Há arte em cortar cebolas?
Pois há
A arte de cortar cebolas
Está em não chorar
Em cortá-las em tiras finas
Em infinitá-las em miúdos
Pedacinhos
E não chorar
Nunca chorar.
Há arte em viver?
Pois há
A arte de viver
Está em não chorar
Em cortar-se em tiras finas
E infinitar-se em miúdos
Pedacinhos
E não chorar
Não chorar nunca.
Copyright © 2005 by Fernando Nandé, poesia, literatura, Curitiba-PR Brazil.
terça-feira, 27 de dezembro de 2005
A arte de cortar cebolas
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2005
Da sabedoria
Eis o Sábio
Que vaga pelos escuros
E sussurra para os que não dormem:
Não vos canseis à toa...
Tudo é ilusão.
Gastamo-nos nas inutilidades
E vemos nelas somente vaidades.
Observai, o próximo minuto
É tão cheio de incertezas
Quanto o é a eternidade.
Viveremos o próximo minuto?
E até que ponto da eternidade?
A tolice dos homens nos diz
Que é possível uma eternidade
Para nós, e também para os tolos.
Porém, a ilusão da eternidade não vai além
Dos vossos últimos suspiros e da cova do cemitério.
O que sabemos desde que deixamos o ventre de nossa mãe?
Apenas que estamos no tempo de viver.
O que vem antes, o que vai depois, quem sabe?
A eternidade só parece possível
Para o espírito ou energia.
Não sabemos nos medir em energia,
Não nos reconhecemos como espírito.
Não corrais atrás do vento...
Tudo é vaidade.
O homem é vaidade.
A matéria morre;
A energia vive.
Trabalhei para gastar o tempo,
Tive a ciência para gastar o tempo,
Tive a arte para embelezar o tempo,
Nada valeu. O tempo gastou-me nessas vaidades.
No trabalho apenas vi o refazer constante
Das tolices que damos tanto valor.
Ganhei dinheiro com essas tolices
Para alimentar mais vaidades.
Construí uma casa para me guardar do frio,
Para me guardar do sol, para me guardar do ladrão.
Ergui um templo para meu Deus e nele guardei meu espírito,
E descobri que a casa e o templo só guardavam vaidades.
Vi o Sol nascer todos os dias,
O Sol se pondo todos os dias,
O rio correndo todos os dias,
O vento soprando todos os dias
E se me faltarem os dias?
Tudo continuará como é:
O Sol a nascer,
O Sol se pondo,
O rio correndo,
O vento soprando...
Tudo como foi, é e será.
Nada é novo,
Mas mesmo assim
Olhamos para o mar,
Esperando um mar novo;
Olhamos para o homem,
Esperando um homem novo;
Escutamos palavras,
Querendo uma palavra nova;
Ouvimos um som antigo,
Esperando uma música nova.
Tudo se afadiga,
Menos nossos tolos desejos,
Nossas tolas vaidades.
O Sol ilumina a Terra
Para que possamos ter
Em nossa ciência
A incapacidade da vaidade.
Tudo que há abaixo do Sol
Existe e nossos espíritos
Não alcançam suas verdades.
A ciência limitada em nossas cabeças
Apenas nos faz aborrecer,
Pois ela também é vaidade.
Talvez o prazer fosse nosso significado
E mesmo o prazer não passa de vaidade.
Ao sabermos condenados à morte
Do que nos serve o riso? Do que nos serve o choro?
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo:
A morte é caminho que devemos percorrer,
Todos nós, um dia, dela ganharemos passagem.
Para onde nos levará ninguém sabe;
A certeza é que ela não admite bagagem.
Sensato, portanto, acumular apenas aquilo que nos dê boa velhice,
Tenhamos apenas o suficiente para comer, beber e nos divertir.
Tende filhos para que eles se lembrem de vossos ancestrais,
Mas não deixeis muito para que eles não se esforcem,
Mas nem pouco para que padeçam e vos amaldiçoem.
Trabalhai o necessário,
Amai o necessário,
Tende um Deus necessário,
E sede necessários.
