quarta-feira, 9 de março de 2011

Paixão de pé quebrado


Rá, Rá, Rá! As paixões, senhores, as paixões!
Paixões são sonetos inacabados
Que surgem à Camões, metrificados,
Cadenciados, com flores rimados,
E que lá pelas tantas desandam claudicantes,
Manquinhos, manquinhos!

Rá, Rá, Rá! Riam senhores sensatos.
Rá, Rá, Rá! Riam senhores insanos,
Da incapacidade do poeta
De tentar dar fé e forma determinada
Àquela que já nasce predestinada
A tercetos melosos e ridículos!

Rá, Rá, Rá! Senhores,
Não há poeta no mundo,
Carpinteiro da palavra,
Capaz de dar um bom conserto ao pé quebrado,
Desfazer as trincas do soneto que teima em terminar
Em sofrimento, adeus, saudade ou mágoa,
Se todas as rimas anteriores
Estavam preparadas para o amor perpétuo,
Para a ventura vitalícia
E outras doces impossíveis delícias
De nossa romântica e apaixonada língua!

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