quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Playboy ecológico

Filho de nobre e opulenta família
Que se limpava com notas de cem paus,
Quis o playboy preencher seu ócio,
Vácuo, que chamava vazio existencial.

Foi então que entrou para orgânico partido,
Para o Greenpeace, ongs et cetera e tal.
Iria defender as pobres plantinhas,
Seria um soldado do universo animal.

Um dia descobriu um pé de capim
Que cuidou de forma genial,
Com adubo orgânico, merda pura,
Uma boa e fina destilada bosta,
Cem por cento isenta de sal.

Mas, eis que num belo dia de Sol,
O rapaz de vazio preenchido
Encontrou o seu capinzal
Todo coberto de lagartos fedidos.

Ele ficou numa dúvida tremenda:
Deixaria os bichinhos comer o capim,
Ou daria fim aos invasores chatos?

Ruminou muito tempo assim pensando
No dilema que se lhe oferecia:
Não poderia matar os bichinhos
Mas também não podia
Deixar de lado o lindo matinho.

E por fim, pensando o mundo,
O soldado da natureza se descuidou...
E veio uma vaca magra e faminta
Que ao enxergar tão lindo pasto
Rápido e rapidinho não vacilou,
Comeu tudo e bem comido,
Inclusive os suculentos lagartos
Misturados ao estrume fresquinho
Arrancado de uma criação de patos.

O playboy chorou, chegou a se desesperar
Mas, depois, pensou um pouco
E achou que devia a vaca adotar.

Foi buscar para o bicho comida natural.
Mas, quando voltou ao mesmo local,
Viu crianças pobres e famélicas
Num churrasco improvisado,
A descarnar o magro animal.

O jovem soldado da natureza
Revoltado com a audácia da pobreza,
Foi à polícia denunciar a safadeza:

"Seu delegado, amigão do meu papai,
Escreva e bem escrito o que aqui vai:
Quero denunciar um crime hediondo,
Um crime violento e ambiental.
Uns pobres meninos, uns mortos de fome,
Comeram minha vaquinha,
Que se alimentara do lagarto,
Que se alimentara do capim,
Que se alimentara da bosta,
Cem por cento isenta de sal;
Quero deixar registrado,
Isso é crime inafiançável,
Prenda-os e os quebre de pau!"

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