Tudo além disso é vaidade, nada mais do que vaidade.
O trabalho e a diversão nos distraem da morte.
O amor nos liberta da carne
E Deus nos dá esperança.
Mas sem excessos.
Do contrário
Sereis escravos,
Sereis amargos,
Sereis fanáticos.
Não espereis a generosidade nos homens
E a justiça em sua política.
Mas dai de coração e sede justos.
É melhor ter um coração alegrado pela bondade
E um espírito banhado na justiça
Do que perder o sono e temer a hora da morte.
Não prometais nada
Nem a vosso irmão
Nem a Vosso Deus.
Pois, a vida só nos promete a morte
E ela pode nos quebrar a promessa.
Não ameis a matéria
O amor vem do espírito
E no espírito deve ter refúgio.
O amor fora do espírito não é amor;
É desejo, é posse, é dominação, é doença e aflição.
Ao andar pela noite do tempo,
Vi que a bondade e a maldade nascem da mesma árvore.
Ao esticar o braço para alcançar esses frutos,
Senti gastar-me no mesmo trabalho.
Ao alimentar-me do mal,
Senti que me faltava o sono e sobravam-me os pesadelos.
Ao alimentar-me do bem,
Senti que dormia tranqüilo e tinha bons sonhos.
O que é mais sensato neste tempo de viver?
Só o tolo se alimenta da maldade e da vaidade.
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo.
----------------
(Livre interpretação do Eclesiastes)
Que vaga pelos escuros
E sussurra para os que não dormem:
Não vos canseis à toa...
Tudo é ilusão.
Gastamo-nos nas inutilidades
E vemos nelas somente vaidades.
Observai, o próximo minuto
É tão cheio de incertezas
Quanto o é a eternidade.
Viveremos o próximo minuto?
E até que ponto da eternidade?
A tolice dos homens nos diz
Que é possível uma eternidade
Para nós, e também para os tolos.
Porém, a ilusão da eternidade não vai além
Dos vossos últimos suspiros e da cova do cemitério.
O que sabemos desde que deixamos o ventre de nossa mãe?
Apenas que estamos no tempo de viver.
O que vem antes, o que vai depois, quem sabe?
A eternidade só parece possível
Para o espírito ou energia.
Não sabemos nos medir em energia,
Não nos reconhecemos como espírito.
Não corrais atrás do vento...
Tudo é vaidade.
O homem é vaidade.
A matéria morre;
A energia vive.
Trabalhei para gastar o tempo,
Tive a ciência para gastar o tempo,
Tive a arte para embelezar o tempo,
Nada valeu. O tempo gastou-me nessas vaidades.
No trabalho apenas vi o refazer constante
Das tolices que damos tanto valor.
Ganhei dinheiro com essas tolices
Para alimentar mais vaidades.
Construí uma casa para me guardar do frio,
Para me guardar do sol, para me guardar do ladrão.
Ergui um templo para meu Deus e nele guardei meu espírito,
E descobri que a casa e o templo só guardavam vaidades.
Vi o Sol nascer todos os dias,
O Sol se pondo todos os dias,
O rio correndo todos os dias,
O vento soprando todos os dias
E se me faltarem os dias?
Tudo continuará como é:
O Sol a nascer,
O Sol se pondo,
O rio correndo,
O vento soprando...
Tudo como foi, é e será.
Nada é novo,
Mas mesmo assim
Olhamos para o mar,
Esperando um mar novo;
Olhamos para o homem,
Esperando um homem novo;
Escutamos palavras,
Querendo uma palavra nova;
Ouvimos um som antigo,
Esperando uma música nova.
Tudo se afadiga,
Menos nossos tolos desejos,
Nossas tolas vaidades.
O Sol ilumina a Terra
Para que possamos ter
Em nossa ciência
A incapacidade da vaidade.
Tudo que há abaixo do Sol
Existe e nossos espíritos
Não alcançam suas verdades.
A ciência limitada em nossas cabeças
Apenas nos faz aborrecer,
Pois ela também é vaidade.
