terça-feira, 8 de março de 2011

Lembranças ao vento



Dei minhas lembranças ao vento,
As cinzas de cadáveres cremados
Na fornalha de uma vida toda.

Não vejo utilidade em guardar velharias
E digo, não há felicidade no lembrar.
Evoque agora uma coisa querida
E ela se lhe apresentará feliz,
Depois melancólica,
Depois impotência,
Depois tristeza...
Saudade,
Dor.

Todas as lembranças têm o germe da decadência.
Vivemos no tempo e o tempo avança,
As lembranças ficam, estacas espalhadas pelo caminho,
Marcos de um tempo que não é mais.

Toda lembrança guarda em si um arrependimento,
Porque deseja-se melhor sem poder ser novamente.
Aqui poderia ter feito isso,
Ali ter feito aquilo,
Acolá... Meu Deus, acolá poderia ter sido tão diferente.

O vento, meu bom amigo, carregou minhas lembranças
E por piedade deixou-me apenas uma para que louco não ficasse,
A lembrança de mim mesmo, a lembrança que diz quem sou
Neste tempo, neste instante - um cadáver vazio, leve,
Que corre atrás do vento tentando rever
As cinzas das esquecidas horas mortas.

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