Canto
A vida simples e simplesmente
Porque sou poeta
Canto
Porque o cantar foi o que a vida me deu
Por ofício e condena
Canto
A alegria que não existe
Porque nesta comédia
A vida se apresenta em traje de gala
E com a escura capa que não pode esconder
A nossa destinada e rústica mortalha
Canto
Pois há sempre o definitivo final guardado
Para particulares e tristes tragédias.
Canto
A ladainha das contritas procissões
Dos meus taciturnos companheiros
Que lutam em meio a pesadelos
E esperam melhor sina no além
Anunciada pelos santos
E pelo próprio desespero
Canto
A dor da mãe que sem amparo e remédio agoniza
E que depois sem vida é impedida de ouvir
Nos urros das futuras gerações
O ressoar dos doloridos gritos
Saídos de suas enfermas entranhas
Canto
O cansado pai
Que do seu trabalho não vê sustento
Para a pobre e contínua prole
Condenada à miserável ignorância de si
Sua estúpida e verdadeira pobreza
Canto
As injustiças que campeiam mundo
O que come e deixa morrer de fome
O que de branco e encardido colarinho
Rouba
Mata
E se refestela
E se lambuza
Nos excrementos de fétidos festins
Canto
O que abusa dos fracos e inocentes
E bebe do vinagre dos que mentem
Canto
Porque assim como o oceano
Dará sempre na areia ou no rochedo
A vida de quem quer que seja
Dará certamente no último minuto de seu tempo
Naquele inegociável e extremado juízo
Com única e exclusiva sentença
Sem a oportunidade de adeuses demorados
Ou de inúteis lágrimas de tardio arrependimento.
3 comentários:
Canto do tempo findo é nossa cruel realidade..
Nossa amigo, confesso que me emocionou. Canto de um Tempo Findo e forte e nos fala fundo de um tempo e de nos mesmos.
Luz
Ana
Ah amigo, andas escrevendo coisas tristes...Desculpe o comentário mas é que te admiro e gosto muito de ti.
Luz
Ana
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