segunda-feira, 7 de maio de 2012

Do outro lado do rio

Não te enganes, caríssimo meu,
Tudo que é teu vai no teu espírito guardado.

Nesta viagem pelo frenocômio
Não adianta guardar penduricalhos,
Souvenirs adquiridos aqui e ali:
Certamente serão apreendidos
E na última alfândega barrados.

E não tem conversa, porque até hoje
Não temos notícia
De alguém que tenha conseguido
Subornar o guarda
Ao passar para o mundo dos olvidados.

Lá, do outro lado,  depois dos escuros,
E assim dizem todos os livros sagrados,
Só vão querer saber de cargas leves,
Do amor dado, do bem que nos alivia.

Saibas meu caro, o barco de Caronte é frágil,
Não aguenta o peso dos ódios acumulados,
Não suporta os paralelepípedos doirados
Que guardaste no banco
À custa de muito sofrimento alheio.

Sim, chegarás na margem do rio de mãos vazias:
Sem malas, sem carros, sem luxo, sem bolsos...
E a passagem será cobrada do que levarás contigo
Aí bem dentro de tua alma, de teu espírito. 

Lá,  meu amigo, não adianta ligar para o banqueiro,
Contratar empréstimos, pedir ao gerente,
Descontar um cheque, uma letra de câmbio:
Lá, o amor é a única moeda aceita e corrente.
Portanto, vai acumulando bastante desse capital
Para que, quando surpreendido, ele não te falte.


Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

A única moeda aceita por Carronte, a alma leve como a pluma de Maat. Quem hoje se importa com isso? Quase nada, não é? Adorei!!
Luz
ana