Talvez o prazer fosse nosso significado
E mesmo o prazer não passa de vaidade.
Ao sabermos condenados à morte
Do que nos serve o riso? Do que nos serve o choro?
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo:
A morte é caminho que devemos percorrer,
Todos nós, um dia, dela ganharemos passagem.
Para onde nos levará ninguém sabe;
A certeza é que ela não admite bagagem.
Sensato, portanto, acumular apenas aquilo que nos dê boa velhice,
Tenhamos apenas o suficiente para comer, beber e nos divertir.
Tende filhos para que eles se lembrem de vossos ancestrais,
Mas não deixeis muito para que eles não se esforcem,
Mas nem pouco para que padeçam e vos amaldiçoem.
Trabalhai o necessário,
Amai o necessário,
Tende um Deus necessário,
E sede necessários.
Tudo além disso é vaidade, nada mais do que vaidade.
O trabalho e a diversão nos distraem da morte.
O amor nos liberta da carne
E Deus nos dá esperança.
Mas sem excessos.
Do contrário
Sereis escravos,
Sereis amargos,
Sereis fanáticos.
Não espereis a generosidade nos homens
E a justiça em sua política.
Mas dai de coração e sede justos.
É melhor ter um coração alegrado pela bondade
E um espírito banhado na justiça
Do que perder o sono e temer a hora da morte.
Não prometais nada
Nem a vosso irmão
Nem a Vosso Deus.
Pois, a vida só nos promete a morte
E ela pode nos quebrar a promessa.
Não ameis a matéria
O amor vem do espírito
E no espírito deve ter refúgio.
O amor fora do espírito não é amor;
É desejo, é posse, é dominação, é doença e aflição.
Ao andar pela noite do tempo,
Vi que a bondade e a maldade nascem da mesma árvore.
Ao esticar o braço para alcançar esses frutos,
Senti gastar-me no mesmo trabalho.
Ao alimentar-me do mal,
Senti que me faltava o sono e sobravam-me os pesadelos.
Ao alimentar-me do bem,
Senti que dormia tranqüilo e tinha bons sonhos.
O que é mais sensato neste tempo de viver?
Só o tolo se alimenta da maldade e da vaidade.
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo.
----------------
(Livre interpretação do Eclesiastes)
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
Paixões curitibanas
Mandei-te tantas flores,
Tantas rosas vermelhas
E nenhuma resposta
(Depois descobri que o florista errou o endereço!)
Nas vezes em que conversamos
Quantos segredos não revelados
Quantos enganos em nós escondidos
Num ramalhete, num bilhete
Em rosas puramente vermelhas
Que te mandei junto com o meu coração atleticano
(Como poderia adivinhar-te muda e coxa-branca?)
Dediquei a ti tantos poemas
Poemas em pétalas de rosa
Rosas vermelhas, vermelhas rosas
E nenhuma resposta.
(Como poderia saber-te daltônica e especialista em prosa?)
Definitivamente desisti
Com os olhos vermelhos,
Vermelhos olhos,
De tantas lágrimas
Dedicadas a ti,
Fiz a felicidade da oftalmologista.
* * *Para quem não conhece Curitiba: aqui, algumas ruas chegam a ter mais cinco nomes, fora os nomes polacos impronunciáveis e os nomes semelhantes, do tipo Marechal Floriano e Marechal Deodoro. A numeração das casas é uma desgraça. É mole, mole se perder na cidade.
Atléticano(a) é o torcedor do Clube Atlético Paranaense.
Coxa-branca é o torcedor do Coritiba F. C., principal adversário do Atlético.
Os homens de Curitiba, embora com a fama de sisudos e calados, têm o salutar hábito de mandar flores para suas mulheres e namoradas.
Tantas rosas vermelhas
E nenhuma resposta
(Depois descobri que o florista errou o endereço!)
Nas vezes em que conversamos
Quantos segredos não revelados
Quantos enganos em nós escondidos
Num ramalhete, num bilhete
Em rosas puramente vermelhas
Que te mandei junto com o meu coração atleticano
(Como poderia adivinhar-te muda e coxa-branca?)
