Eis o Sábio
Que vaga pelos escuros
E sussurra para os que não dormem:
Não vos canseis à toa...
Tudo é ilusão.
Gastamo-nos nas inutilidades
E vemos nelas somente vaidades.
Observai, o próximo minuto
É tão cheio de incertezas
Quanto o é a eternidade.
Viveremos o próximo minuto?
E até que ponto da eternidade?
A tolice dos homens nos diz
Que é possível uma eternidade
Para nós, e também para os tolos.
Porém, a ilusão da eternidade não vai além
Dos vossos últimos suspiros e da cova do cemitério.
O que sabemos desde que deixamos o ventre de nossa mãe?
Apenas que estamos no tempo de viver.
O que vem antes, o que vai depois, quem sabe?
A eternidade só parece possível
Para o espírito ou energia.
Não sabemos nos medir em energia,
Não nos reconhecemos como espírito.
Não corrais atrás do vento...
Tudo é vaidade.
O homem é vaidade.
A matéria morre;
A energia vive.
Trabalhei para gastar o tempo,
Tive a ciência para gastar o tempo,
Tive a arte para embelezar o tempo,
Nada valeu. O tempo gastou-me nessas vaidades.
No trabalho apenas vi o refazer constante
Das tolices que damos tanto valor.
Ganhei dinheiro com essas tolices
Para alimentar mais vaidades.
Construí uma casa para me guardar do frio,
Para me guardar do sol, para me guardar do ladrão.
Ergui um templo para meu Deus e nele guardei meu espírito,
E descobri que a casa e o templo só guardavam vaidades.
Vi o Sol nascer todos os dias,
O Sol se pondo todos os dias,
O rio correndo todos os dias,
O vento soprando todos os dias
E se me faltarem os dias?
Tudo continuará como é:
O Sol a nascer,
O Sol se pondo,
O rio correndo,
O vento soprando...
Tudo como foi, é e será.
Nada é novo,
Mas mesmo assim
Olhamos para o mar,
Esperando um mar novo;
Olhamos para o homem,
Esperando um homem novo;
Escutamos palavras,
Querendo uma palavra nova;
Ouvimos um som antigo,
Esperando uma música nova.
Tudo se afadiga,
Menos nossos tolos desejos,
Nossas tolas vaidades.
O Sol ilumina a Terra
Para que possamos ter
Em nossa ciência
A incapacidade da vaidade.
Tudo que há abaixo do Sol
Existe e nossos espíritos
Não alcançam suas verdades.
A ciência limitada em nossas cabeças
Apenas nos faz aborrecer,
Pois ela também é vaidade.
Talvez o prazer fosse nosso significado
E mesmo o prazer não passa de vaidade.
Ao sabermos condenados à morte
Do que nos serve o riso? Do que nos serve o choro?
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo:
A morte é caminho que devemos percorrer,
Todos nós, um dia, dela ganharemos passagem.
Para onde nos levará ninguém sabe;
A certeza é que ela não admite bagagem.
Sensato, portanto, acumular apenas aquilo que nos dê boa velhice,
Tenhamos apenas o suficiente para comer, beber e nos divertir.
Tende filhos para que eles se lembrem de vossos ancestrais,
Mas não deixeis muito para que eles não se esforcem,
Mas nem pouco para que padeçam e vos amaldiçoem.
Trabalhai o necessário,
Amai o necessário,
Tende um Deus necessário,
E sede necessários.
Tudo além disso é vaidade, nada mais do que vaidade.
O trabalho e a diversão nos distraem da morte.
O amor nos liberta da carne
E Deus nos dá esperança.
Mas sem excessos.
Do contrário
Sereis escravos,
Sereis amargos,
Sereis fanáticos.
Não espereis a generosidade nos homens
E a justiça em sua política.
Mas dai de coração e sede justos.
É melhor ter um coração alegrado pela bondade
E um espírito banhado na justiça
Do que perder o sono e temer a hora da morte.
Não prometais nada
Nem a vosso irmão
Nem a Vosso Deus.
Pois, a vida só nos promete a morte
E ela pode nos quebrar a promessa.
Não ameis a matéria
O amor vem do espírito
E no espírito deve ter refúgio.
O amor fora do espírito não é amor;
É desejo, é posse, é dominação, é doença e aflição.
Ao andar pela noite do tempo,
Vi que a bondade e a maldade nascem da mesma árvore.
Ao esticar o braço para alcançar esses frutos,
Senti gastar-me no mesmo trabalho.
Ao alimentar-me do mal,
Senti que me faltava o sono e sobravam-me os pesadelos.
Ao alimentar-me do bem,
Senti que dormia tranqüilo e tinha bons sonhos.
O que é mais sensato neste tempo de viver?
Só o tolo se alimenta da maldade e da vaidade.
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo.
----------------
(Livre interpretação do Eclesiastes)
Que vaga pelos escuros
E sussurra para os que não dormem:
Não vos canseis à toa...
