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quinta-feira, 31 de março de 2011
Manhã no sítio
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terça-feira, 29 de março de 2011
O que enfeita o mundo
Banha-te de água de cheiro,
Coloca teu vestido novo,
Aquele brinco esquecido
E vamos passear:
Ver este mundo doido,
Agora meio sem graça,
Com sua carranca cansada
De tanto mal, de tanta calamidade.
E não esqueças de teu sorriso!
Algo na paisagem, minha bela,
Há de ser alegre, contente.
Vou contigo,
Cansei da minha janela.
Nela o mundo é melancólico,
Chove todo dia
E as gentes que por ela passam
São banhadas pela tristeza
Que cai do céu de meus dias.
Vem, dá-me a tua mão,
Preciso que alguém me guie
Pelas ruas tomadas de monotonias.
Preciso de tua companhia
Para reconhecer o que esqueci:
As simplicidades, as banalidades;
E em mim, aquele velho menino
A ver em tudo o novo, novidades.
Vem, a rua é convite para teu cheiro bom,
Para teu vestido colorido, para teu doirado brinco...
Vem, o mundo precisa se enfeitar de ti.
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sexta-feira, 25 de março de 2011
Na multidão
Malditas são as tardes que se copiam
Em desdéns infinitos ao roubarem-me as horas.
Mas, bendita é esta tarde em que te descubro
No meio da multidão.
És a minha novidade do dia,
Talvez, da vida toda,
A beleza misturada a tantas caras óbvias.
Infelizes são os miseráveis
Que não conseguem segurar
Os ponteiros do relógio!
Tu passas e perco-te na procissão
Dos que procuram a felicidade
No andar para não sei qual destino.
Na tarde que se finda já triste, triste
Sem tua presença
Os passos do tédio minha carcaça levam,
Suada e sedenta da vida
Que contigo carregas.
Em desdéns infinitos ao roubarem-me as horas.
Mas, bendita é esta tarde em que te descubro
No meio da multidão.
És a minha novidade do dia,
Talvez, da vida toda,
A beleza misturada a tantas caras óbvias.
Infelizes são os miseráveis
Que não conseguem segurar
Os ponteiros do relógio!
Tu passas e perco-te na procissão
Dos que procuram a felicidade
No andar para não sei qual destino.
Na tarde que se finda já triste, triste
Sem tua presença
Os passos do tédio minha carcaça levam,
Suada e sedenta da vida
Que contigo carregas.
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Na multidão te perdi
segunda-feira, 21 de março de 2011
A reza da menina beata
- Que fazes aí, neste cantinho,
Igual a passarinho em dia frio,
Toda encolhidinha, pensativa?
- Rezo, meu padrinho!
- Mas, por dois dias seguidos?
- E tem mais, meu padrinho...!
- Mais reza ainda!?
- É que meu Santo é surdinho!
- Surdo!?
- Não me ouve não!
- E o que tu pedes?
- Um dia sem sofrimento no mundo!
- Rezarás muito, então! Isso, minha filha,
Nem gritando, nem com megafone;
Peça coisa mais fácil,
Caminhar sobre as águas,
Multiplicar pães e peixes,
Curar os doentes,
Ressuscitar os mortos, por exemplo!
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terça-feira, 15 de março de 2011
Tropeço na manhã de Curitiba
A cidade acorda cedo,
- Quiçá nem dormiu! -
Padaria na esquina,
Crianças na escola,
Ônibus, carros, buzinas...
E um corpo na calçada...
Viaturas da polícia,
Área isolada, curiosos
E trânsito desviado.
"Quem ali morreu?"
Ninguém sabe.
"Por qual motivo?"...
"Foi tiro!", grita a mulher
Que para, olha e logo segue.
"Não, foi facada!", chora a moça
De cabelo oxigenado.
Passo ao largo
Ignorando o corpo que dorme
E ousou compor a manhã
De quem seguia pela rua
Pensando na vida,
Mastigando o nada...
De quem apenas seguia
Seu defunto destino
E tropeçou num morto.
- Quiçá nem dormiu! -
Padaria na esquina,
Crianças na escola,
Ônibus, carros, buzinas...
E um corpo na calçada...
Viaturas da polícia,
Área isolada, curiosos
E trânsito desviado.
"Quem ali morreu?"
Ninguém sabe.
"Por qual motivo?"...
"Foi tiro!", grita a mulher
Que para, olha e logo segue.
"Não, foi facada!", chora a moça
De cabelo oxigenado.
Passo ao largo
Ignorando o corpo que dorme
E ousou compor a manhã
De quem seguia pela rua
Pensando na vida,
Mastigando o nada...
De quem apenas seguia
Seu defunto destino
E tropeçou num morto.
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quinta-feira, 10 de março de 2011
A taquígrafa
Era modesta taquígrafa
Nas ventanias dos tribunais
E ao anotar as longas falas
Das testemunhas arroladas
Em processos de morte,
Lamentava secretamente
Não poder em tinta descrever
O que lhe ia entre os dentes,
Entre a garganta e o ventre,
As ignomínias que engolia.
Ali, perante togados,
Escrevia de olhos fechados
Quando uma ré chorava
E no choro revelava
Que matara por amor...