Dediquei a ti tantos poemas
Poemas em pétalas de rosa
Rosas vermelhas, vermelhas rosas
E nenhuma resposta.
(Como poderia saber-te daltônica e especialista em prosa?)
Definitivamente desisti
Com os olhos vermelhos,
Vermelhos olhos,
De tantas lágrimas
Dedicadas a ti,
Fiz a felicidade da oftalmologista.
* * *Para quem não conhece Curitiba: aqui, algumas ruas chegam a ter mais cinco nomes, fora os nomes polacos impronunciáveis e os nomes semelhantes, do tipo Marechal Floriano e Marechal Deodoro. A numeração das casas é uma desgraça. É mole, mole se perder na cidade.
Atléticano(a) é o torcedor do Clube Atlético Paranaense.
Coxa-branca é o torcedor do Coritiba F. C., principal adversário do Atlético.
Os homens de Curitiba, embora com a fama de sisudos e calados, têm o salutar hábito de mandar flores para suas mulheres e namoradas.
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quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
Manto para aquecer o Sol
Olho para a cadeira vazia
E uma alucinação contente
Enche-a de ti
Teus cabelos formam um espectro
De vidro negro transparente
Teus lábios movem-se
E dizem-me coisas indecifráveis
Que guardarei como um papel velho
Com um endereço importante escrito a lápis
Amo estas horas em que estás comigo
É o que me sobrou da vida
Os meus dias nada são
Além de um longo esperar
Espichado pela tua falta
Tudo nessa casa cheira a mofo
Os móveis estão velhos
E os meus sonhos mofam
Com meu último paletó de festa
Amo (ainda consigo!) amo a noite
Pois ela me dá esta visão
Não há mais cadeira vazia
Tu estás ali a falar comigo
Quando faltaste, fiquei dias
A olhar para a cadeira de balanço
Vazia, inerte, vazia, inerte, vazia
Não. Não fui ao cemitério
Fiquei apenas ali olhando
A cadeira vazia, tentando
Catar os pedaços, os pedacinhos
De vida que, sem ti, a vida fez mofar.
Caminho todos os dias
Pelos nossos antigos caminhos
E sinto teu braço
Junto ao meu...
Tua respiração difícil
Pedindo para descansar.
É início de outono
E o ar que nos envolve
Prenuncia uma solidão
De séculos
Tua voz sai fraca
Num hálito de morte
Pede-me um lenço
E que eu cante a ti
Um poema de Florbela.
Uso meu sotaque português
(Aquele que jamais tive)
E num soluço
Canto dois sonetos
Ao pé do teu ouvido
“Leve-me ao médico”
E desespero-me
E atendo-te
À noite carrego-te para casa
E tu naquela cadeira...:
“Cante Florbela...
Quero ouvir a poeta....”
“Tinha o manto do sol... quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de ouro despedaçou?!”
Não. Não fui ao cemitério...
E uma alucinação contente
Enche-a de ti
Teus cabelos formam um espectro
De vidro negro transparente
Teus lábios movem-se
E dizem-me coisas indecifráveis
Que guardarei como um papel velho
Com um endereço importante escrito a lápis
Amo estas horas em que estás comigo
É o que me sobrou da vida
Os meus dias nada são
Além de um longo esperar
Espichado pela tua falta
Tudo nessa casa cheira a mofo
Os móveis estão velhos
E os meus sonhos mofam
Com meu último paletó de festa
Amo (ainda consigo!) amo a noite
Pois ela me dá esta visão
Não há mais cadeira vazia
Tu estás ali a falar comigo
Quando faltaste, fiquei dias
A olhar para a cadeira de balanço
Vazia, inerte, vazia, inerte, vazia
Não. Não fui ao cemitério
Fiquei apenas ali olhando
A cadeira vazia, tentando
Catar os pedaços, os pedacinhos
De vida que, sem ti, a vida fez mofar.
Caminho todos os dias
Pelos nossos antigos caminhos
E sinto teu braço
Junto ao meu...
