quarta-feira, 14 de julho de 2010

Maltratos do tempo



A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus.
Vinicius de Moraes

Desejo tolo,
Impossível e tolo,
Vê-la novamente
Na mesma juventude,
Em igual meninice
Que hoje é perdida
Na noite dos anos.

O tempo nos maltratou
Tanto, tanto e tanto quanto
A leve água em velha rocha
Mortificada na areia fina.

Somos gastos, este é o fato
E para isso não há conserto
Ou salvadoras cirurgias plásticas.
Reforma-se a pele,
Jamais a alma em andrajos.

De resto, o que nos resta,
É o desespero
Contra essa ordem
Violentamente natural:
Todo nascer
É o princípio da decadência
E beber da vida é morrer
Num requinte perverso,
Lentamente, aos golinhos.

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