sábado, 16 de março de 2013

Cantiga do caboclo fujão

De vez em quando esse tirano Sol
Que queima na cangalha dos caboclos
A puxarem enxada na roça
Deixa um deles escapar da lida, dos eitos
Para ser culto, para ser letrado
Para o choro das mães
Para o choro d'alguma caboclinha bonita

O Sol fecha os olhos em permissão
E o peão escapa
Ainda escutando os saudosos latidos
De um cachorro chamado Sabugo,
Ou Graveto, ou outra coisa modesta

Daí o caipira fujão vai a duras penas
Sentar nas severas carteiras da escola
Vai trocar o suor da enxada pelo penar na caneta

A camisa de chita, calças de algodão molesto,
A marmita nunca cheia porém contente
Serão agora, terno, gravata, macia cueca
E um prato
Que a antiga e boa comida vomita.

Mas o Sol cobra viagem
E quando ele se esconde na tardinha
Encoberto pelos prédios e solidões
Vem no caboclo antiga saudade
Que puxa de sua viola os esquecidos versos
De dias que da memória já hão fugidos
Em que a revirada terra era a dura terra
No cio para novas sementes
E o homem era gente
Gente, simplesmente gente em simplicidade.


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