Tua respiração difícil
Pedindo para descansar.
É início de outono
E o ar que nos envolve
Prenuncia uma solidão
De séculos
Tua voz sai fraca
Num hálito de morte
Pede-me um lenço
E que eu cante a ti
Um poema de Florbela.
Uso meu sotaque português
(Aquele que jamais tive)
E num soluço
Canto dois sonetos
Ao pé do teu ouvido
“Leve-me ao médico”
E desespero-me
E atendo-te
À noite carrego-te para casa
E tu naquela cadeira...:
“Cante Florbela...
Quero ouvir a poeta....”
“Tinha o manto do sol... quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de ouro despedaçou?!”
Não. Não fui ao cemitério...
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terça-feira, 20 de dezembro de 2005
Cantiga para endoidecer pernilongos
Não quero ser um poeta maluco
Desses que escreve como um louco
E para todos os doidinhos do Sanatório
Central do EStado
Escreverei de hoje para diante
Canções de ninar
Sim, canções de Morfeu
Sonetos aos punhados
Para a fera que vive no Zoo Público
(Coitada, poeta algum dela se ocupou)
Cantarei depois outras musiquinhas
Uma ode para o musgo da parede
Um soneto para o pernilongo
(Que agoniza após sorver
Todo o meu sangue
Nesta noite de Outono)
Sim! Estava a me esquecer!
Um poema emplumado
E alexandrino
Para teus olhos
Abaloados
Tristes
Amendoados
Numa súplica
De adeus.
Desses que escreve como um louco
E para todos os doidinhos do Sanatório
Central do EStado
Escreverei de hoje para diante
Canções de ninar
Sim, canções de Morfeu
Sonetos aos punhados
Para a fera que vive no Zoo Público
(Coitada, poeta algum dela se ocupou)
Cantarei depois outras musiquinhas
Uma ode para o musgo da parede
Um soneto para o pernilongo
(Que agoniza após sorver
Todo o meu sangue
Nesta noite de Outono)
Sim! Estava a me esquecer!
Um poema emplumado
E alexandrino
Para teus olhos
Abaloados
Tristes
Amendoados
Numa súplica
De adeus.
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2005
Cócegas do silêncio
Às vezes paro
E fico a escutar
Meu silêncio
— Já ouviste o silêncio? —
Às vezes meu silêncio
Dá gritinhos como criança
Ávido para contar
O que não sabe
E pouco entende
Às vezes, meu silêncio
Faz cócegas em meus pensamentos
E eu pego-me a rir sozinho
Às vezes, meu silêncio
Se veste com roupas de pompa
E freqüenta os salões das idéias
Rebuscadas, estudadas e chatas
Às vezes, meu silêncio se faz
Nele mesmo, nu, apenas silêncio
E em silêncio choro.
— Já ouviste o silêncio? —
E fico a escutar
Meu silêncio
— Já ouviste o silêncio? —
Às vezes meu silêncio
Dá gritinhos como criança
Ávido para contar
O que não sabe
E pouco entende
Às vezes, meu silêncio
Faz cócegas em meus pensamentos
E eu pego-me a rir sozinho
Às vezes, meu silêncio
Se veste com roupas de pompa
E freqüenta os salões das idéias
Rebuscadas, estudadas e chatas
Às vezes, meu silêncio se faz
Nele mesmo, nu, apenas silêncio
E em silêncio choro.
— Já ouviste o silêncio? —
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2005
Pílula diária
Indicação
Como coadjuvante no tratamento:
Das mialgias,
Das artralgias,
Enfim, todalgia
Efeitos comprovados em almas cansadas.
Modo de usar
Em aplicações locais, várias vezes ao dia,
Eternamente, infinitamente.
Precauções
Pouco eficaz em sujeitos que cultivam rotinas sem sentido e amorfas.
Causa taquicardia em casos avançados de paixão.
Fórmula
Para cada minuto do dia, 100% viver.
