sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ramo de arruda

"Menino, vá se benzer!", mandavam-me.

E o benzedor, preto e velho,
Morava numa casa de madeira
Lá no fundo de um enorme quintal
Simples, simples de dar pena.

Na sala, imagens santificadas,
No canto, uma velha moringa,
Água para deixar bento
Tudo que andava errado.

Na mesa, sem toalha, sem comida,
De madeira bruta e desnuda,
Um ramo de arruda
Para tirar quebranto.

E eu, criança de tudo,
Acompanhava com curiosidade
A ladainha que o homem rezava
Ao falar sinceramente com Deus.

E eu, restrito ao silêncio meu,
Buscava lógica naquele ritual
Que me deixava tão bem,
Tão em sintonia com as coisas do Céu.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Ao falar sinceramente com Deus"

A maior qualidade de todas. Tão perto...

"tão em sintonia com as coisas do céu"

Anônimo disse...

"Buscava lógica naquele ritual"

Luz.