quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Noite vadia

Atravessei ontem a cidade.
Gosto de fazer isso à noite,
Nesta hora somos inexatos
E inexata a cidade dorme.
Vi um jardim sem flores,
(É Primavera creio eu)
Árvores desfolhadas
E um cemitério sem almas.

(Estendi as mãos,
Buscava estrelas,
E as mãos tornaram-me
Molhadas de orvalho)

A rua, lá do Bom Retiro,
Tinha cheiro de jasmim.
Ao longe o som de um tiro
Tinha a claridão da morte.

(Pelo menos alguém dará vida ao cemitério)

Um cão tentou fazer-me em susto
Latiu, rosnou e depois calou-se.
Com certeza, para ele,
a pena não valia:
Latir para quem,
Se junto de mim nada havia?

Só, vadiei pela noite
Assustando os cães,
A cutucar o céu
Para ver se alguma estrela caía.

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