quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Cicuta, o colírio dos olhos

Na realidade - não leves em maldade -
Tu só podes existir reflexo nas retinas
Desses olhares vazios e entediados que perambulam mundo.
Mas, por sorte ou desespero,
Tu não tens importância para esse vulgo que vê apenas o que deseja ver.

Afinal, como existir de verdade
No olhar desta gente desnorteada que, apavorada, tenta esquecer do triste destino, da própria e inadiável morte, assistindo ao Big Brother e tendo na retina aquilo que jamais vai encostar o dedo?
Desta multidão que lava os dentes após ruminar o nada?

Como existir de verdade
Aos olhos desses pobres condenados
Que nunca vão entender, minimamente que seja, o existir?

Não penses, por isso,
Ser a cicuta o melhor colírio para tais globos oculares.
Não os tenhas em ódio.

Lembra:
Não é permitido ao homem
Deixar de ser somente porque vaza
Os olhos de quem o vê.

Ainda, lembra:
É a ignorância que mantém o juízo
De boa parte da humanidade.
Todos querem viver, mesmo que inutilmente,
Fazendo besteiras, colecionando ossos,
Estocando dinheiro... Todos querem
Ser a insanidade dentro da insanidade.

Assim são distraídos pelas inutilidades,
Porque pensar para eles
É vislumbrar a própria, a escura, e inevitável cova
E crê, essa não é uma boa imagem de companhia!

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