E depois tentara suicídio
Tomando formicida.
E de tanto escutar aquilo
Em tantas histórias iguais,
Inventou novo símbolo
Para o nome dos réus
Homicidas do amor:
Uma bolinha com patinhas
A imitar doida formiga.
E para as vítimas amadas e mortas,
Desenhava uma gota d'água
Simplória como uma lágrima
De quem ousou amar na vida.
Nas ventanias dos tribunais
E ao anotar as longas falas
Das testemunhas arroladas
Em processos de morte,
Lamentava secretamente
Não poder em tinta descrever
O que lhe ia entre os dentes,
Entre a garganta e o ventre,
As ignomínias que engolia.
Ali, perante togados,
Escrevia de olhos fechados
Quando uma ré chorava
E no choro revelava
Que matara por amor...
E depois tentara suicídio
Tomando formicida.
E de tanto escutar aquilo
Em tantas histórias iguais,
Inventou novo símbolo
Para o nome dos réus
Homicidas do amor:
Uma bolinha com patinhas
A imitar doida formiga.
E para as vítimas amadas e mortas,
Desenhava uma gota d'água
Simplória como uma lágrima
De quem ousou amar na vida.
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Sonho novo
Pelo peso de alheios pesadelos.
Toneladas desceram sobre eles
Por propósito de quem não sonha.Em que eu me reconheça vivo
Numa manhã morna e calma
Banhada em silêncios e esperança.
Quero nele amores impossíveis
Ardentes beijos antes da cama
Noutra alma quente e inquieta.
Quero nele as manhãs nunca notadas
Todos os dias que me foram esquecidos
E a vida que desejei e me foi negada.
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quarta-feira, 9 de março de 2011
Paixão de pé quebrado
Rá, Rá, Rá! As paixões, senhores, as paixões!
Paixões são sonetos inacabados
Que surgem à Camões, metrificados,
Cadenciados, com flores rimados,
E que lá pelas tantas desandam claudicantes,
Manquinhos, manquinhos!
Rá, Rá, Rá! Riam senhores sensatos.
Rá, Rá, Rá! Riam senhores insanos,
Da incapacidade do poeta
De tentar dar fé e forma determinada
Àquela que já nasce predestinada
A tercetos melosos e ridículos!
Rá, Rá, Rá! Senhores,
Não há poeta no mundo,
Carpinteiro da palavra,
Capaz de dar um bom conserto ao pé quebrado,
Desfazer as trincas do soneto que teima em terminar
Em sofrimento, adeus, saudade ou mágoa,
Se todas as rimas anteriores
Estavam preparadas para o amor perpétuo,
Para a ventura vitalícia
E outras doces impossíveis delícias
De nossa romântica e apaixonada língua!
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terça-feira, 8 de março de 2011
Lembranças ao vento
Dei minhas lembranças ao vento,
As cinzas de cadáveres cremados
Na fornalha de uma vida toda.
Não vejo utilidade em guardar velharias
E digo, não há felicidade no lembrar.
Evoque agora uma coisa querida
E ela se lhe apresentará feliz,
Depois melancólica,
Depois impotência,
Depois tristeza...
Saudade,
Dor.
Todas as lembranças têm o germe da decadência.
Vivemos no tempo e o tempo avança,
As lembranças ficam, estacas espalhadas pelo caminho,
Marcos de um tempo que não é mais.
Toda lembrança guarda em si um arrependimento,
Porque deseja-se melhor sem poder ser novamente.
Aqui poderia ter feito isso,
Ali ter feito aquilo,
Acolá... Meu Deus, acolá poderia ter sido tão diferente.
O vento, meu bom amigo, carregou minhas lembranças
E por piedade deixou-me apenas uma para que louco não ficasse,
A lembrança de mim mesmo, a lembrança que diz quem sou
Neste tempo, neste instante - um cadáver vazio, leve,
Que corre atrás do vento tentando rever
As cinzas das esquecidas horas mortas.
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segunda-feira, 7 de março de 2011
Samba da lua
Eu te chamei, minha Preta,
Para ver o luar,
Para ver a Lua, nega,
Cenário para se amar.
Senta aí e te assossega
Isso não passa na TV,
A Lua é que nos carrega
Ao mundo que não se vê.
A Lua escreve poesia,
Que o poeta lê, interpreta,
E faz da vida fantasia
No prata que nos empresta.
Sinta o luar, minha Preta,
Enquanto a Lua por ti brilhar,
Pois amanhã, minha nega,
Ela pode nos faltar.
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Guerra íntima
Lutamos externamente e ignoramos
A mais titânica guerrilha dentro de nós.
Nascemos lutando a batalha perdida,
Com a derrota anunciada, devorados
Pelos germes e micro-organismos virais,
Soldados e generais da ruina que nos habita.
Nunca ninguém vencerá a guerra consigo,
Porque nesta peleja se morre todo dia.
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sábado, 5 de março de 2011
Monstra
Maldita
Maldita e sem alma
Monstra
Zumbi de pesadelos
Pensas
Que me metes medo
????
Que me tens em ti preso
Medonha
Saudade, tu és triste
Saudade
Medonha e triste
Assustadora
Triste e medonha saudade.
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