir todas as outras recordações felizes ou tristes
Lembro-me da última vez que vi meu irmão, já morto
No branco rosto, a paz que nunca teve em tão curta vida
Foi enterrado de tênis, quase nunca usava sapatos
Com uma camisa simples, jamais usou paletó
De jeans como seus ídolos drogados do Rock and Roll
Desceu à terra na simplicidade de uma folha ao despir a árvore
Esta é a saudade última que matou todas as suas lembranças
Desgraçadamente lembro-me ainda que morri também
Um morrer horrível que nos condena a viver na saudade
Na loucura da esperança do que poderia ter sido
E nunca será, porque no meio encontramos a tragédia
Tenho nas narinas o cheiro das velas e doido eco na cabeça
Do som que os Stones e os Beatles nunca fizeram
A terra sobre seu caixão tem um barulho medonho
É o rufar dos tambores de tétrica bateria
Pedrinhas rolantes sobre o verniz da eternidade.

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