Para Irisbel Correia
Trago o coração em retalhosE grande vontade de juntá-los
Num enorme manto
Costurado com pontos curtos
Com fortes fios sintéticos
Com as duras linhas do tempo
Para tal, preciso dos alfinetes
Espetados no rasgado peito
Juntando pano com pano
Couro novo com a nova pele
Preciso da velha agulha
De alfaiate
Nalgum canto de mim
Esquecida
Vou juntar a esse pano a se tecer
Às antigas costuras de mau começo
E abandonadas
Por preguiça e desânimo
Incompreensão e orgulho
Terei assim colcha reformada
Cosida com as cicatrizes
De tantos amores
Que me ocupam a memória
Senil e falha.
Porém, será uma colcha triste
Pois não terá o colorido aleatório
Dos sentimentos todos
Vivos, inteiros e meninos
Será apenas a última mortalha
Que em derradeiro ato de desespero
Em louca e confusa costura
Tenta reviver o vivo das estampas várias
Que em retalhos desbotaram comigo.
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