quarta-feira, 23 de maio de 2012

Esquina curitibana

Vi sim, Seo Menino,
Como não haveria de ver?
Na rua Riachuelo,
O velho chinês
Que lia seu caderno engordurado
E cantava em mandarim
A canção do rouxinol.

Ali, aquela puta gorda,
De carnes expostas como se no açougue,
Convidava com olhar de navalha
Os traficantes, ladrões e toda a canalha
Para os mofos dos quartos rotos.

Vi sim, Seo Menino,
Ali na rua São Francisco,
O executivo faminto
Revirando as latas de lixo
Para encontrar negócio e lucro.
Ele quer montar uma tal de usina
Para queimar o que nos sobra
E torrar a paciência do bispo.

Tinha também aquele moleque
De olho graúdo e de fome
Com seu tênis colorido
A amolar seu canivete
Para abrir uma lata de picles.

E no cansado de meus olhos,
Ainda na mesma esquina,
Vi a menina das flores e dos doces
Que enfeitava aquele fim de tarde
Com o amargor de sua sina
Ao vender doçura e beleza
Para os esquecidos da cidade.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

As esquinas sempre revelam a beleza ou a crueldade da vida.Adorei!
Luz
ana