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Passa-tempo
Penso na velocidade das horas
(Tão mansas que, a priori, é preferível não pensá-las)
Penso na brevidade do encontro
(Que de tão doce é melhor não prová-lo)
Penso e penso suspenso nos teus brincos
Onde brinco de pensá-la.
(Tão mansas que, a priori, é preferível não pensá-las)
Penso na brevidade do encontro
(Que de tão doce é melhor não prová-lo)
Penso e penso suspenso nos teus brincos
Onde brinco de pensá-la.
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Avoanças
“Para lá vejo ir
Nosso caminho!
Ó pai, vamos partir!”
J. W. Goethe
Meus pés seguem os apelos do lá
Do que há de ser; do que pode ser
Do que se faz além do além
Sou andanças
Sou voança
Aprendi isso menino
Para viver
Há de se correr
Há de se voar
Antecipando-se ao sonho
Antecipando-se ao pensar
Aprendi isso menino
Viver em andanças
Com asas em avoanças
De modo que a morte
Não me alcance.
Do que há de ser; do que pode ser
Do que se faz além do além
Sou andanças
Sou voança
Aprendi isso menino
Para viver
Há de se correr
Há de se voar
Antecipando-se ao sonho
Antecipando-se ao pensar
Aprendi isso menino
Viver em andanças
Com asas em avoanças
De modo que a morte
Não me alcance.
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
A violista
Solta, entre uma nota e outra,
Só, a violista sola.
A música, fio longo, se tece
Solitária no jovem espírito.
Do palco treva
Trespassam sonoridades
Impulsionadas pelo braço fantasma
Branco a furar o escuro
Em arco que viola a viola.
Este sobe e desce sugere
Estupro das cordas
Ao arrancar suspiros
Da oitava máxima.
Silêncio ( )
Outro fio longo
Em nova nota aparece
Depois mais silêncio ( ) que
No peito eternidades tece.
Toque. Toque querida
Tenho frio
E meu agasalho
São estas eternidades breves.
Só, a violista sola.
A música, fio longo, se tece
Solitária no jovem espírito.
Do palco treva
Trespassam sonoridades
Impulsionadas pelo braço fantasma
Branco a furar o escuro
Em arco que viola a viola.
Este sobe e desce sugere
Estupro das cordas
Ao arrancar suspiros
Da oitava máxima.
Silêncio ( )
Outro fio longo
Em nova nota aparece
Depois mais silêncio ( ) que
No peito eternidades tece.
Toque. Toque querida
Tenho frio
E meu agasalho
São estas eternidades breves.
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Almoço
Minha casa tem agora
Uma vaquinha e um girassol
Pintados no pano de prato
Moro na cidade
Mas tenho em casa
Essas relíquias do campo
Que limpam o prato
Da comida de todo dia
Feita, frita e engolida
Sob todas as artificialidades.
Uma vaquinha e um girassol
Pintados no pano de prato
Moro na cidade
Mas tenho em casa
Essas relíquias do campo
Que limpam o prato
Da comida de todo dia
Feita, frita e engolida
Sob todas as artificialidades.
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Luares
Sou selenita
Mergulhado
No mar
Da Tranquilidade
Dos teus olhos.
Mergulhado
No mar
Da Tranquilidade
Dos teus olhos.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2005
À noite
Poesia se faz à noite
Foi nela que Bandeira
Escutou os sapos
Parnasianos coaxarem
Foi nela que Pessoa
Cruzou o mar português
Nela os poetas são livres
(A noite desconhece a gramática e suas prisões).
Foi nela que Bandeira
Escutou os sapos
Parnasianos coaxarem
Foi nela que Pessoa
Cruzou o mar português
Nela os poetas são livres
(A noite desconhece a gramática e suas prisões).
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Fora da lei
A sorte do advogado
É essa gente que vive
A torto e a direito
Mais a torto e
Quase sem Direito.
É essa gente que vive
A torto e a direito
Mais a torto e
Quase sem Direito.
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Ilha solteira
As tuas bermudas
Guardam o triângulo
Que consome
Todo meu juízo.
Guardam o triângulo
Que consome
Todo meu juízo.
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