sábado, 3 de abril de 2010

O desespero do tempo

O tempo é uma tola criação humana.
Nada do que existe, além do homem,
Consegue se medir em horas e séculos.

Terrificados com essa párvoa invenção,
Oramos a um Deus que guarda em si o tempo
E que se faz, assim, seu sempiterno dono.

Ao orar queremos esquecer do fruto interdito
Que nos deu o mais cru dos conhecimentos,
Aquele que nos mostra nossa bárbara condição.

Somos os registros dos futuros necrológios,
O ter e o haver contábil dos cemitérios.
Somos covas cravadas no tédio dos calendários.

Somos os vazios entre os ponteiros dos relógios.
Somos as lágrimas na ampola de clepsidra
Derramadas ao nos lembrarmos do coveiro.

O tempo é nosso manso e cruel algoz
E saber contá-lo - medi-lo e não vê-lo
Na sua fome feroz - é o nosso desespero.

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