sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Versos livres


Há aqueles caídos do Céu
Há aqueles no Inferno moldados
Há versos de todo tipo
Que, porém, precisam ser talhados

Pode ser um verso medido
Na métrica de Vergílio ou
Na tristeza de Ovídio exilado

Para o verso não há modelo
Pode ser um verso com rima
Sem pé, sem ritmo, sem apelo

Pode ser um
ver
so
caído
e
Tor
to
Feito e maltratado
Rabiscado e desfeito

Não é bárbaro rimar no verso paixão,
Alegria que se faria e dor que se tem,
Do coração vale o que está guardado

Lembre-se, não há verso amarrado
Mesmo que nascido na academia
Mesmo que vivo na voz do matuto

Verso também não carece de tamanho
Pode ser gordinho como um hipopótamo
Pode ser denso como um paralelepípedo

Verso não precisa de salamaleques
Ponto, ponto e vírgula, hífen, coma
Pois, a pausa feita é d'alma a oferta

Certa coisa é fundamental e certa
Para se ter um verso verdadeiro
Há de se ter um poeta por inteiro
Que faça da língua canto e alerta

Por isso, aos novos poetas digo

Cantem bardos escravos
Cantem homens perdidos
A vida só nos reserva os cravos
Que vazaram as mãos do Cristo

Aqui expiamos nossos pecados
Aqui exercitamos nossos vícios
No verso, que é a cruz do apenado,
Ofício belo, alegria e sacrifício.

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