À frente, lá onde a vista se perde
O caminho que advém é impreciso.
Mas, só Deus e os anjos sabem
Que para sentir o que agora sinto
O quanto foi preciso caminhar.
Acertei o passo, andei mansinho,
Às vezes, com o corpo aprumado,
Às vezes, com o coração avoadinho.
Sinta as dores e quanta poeira
Que sobre os meus ombros trago:
E estas mãos cheias de adeuses
E nos olhos quantas saudades.
Mas, deixe que eu lhe diga
Baixinho, no ouvido,
Para que ninguém dele possa escutar:
Já tive medo! Medo de continuar.
Hoje, sei que do havido só o silêncio fica.
No fundo, todo medo é medo de sofrer:
O silêncio é o solitário vagido grito
Do destino, canção fúnebre do viver.
(Tolo, penso que a felicidade
Um dia pode me ver,
Cruzar meu caminho
E meus lábios de leve roçar.)
Por isso, sigo adiante
Porque sempre é preciso
Dar sentido a essas pernas
Imprecisas no caminhar.
Sei que estou cansado
E que um dia devo parar
Mas, permita-me, Deus meu,
Entre um passo e outro, rezar.
Rezar apenas... Apenas rezar...
Rezar pelos meus inimigos,
Pelo que ignoro e não sei,
Pelo que vi de maldade,
E por tudo que já chorei.
Permita-me continuar
Ainda hoje, meu Deus,
Seguindo por este mundo,
Moribundo e gasto pela vida.
E quando meu corpo ganhar descanso,
Ou quando minh'alma for desatinada,
Que o Senhor seja sempre o bom amparo
E bendita luz na noite da nova jornada.
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