terça-feira, 22 de maio de 2012

O último incréu morreu ontem

É de rir, gargalhar, rolar pelo chão, amigo,
Ver o sujeito, douto e perfeito, a bater no peito
Ao se declarar descrente, o incréu dos incréus!

Digo:
O último incrédulo morreu ontem!

Porque é condição sine qua non para estar vivo
Ter um coração com um bocadinho de esperança
E tê-la é ter fé. É justificar o hábito de respirar.

O filósofo matou a fé no homem
Junto com seu espírito e seu Deus
E ao mesmo tempo a Filosofia
Ganhou um grande enterro,
Porque deixou de ser esperança.

E para que serve a Ciência
Se não for para salvar o homem
Da loucura do tudo acabado,
Do tudo sem sentido e sem verdade?

E digo:
O último poeta sem esperança,
Que é a mais pura e verdadeira crença
No semelhante, igualmente morreu ontem!

Seus livros de nada servirão,
De nada serão em proveito do homem,
Pois é na poesia que se encontra a beleza do mundo
A flutuar aqui e ali nesse mar de brutalidades.

A poesia é alimento do espírito, fortaleza d'almas,
É a voz que traz d'outros mundos os ecos divinos
Para o encantamento desses nossos duros dias.

Do contrário, seríamos árvore que sofre sob a geada
Para no Verão morrer com a alma ressecada,
Como esses homens que andam por aí iguais a zumbis,
Almas de cântaros no Inverno da descrença:
Pobres, vazios, mortos são e não sabem.

2 comentários:

Virginia Finzetto disse...

Adorei, Nandé! "A poesia é alimento do espírito, fortaleza d'almas,
É a voz que traz d'outros mundos os ecos divinos
Para o encantamento desses nossos duros dias." Isso mesmo... Obrigada!

Ana Coeli Ribeiro disse...

"É na poesia que se encontra a beleza do mundo
"Almas de cântaros no inverno da descrença: Pobres, vazios, mortos..
Não há mais o que dizer!
Ana