Tudo é ilusão.
Gastamo-nos nas inutilidades
E vemos nelas somente vaidades.
Observai, o próximo minuto
É tão cheio de incertezas
Quanto o é a eternidade.
Viveremos o próximo minuto?
E até que ponto da eternidade?
A tolice dos homens nos diz
Que é possível uma eternidade
Para nós, e também para os tolos.
Porém, a ilusão da eternidade não vai além
Dos vossos últimos suspiros e da cova do cemitério.
O que sabemos desde que deixamos o ventre de nossa mãe?
Apenas que estamos no tempo de viver.
O que vem antes, o que vai depois, quem sabe?
A eternidade só parece possível
Para o espírito ou energia.
Não sabemos nos medir em energia,
Não nos reconhecemos como espírito.
Não corrais atrás do vento...
Tudo é vaidade.
O homem é vaidade.
A matéria morre;
A energia vive.
Trabalhei para gastar o tempo,
Tive a ciência para gastar o tempo,
Tive a arte para embelezar o tempo,
Nada valeu. O tempo gastou-me nessas vaidades.
No trabalho apenas vi o refazer constante
Das tolices que damos tanto valor.
Ganhei dinheiro com essas tolices
Para alimentar mais vaidades.
Construí uma casa para me guardar do frio,
Para me guardar do sol, para me guardar do ladrão.
Ergui um templo para meu Deus e nele guardei meu espírito,
E descobri que a casa e o templo só guardavam vaidades.
Vi o Sol nascer todos os dias,
O Sol se pondo todos os dias,
O rio correndo todos os dias,
O vento soprando todos os dias
E se me faltarem os dias?
Tudo continuará como é:
O Sol a nascer,
O Sol se pondo,
O rio correndo,
O vento soprando...
Tudo como foi, é e será.
Nada é novo,
Mas mesmo assim
Olhamos para o mar,
Esperando um mar novo;
Olhamos para o homem,
Esperando um homem novo;
Escutamos palavras,
Querendo uma palavra nova;
Ouvimos um som antigo,
Esperando uma música nova.
Tudo se afadiga,
Menos nossos tolos desejos,
Nossas tolas vaidades.
O Sol ilumina a Terra
Para que possamos ter
Em nossa ciência
A incapacidade da vaidade.
Tudo que há abaixo do Sol
Existe e nossos espíritos
Não alcançam suas verdades.
A ciência limitada em nossas cabeças
Apenas nos faz aborrecer,
Pois ela também é vaidade.
Talvez o prazer fosse nosso significado
E mesmo o prazer não passa de vaidade.
Ao sabermos condenados à morte
Do que nos serve o riso? Do que nos serve o choro?
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo:
A morte é caminho que devemos percorrer,
Todos nós, um dia, dela ganharemos passagem.
Para onde nos levará ninguém sabe;
A certeza é que ela não admite bagagem.
Sensato, portanto, acumular apenas aquilo que nos dê boa velhice,
Tenhamos apenas o suficiente para comer, beber e nos divertir.
Tende filhos para que eles se lembrem de vossos ancestrais,
Mas não deixeis muito para que eles não se esforcem,
Mas nem pouco para que padeçam e vos amaldiçoem.
Trabalhai o necessário,
Amai o necessário,
Tende um Deus necessário,
E sede necessários.
Tudo além disso é vaidade, nada mais do que vaidade.
O trabalho e a diversão nos distraem da morte.
O amor nos liberta da carne
E Deus nos dá esperança.
Mas sem excessos.
Do contrário
Sereis escravos,
Sereis amargos,
Sereis fanáticos.
Não espereis a generosidade nos homens
E a justiça em sua política.
Mas dai de coração e sede justos.
É melhor ter um coração alegrado pela bondade
E um espírito banhado na justiça
Do que perder o sono e temer a hora da morte.
Não prometais nada
Nem a vosso irmão
Nem a Vosso Deus.
Pois, a vida só nos promete a morte
E ela pode nos quebrar a promessa.
Não ameis a matéria
O amor vem do espírito
E no espírito deve ter refúgio.
O amor fora do espírito não é amor;
É desejo, é posse, é dominação, é doença e aflição.
Ao andar pela noite do tempo,
Vi que a bondade e a maldade nascem da mesma árvore.
Ao esticar o braço para alcançar esses frutos,
Senti gastar-me no mesmo trabalho.
Ao alimentar-me do mal,
Senti que me faltava o sono e sobravam-me os pesadelos.
Ao alimentar-me do bem,
Senti que dormia tranqüilo e tinha bons sonhos.
O que é mais sensato neste tempo de viver?
Só o tolo se alimenta da maldade e da vaidade.
O Sábio está quase sem voz.
Acordai aquele que dorme,
É mister escutá-lo.
----------------
(Livre interpretação do Eclesiastes)
Um comentário:
Muito verdadeiro e muito sábio! mas agora estou e trégua de final de ano!
Boas festas, Nandé!
Postar um comentário